domingo, 3 de julho de 2011

Coisas de amigos


Tinha-se perdido de si mesma, mas a sua amiga sempre soubera qual era o lugar dela, o valor dela e não saiu de perto enquanto ela não voltou a reconhecer-se através do olhar da amiga, do seu afecto; primeiro, ela era só um punhado de dúvidas, depois foi sendo capaz de reconhecer os seus contornos, naquilo que a sua amiga lhe dizia e, mais além, preenchendo esses contornos com bocados de vida sua; foram tempos em que, “cega” a si própria, se foi buscar ao interior de quem a fazia existir, de quem a fazia existir tão perto do que era ela. E a amiga nunca saiu de lá, sempre a fazê-la sentir o valor que a vida dela tinha, o quanto ela era valiosa, nunca saiu de lá até estar segura de que ela já se reconhecera e já se encontrara; aí sim, sabia que, embora ainda “descalça”, iria fazer caminho. Nunca saiu de lá; mesmo agora, que voltava.

Maria João Saraiva (in Até mim: Vivência da Psicanálise)

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