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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

O Elefante Acorrentado


"Quando eu era pequeno, adorava o circo e aquilo de que mais gostava eram os animais. Cativava-me especialmente o elefante que, como vim a saber mais tarde, era também o animal preferido dos outros miúdos. Durante o espectáculo, a enorme criatura dava mostras de ter um peso, tamanho e força descomunais… Mas, depois da sua actuação e pouco antes de voltar para os bastidores, o elefante ficava sempre atado a uma pequena estaca cravada no solo, com uma corrente a agrilhoar-lhe uma das suas patas. No entanto, a estaca não passava de um minúsculo pedaço de madeira enterrado uns centímetros no solo. E, embora a corrente fosse grossa e pesada, parecia-me óbvio que um ani­mal capaz de arrancar uma árvore pela raiz, com toda a sua força, facilmente se conseguiria libertar da estaca e fugir.
O mistério continua a parecer-me evidente. 
O que é que o prende, então? Porque é que não foge?
Quando eu tinha cinco ou seis anos, ainda acreditava na sabedoria dos mais velhos. Um dia, decidi questionar um professor, um padre e um tio sobre o mistério do elefante. Um deles explicou-me que o elefante não fugia porque era amestrado.
Fiz, então, a pergunta óbvia:
— Se é amestrado, porque é que o acorrentam?
Não me lembro de ter recebido uma resposta coerente. Com o passar do tempo, esqueci o mistério do elefante da estaca e só o recordava quando me cruzava com outras pessoas que também já tinham feito essa pergunta. Há uns anos, descobri que, felizmente para mim, alguém fora tão inteligente e sábio que encontrara a resposta:
O elefante do circo não foge porque esteve atado a uma estaca desde que era muito, muito pequeno.
Fechei os olhos e imaginei o indefeso elefante recém-nascido preso à estaca. Tenho a certeza de que naquela altura o elefantezinho puxou, esperneou e suou para se tentar libertar. E, apesar dos seus esforços, não conseguiu, porque aquela estaca era demasiado forte para ele. Imaginei-o a adormecer, cansado, e a tentar novamente no dia seguinte, e no outro, e no outro… Até que, um dia, um dia terrível para a sua história, o animal aceitou a sua impotência e resignou-se com o seu destino. Esse elefante enorme e poderoso, que vemos no circo, não foge porque, coitado, pensa que não é capaz de o fazer. Tem gravada na memória a impotência que sentiu pouco depois de nascer. E o pior é que nunca mais tornou a questionar seriamente essa recordação. Jamais, jamais tentou pôr novamente à prova a sua força."

Jorge Bucay in “Deixa-me que te conte. Os contos que me ensinaram a viver”

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Lendo nas entrelinhas


A leitura é actualmente considerada uma ferramenta insubstituível e indispensável, que permite aos indivíduos aceder, vida fora, a uma grande quantidade de experiências e conhecimentos. É primordial no processo de aprendizagem e no sucesso escolar/profissional e, como tal, os estudos sobre esta competência têm surgido e proliferado significativamente nas últimas décadas, conduzindo inclusivamente a algumas medidas que revelam, pelo menos, alguma sensibilidade ao tema, como, por exemplo, a implementação do Plano Nacional de Leitura (PNL).
Tornou-se imperativo, ao longo dos tempos, compreender os modelos de aquisição de leitura e os processos segundo os quais tudo acontece, bem como analisar as metodologias de ensino à luz desse conhecimento, de modo a poder agir mais adequadamente. De uma maneira geral, os estudiosos realçam de forma unânime a existência de duas vertentes na leitura: a descodificação e a compreensão. O que caracteriza o processo de descodificação é o conhecer e distiguir visualmente e auditivamente as letras, relacioná-las com os sons que representam, juntar grafemas formando palavras e identificá-las e pronunciá-las como entidades globais. Em suma, a descodificação implica a transformação dos grafemas em fonemas, identificando e reconhecendo palavras utilizadas correntemente na comunicação entre indivíduos. Por sua vez, a leitura de compreensão é um processo posterior à descodificação e, ainda, bem diferente nas suas características e objectivos. O objectivo é permitir ao indivíduo ler palavras, frases e textos, para lhes extrair um significado, interpretando, apreciando e servindo-se da sua mensagem para adquirir e criar conhecimento. As palavras deixam de ser consideradas e interpretadas isoladamente, e passam a ser perspectivadas como partes integrantes da frase e do texto, onde têm a sua função e adquirem significado específico. Assim que dominamos as técnicas de descodificação, pômo-las, agora, ao serviço da compreensão da mensagem escrita, que depende, também, do nosso desenvolvimento linguístico e capacidades cognitivas.
As dificuldades na aquisição da leitura continuam a ser uma das principais causas das retenções no 1º Ciclo (e do encaminhamento dos alunos para Serviços de Psicologia e Orientação). Este insucesso influencia, por vezes de uma forma decisiva, a aprendizagem em inúmeras outras áreas disciplinares, para as quais o domínio desta competência é fundamental. Não raras vezes condiciona o percurso escolar do aluno e, consequentemente, desencadeia e alimenta um conjunto de efeitos negativos, como o desinvestimento face à aprendizagem, problemas comportamentais e afectivos. E assim sendo, é necessário que estas situações sejam sinalizadas e avaliadas de forma a desenvolver intervenções eficazes e contornar, de raiz, uma das principais causas do insucesso escolar.