Eis o estranho e o medo, tão mal amados. Porém, sem o
estranho e sem o medo, permanecemos na repetição do familiar — do que já
conhecemos, do que já sabemos, do que nos mantêm confortáveis. Conforto é
seguro, é gostoso e é preciso; mas é o desconforto que nos ensina tudo o resto.
Tudo o que não conhecemos, tudo o que não sabemos, tudo o que pode, um dia,
deixar-nos igualmente confortáveis, mas de outra maneira: nova. E é o novo que
nos acrescenta. Vamos abrir os braços ao estranho, vamos olhar de frente o medo,
e descobrir o que acontece depois.
Transformação é a palavra-chave. Na vida ou há desenvolvimento ou instala-se a decadência. O estacionamento é uma ilusão. Nas palavras de Cervantes, “A estrada é sempre melhor que a estalagem” (António Coimbra de Matos)
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sexta-feira, 22 de julho de 2016
O Estranho e o Medo
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segunda-feira, 21 de março de 2016
terça-feira, 24 de novembro de 2015
O Homem na Arena
![]() |
Arena de Pula, Croácia |
"Não é o crítico que importa; nem
aquele que aponta onde foi que o homem tropeçou ou como poderia ter feito
melhor. O crédito pertence ao homem que está na arena, cujo rosto está manchado
de pó e suor e sangue; que luta com bravura; que erra, que desaponta uma e
outra vez, porque não há esforço sem erros e decepções; mas que, na verdade, se
empenha nos seus feitos; que conhece grandes entusiasmos, as maiores paixões; que
se entrega a uma causa digna; que, no melhor dos casos, conhece por fim o
triunfo da grande conquista e, no pior, se fracassar, fracassa ousando
grandemente (...)"
— Theodore Roosevelt
quarta-feira, 8 de julho de 2015
quarta-feira, 1 de julho de 2015
O Viver Criativo
Uma
flor pode ser apenas uma flor ou pode ser uma flor que eu decidi usar para um
fim qualquer. Por isso, essa flor destaca-se de todas as outras e eu crio uma
relação com ela diferente de todas as outras. Num certo sentido, eu “criei”
aquela flor (naquilo que ela representa para mim e que não representa para mais
ninguém). Ela torna-se símbolo de algo. Ficará embebida numa emoção, numa memória,
num pensamento ou sensação. Sobre a sua rosa, dizia o principezinho às outras
rosas: “Claro que para um transeunte qualquer, a minha rosa é perfeitamente
igual a vocês. Mas, sozinha, vale mais do que vocês todas juntas porque foi a
ela que eu reguei.” Isto é a atribuição de subjectividade ao mundo objectivo e chamamos-lhe
o “viver criativo”. Ou, de uma forma mais simples, o brincar.
Há
esta ligação a preservar, entre a vida objectiva (a realidade compartilhada) e
a nossa vida subjectiva (a minha leitura da realidade). O grito de uma gaivota
pode ser (e é) apenas o grito de um gaivota, aquele grito ouvido no mesmo
preciso momento por uma centena de pessoas, mas é também, para mim e só para
mim, o trampolim para emoções, memórias, pensamentos e sensações; passadas,
presentes ou futuras. Talvez, então, aquilo que mais dá significado à nossa
vida seja essa arte do “viver criativo”, “brincando” com uma flor, o grito de
uma gaivota ou uma pedra no caminho. É o dom de transformar um mundo que já
existe. Transformá-lo, na perspectiva em que uma coisa passa a significar outra
coisa, simultaneamente objectiva e subjectiva: muito mais rica de simbolismo e
de substância.
Quando
a vida é demasiado concreta, falta significado às coisas. Falta viver criativamente.
Reinventar o mundo e, através disso, reinventarmo-nos. O viver criativo cresce
em nós, desde pequenos, se temos a possibilidade de brincar. Quando brincamos,
nada é o que é: um mata-moscas pode ser uma arma, uma formiga pode ser um
soldado, um caldo de folhas e flores pode ser uma sopa. Nesse espaço
transicional entre o que é e o que pode ser, vive-se criativamente. E essa arte
permanece por toda a vida.
O
viver criativo é a poesia do quotidiano. É abrir os olhos para o estético e para
o sensível e deixá-lo ligar-se ao concreto. É também e ainda, possibilidades
sem fim. É expansão pois, no limite, nada jamais se repetirá: chegamos ao mais
importante, todas as relações de amor podem ser diferentes todos os dias. Viver
criativamente é perceber essa potencialidade em todas as coisas. E na nossa
experiência, na nossa interioridade, nada será apenas aquilo que é, mas será sempre
uma espaço de transição entre o que é e o que pode ser. E que seja um lugar
onde fomos, ou poderemos ainda ser, mais felizes.
terça-feira, 23 de junho de 2015
Conformismo, Acomodações e Outras Histórias
I)
— “Conformei-me”,
disse-me.
Quando o conheci, parecia condenado. No
rosto, a ausência de esperança, na alma, a incapacidade de se afirmar senhor do
seu destino. Como mente bem, o Homem. Como se engana a si mesmo.
Como se defende e se justifica perante si próprio, como se ilude e finta o
julgamento que faz de si todas as noites. Como tenta não se olhar de frente no
espelho quando receia reconhecer ali os seus medos e incapacidades. Como quer esconder da sua alma que não foi
capaz de lutar por ela. Dói, o remorso. Dói, a impotência. Dói, o medo. Mas, no
íntimo mais íntimo de nós, sabemos.
— Conformaste-te
ou tens medo?
— Tenho medo. Eu
tentei mas era sempre tão difícil. Fui desistindo. Eu sonhava mas deixei de
sonhar. Conformei-me.
— O medo fez com que te conformasses e por te conformares abriste
caminho ao medo. O medo come tudo. Foi precisamente isso que te enfraqueceu. A
incapacidade de “continuar a ser”.
Por cada momento em que
nos falha a possibilidade de “ser” ou a coragem de “continuar a ser” matamos um
pedaço de nós. Ficamos mais frágeis e mais perdidos a cada “derrota” percebida.
E a cada batalha que recuamos, sabemos menos quem somos.
II)
— “Não sei porque me acomodei, disse-me.
A história repete-se. Quando a conheci era uma mulher, sobretudo, confusa. Não tinha ainda consciência
de que tinha deixado, há demasiado tempo, de ser feliz.
— Tu sentias mas acho que só agora consegues pensar sobre isso.
— Sim, eu já sabia. Eu sentia-me só mas não quis ver. E isso
deixa-me zangada. Comigo.
— Por cada pensamento
reprimido, por cada discussão adiada, por cada zanga amordaçada, por cada grito
silenciado, é um pedaço de ti que matas. Foi precisamente isso que te
enfraqueceu. A incapacidade de “continuar a ser”.
III)
Duas vidas. Várias vidas. O mesmo dia. O mesmo medo. O
medo de se permitir ser pessoa inteira. Como se faz? Por onde se vai? Então lembro-me do Alexandre O’Neill,
que sabia destas coisas do medo, companheiro da condição humana, e
contava, em parte, assim:
(…)
Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)
tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)
O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos (…)
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos (…)
IV) Ou não.
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sábado, 13 de junho de 2015
A pergunta do eterno retorno
Se pudéssemos repetir a nossa vida tal e qual como ela se desenrolou até hoje, desejaríamos fazê-lo? O sábio Zaratustra, de Nietzsche, vai mais além, e pergunta: “E se um dia ou uma noite um demónio fosse atrás de ti até à tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu a vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes; e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indizivelmente pequeno e de grande em tua vida há-de retornar.” Que sentiríamos?
A ideia de repetir ciclicamente a mesma vida,
passando por tudo da mesma exacta maneira, pode funcionar como um exercício
importante para questionarmos a direcção e o sentido que temos dado à nossa aparentemente curta existência. Embora uma existência em loop seja, por si só, assustadora, a melhor hipótese seria fazer dela o mais agradável possível. Então, se fosse
garantido o nosso eterno regresso, exactamente nos mesmos moldes que na actualidade,
até onde estaríamos dispostos a mudar coisas por forma a assegurarmo-nos de uma
eternidade feliz? É importante ir questionando se o nosso percurso tem sido
fundamentalmente prazeroso ou se é, pelo contrário, insatisfatório, ou mesmo
terrível. Quantos de nós amam a sua vida? Ao fazer este balanço, o
propósito não é mergulharmos em lamentações quanto ao que já passou mas sim
dirigir o olhar para o que ainda pode vir. Amar o seu destino ou, mais
adequadamente, criar um destino que sejamos capazes de amar.
Porém, nenhuma transformação positiva pode ter lugar se vivermos exclusivamente agarrados à ideia de que a
nossa vida é como é por forças exteriores a nós: azar, má sorte, karma, sina, fado ou destino. A pergunta de Zaratustra obriga-nos a olhar a forma como pensamos as responsabilidades. Percebemos que o perigo de depositar a
responsabilidade da nossa caminhada (e/ou da nossa insatisfação) no universo ou em qualquer outro exterior a nós mesmos, é que a situação poderá não
sair do impasse. Então, se o demónio de Zaratustra nos condenasse, hoje, ao eterno retorno, continuaríamos no mesmo exacto lugar, estado e formato em que nos encontramos? Sentiríamos contentamento e satisfação em regressar à nossa existência assim como a temos conduzido? Ou seria um sufoco? E se assim for, seríamos passivos ou activos? Quanto tempo mais permaneceríamos no mesmo lugar? Até quando ficaríamos à espera? Até onde aguentaríamos? E se, efectivamente, nada acontecer? Nenhum milagre, nenhuma reviravolta fácil, nenhum chamamento ou insight? E se só nós somos responsáveis pela vida que levamos e pelos
pilares que a sustentam? Transformaríamos a nossa vida, perseguindo sonhos, concretizando projectos, assumindo desejos? A liberdade de escolher fazê-lo é
nossa. E a responsabilidade de escolher não o fazer, também.
É desconfortável pensar estas questões. É duro sentir este peso da hipótese mais certa: em última análise, os agentes da nossa felicidade e infelicidade somos nós. Que terrível sermos o nosso próprio carrasco. Sim, é desconfortável, mas é, garantidamente, o caminho possível nisto que é o curso da nossa vida. Sem essa consciência, mínima, talvez passemos o tempo que nos sobra à espera de algum milagre. Pode chegar. Ou não. Entretanto, é importante irmos aferindo o que se passa cá dentro. É preciso ouvirmo-nos a nós mesmos, escutar
a voz que às vezes soa baixinho e que tantas vezes ignoramos (escondidos na ideia de
que não há volta a dar ou no medo de tudo e mais alguma coisa) para que, caso o dito demónio nos obrigue a regressar, a coisa seja o mais simpática possível. E mesmo que não regressemos, mesmo que seja "só" isto, não será igualmente crucial aproveitar o melhor possível?
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terça-feira, 3 de março de 2015
Elastic Heart
O coração é elástico, músculo que contrai e
expande, para nossa sorte. Foi feito assim para não se partir em mil bocados
com as lutas que se travam lá dentro. No ringue defrontam-se as partes de nós
que não se entendem. Varia a força do embate, do clássico braço de ferro ao
combate sujo e ensanguentado. Quanto ao resultado, há partes que ganham, há
partes que perdem, há empates técnicos, conforme os dias, as horas, os meses e
as estações do ano. Conforme a luz, a lua, os humores e os amores. Conforme
sabe-se-lá-o-quê porque isso afinal nem interessa e não há outro remédio senão
aguentar esses confrontos na arena do coração. Fazem parte. Onde não há
conflito, não há vida, nada se questiona, nada se transforma, nada se
acrescenta, nada se avança.
terça-feira, 30 de dezembro de 2014
Um pouco mais
O melhor do tempo que passa é a transformação que deixa. O
melhor de chegar ao fim do ano é sentirmo-nos e sabermo-nos diferentes do seu
início. Diferente não é nem melhor, nem pior, nem mais certo, nem mais errado.
Não se trata de um juízo de valor nem de uma corrida para
chegar a lado nenhum. Diferente é o que é: diferente. É um caminho. Um caminho
que se faz, fazendo. Que bom quando cada ano é um pouco mais. Um pouco mais de
vida, um pouco mais de mundo. Um pouco mais de história. Um pouco mais de
gargalhadas, de encontros, de lágrimas, de despedidas. Um pouco mais de Verão,
um pouco mais de Inverno. Um pouco mais de mim, um pouco mais dos outros, um
pouco mais de mim nos outros e um pouco mais dos outros em mim. Por vezes um
pouco mais de alegria e serenidade, outras vezes um pouco mais de angústia e
sofrimento. Seja o que for, é sempre e precisamente o contrário de estagnação.
É a constatação do fluxo constante da vida e dos seus vai-e-vens. Obrigado
2014! Que venha 2015!
sábado, 6 de setembro de 2014
Opinião só não muda quem não tem
Não é raro encontrarmos pessoas incapazes de
mudar de opinião mesmo quando os factos mostram que estão enganadas. Outras
vezes, não é raro observar-se alguma dificuldade em assumi-lo, quando acontece.
Há quem lhe chame teimosia. No entanto, não usamos palas como os burros e,
assim sendo, não precisamos de olhar só em frente, podendo utilizar a visão
periférica para alargar perspectivas. Tristemente, mudar de opinião está muitas
vezes associado a incoerência e a falhas de carácter, contrariamente à citação
de Mário Quintana que originou o título desta reflexão. É encarado como falta
de personalidade. Como se a personalidade não fosse ela mesma construída ao
longo do tempo. Como se o certo fosse mantermo-nos rígidos e formatados do
princípio ao fim. Como se, desde o nascimento até à morte, a vida não fosse um
processo de transformação e evolução constante.
Quantos educaram os seus filhos de uma forma e
hoje gostariam de os ter educado de forma diferente? Quantos começaram a sua
vida com determinados ideais políticos e hoje pensam de outra forma? Quantos alteraram
as suas crenças religiosas com o passar do tempo? Quantos se envolveram em
projectos pessoais e desistiram ao perceber que não iriam a lado nenhum? Ainda
bem que assim acontece.
Perante evidências de que aquilo em que
acreditamos não nos conduz a bom porto ou já não faz sentido, não é inteligente
permanecer no engano. Os factos são soberanos e frequentemente chega a hora de
revermos até as nossas mais caras convicções.
O apego exagerado às ideias faz-nos portadores de mentes endurecidas e
cristalizadas. O pensamento é uma função plástica e pobre daquele que fica
confinado a uma crença eterna e inquestionável.
Por vezes, essa mudança de pensamento parece difícil
de concretizar. São demasiadas resistências. Do latim resistentia, que significa oposição, obstáculo, reacção ou defesa. De facto,
defendemo-nos da maioria das mudanças. Externas e internas. Persistimos com
frequência, até porque temos uma certa tendência à repetição. E o familiar é
sempre mais confortável que o desconhecido.
Viver é ter incertezas. Percebemos o quão difícil isto pode ser, pois ao
abandonarmos as nossas antigas convicções, perdemos o referencial que sempre
nos guiou. E nem sempre dispomos imediatamente de conceitos novos e mais
adequados, ou seja, por um tempo, conviveremos com dúvidas. Se isto não me faz
mais sentido então qual será o caminho?
Para
poder viver em paz com o permanente processo de aprimoramento e mudança é
preciso aceitar o convívio com as dúvidas e a angústia que elas causam. E posto
isso, felizes os que mudam de ideias, pois questionam o sentido das coisas e
pensam sobre o que lhes faz ou não sentido.
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domingo, 13 de abril de 2014
Theaters of Trauma - Excerto de Sessão de Richard Raubolt
![]() |
A (Re)Criação do Trauma: VI Encontro da AP - Associação Portuguesa de Psicanálise e Psicoterapia Psicanalítica (12 de Abril de 2014) |
"Chris was a large, muscular man looking much younger than his fifty-two years of age. (…) Chris was also a non-using addict (not using presently but not in recovery either) who had brutally beaten his son for not answering the phone quickly enough. (…) Chris suggested the boy was exaggerating for attention and “besides he didn’t have it nearly so bad as I did.” He went on: “I could tell you stories but what’s the use? I had it coming.”
After listening to Chris’s stories, which he vaguely began to describe and to which I remained relatively quiet for three months, I began this session as soon as he was seated.
– “When we first began talking I asked you to tell me ‘your story’. We both know you have told me very little but that doesn’t mean I haven’t learned a good deal about you or the kind of help you might need.”
At this point, Chris started to interrupt. Cutting him off firmly, I said:
– “You will extend the same respect I extended you. You will listen while I speak because you have no idea what I am going to say to you or about you.” (…)
Chris remained silent although he continued a dialogue without words. (…)
– “Despite your denials to the contrary, you were beaten again and again as a boy and without mercy or reason. Your mother cowered from your father. She was present, as she had no place to go, but she was empty. She could offer you only a disguise hint of affection. (…) You survive by feeling hate, not showing it to your father… (…). Your mind was so fueled with fantasies of revenge… (…). You became like your father… (…). Still, through it all you wanted your father to notice you, spend time with you and teach you. I think you still want it from him, but since you won’t get it neither will your son. Keep going as you are and you will break your son into the mixed-up, crazy pieces you live with inside of you.
Now the question is: Is this what you want your legacy to be? I don’t want your answer now. (…) I will meet you next week, which gives you time to consider who you are and what you want. This session is over.”
In the next session, Chris started to loudly attack my “story-line”. I stopped him by saying:
– Are you in or out?
– …
(Richard Raubolt, PhD – In “From the Other Side”, Theaters of Trauma, 2010)
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segunda-feira, 10 de março de 2014
Penso, logo Existo
![]() |
Le Penseur - Auguste Rodin |
“Penso, logo
existo”, disse Descartes. O pensamento será talvez a função mais distintiva da
espécie humana. O acto de pensar é o que nos confere existência, pois mesmo
quando impedidos de falar ou agir, a possibilidade do pensamento ainda nos
salvaguarda uma identidade e uma mente que funciona produtivamente. Assim, em
primeiro lugar, a capacidade de pensar implica que sabemos mais ou menos quem
somos, ou pelo menos, que estamos a caminho da nossa verdade. O que pode ser
assustador. Pensar sobre as coisas (as nossas, as dos outros, as boas, as más,
as que já foram e as que estão por vir) conduz-nos por vezes a caminhos de
dúvida, sofrimento e angústia. Pensar implica também suportar algumas questões
que ficam e ficarão sempre sem resposta.
Entre nós, seres
humanos, uns seremos possuidores de uma personalidade mais analítica,
utilizando a função do pensamento sem hesitar, enquanto outros não pensam muito
ou não pensam de todo, quer porque não conseguem ou porque simplesmente não
querem. São pessoas que preferem levar a sua vida sem questionar muito os
“porquês” e os “comos”. É que viver praticando a análise de nós mesmos, dos
outros e do que nos envolve, é um processo simultaneamente gratificante e
frustrante. E embora seja o único caminho que produz expansão e evolução, para
alguns a ansiedade que a reflexão despoleta é absolutamente insuportável.
Mas atenção: há
uma confusão frequente entre pensamento e ruminação. Pensamento não significa
perder dias a ruminar no mesmo assunto, em loop mental e sem sair do mesmo sítio.
Pensamento é tentar procurar outra compreensão, ver de outra forma. Pensar é
questionar, é algo criador e transformador, um processo que permite andar para
a frente em vez de ficar estagnado no mesmo lugar. Mas por vezes, o que dói é
precisamente sair desse local tão familiar e pôr em causa tudo aquilo que era
dado como adquirido. Recordamos Florbela Espanca que, no seu poema Rústica, dá voz a um desejo
quase infantil de poder ser uma mulher de pensamento mais simples e de alegrias
banais: “Ser
a moça mais linda do povoado./ Pisar, sempre contente, o mesmo trilho(…) Deus, dai-me esta calma, esta
pobreza!/ Dou por elas meu trono
de Princesa,/ E todos os meus
Reinos de Ansiedade.” Pisar todos os dias o mesmo trilho, sem
grandes preocupações, podendo encontrar nessa rotina mecânica a tranquilidade e
a satisfação, era o que desejava Florbela. Porém, pese embora os seus “reinos
de ansiedade”, Florbela teria, em simultâneo, noção da “pobreza” desta
existência.
Se para uns é
suficiente comer, trabalhar e dormir, para outros pensar é uma função
incontornável. Queiramos ou não, somos dotados de um “aparelho de pensar” e se
essa função foi estimulada durante o nosso desenvolvimento, dificilmente
podemos fugir da consciência que em nós cresceu e habita. Por outro lado, a verdade é que fugir do acto de pensar não é melhor solução. É como se,
cá dentro, soubéssemos intuitivamente certas coisas que não queremos
reconhecer. E assim, mesmo não pensando de forma consciente, deliberadamente, a
verdade encontra forma (por vezes mais violenta) de irromper pela nossa vida,
muitas vezes abrindo caminho pelo adoecer do corpo. Porque pensar é procurar a
verdade. E a verdade, por mais que doa, vem sempre ao de cima.
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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014
O Elefante Acorrentado
"Quando eu era pequeno, adorava o circo e
aquilo de que mais gostava eram os animais. Cativava-me especialmente o
elefante que, como vim a saber mais tarde, era também o animal preferido dos
outros miúdos. Durante o espectáculo, a enorme criatura dava mostras de ter um
peso, tamanho e força descomunais… Mas, depois da sua actuação e pouco antes de
voltar para os bastidores, o elefante ficava sempre atado a uma pequena estaca
cravada no solo, com uma corrente a agrilhoar-lhe uma das suas patas. No
entanto, a estaca não passava de um minúsculo pedaço de madeira enterrado uns
centímetros no solo. E, embora a corrente fosse grossa e pesada, parecia-me
óbvio que um animal capaz de arrancar uma árvore pela raiz, com toda a sua
força, facilmente se conseguiria libertar da estaca e fugir.
O mistério continua a parecer-me
evidente.
O que é que o prende, então? Porque é
que não foge?
Quando eu tinha cinco ou seis anos,
ainda acreditava na sabedoria dos mais velhos. Um dia, decidi questionar um
professor, um padre e um tio sobre o mistério do elefante. Um deles explicou-me
que o elefante não fugia porque era amestrado.
Fiz, então, a pergunta óbvia:
— Se é amestrado, porque é que o
acorrentam?
Não me
lembro de ter recebido uma resposta coerente. Com o passar do tempo, esqueci o
mistério do elefante e da estaca e
só o recordava quando me cruzava com outras pessoas que também já tinham feito
essa pergunta. Há uns anos, descobri que, felizmente para mim, alguém fora tão
inteligente e sábio que encontrara a resposta:
O elefante do circo não foge porque
esteve atado a uma estaca desde que era muito, muito pequeno.
Fechei os olhos e imaginei o indefeso
elefante recém-nascido preso à estaca. Tenho a certeza de que naquela altura o
elefantezinho puxou, esperneou e suou para se tentar libertar. E, apesar dos
seus esforços, não conseguiu, porque aquela estaca era demasiado forte para
ele. Imaginei-o a adormecer, cansado, e a tentar novamente no dia seguinte, e
no outro, e no outro… Até que, um dia, um dia terrível para a sua história, o
animal aceitou a sua impotência e resignou-se com o seu destino. Esse elefante
enorme e poderoso, que vemos no circo, não foge porque, coitado, pensa que não
é capaz de o fazer. Tem gravada na memória a impotência que sentiu pouco depois
de nascer. E o pior é que nunca
mais tornou a questionar seriamente essa recordação. Jamais, jamais tentou pôr
novamente à prova a sua força."
Jorge Bucay in “Deixa-me que te conte. Os contos que me ensinaram a viver”
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sexta-feira, 31 de janeiro de 2014
Pedrinha (Dos Bons Investimentos)
"A despesa envolvida na psicanálise é excessiva apenas
na aparência. Inteiramente à parte do facto de nenhuma comparação ser possível
entre a saúde e a eficiência restauradas, por um lado, e um moderado dispêndio
financeiro por outro, quando adicionamos os custos incessantes das casas de
saúde e do tratamento médico e contrastamo-los com o aumento de eficiência e de
capacidade de ganhar a vida que resulta de uma análise inteiramente bem
sucedida, temos o direito de dizer que os pacientes fizeram um bom negócio.
Nada na vida é tão caro quanto a doença – e a estupidez."
Freud em "Sobre
o início do tratamento", 1913
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sexta-feira, 10 de janeiro de 2014
Os recomeços
Costuma
dizer-se que tudo tem um princípio, um meio e um fim. Que é isto que dá sentido
às coisas, como se fosse o esqueleto que sustenta as histórias. É uma sequência
temporal que se aplica a acções concretas como comer, dormir, tomar banho ou viajar,
mas também a outras facetas mais complexas da vida como relações humanas, empregos
e projectos vários. No limite, aplica-se à nossa própria vida.
Induzidos
pelo ritmo exacto do relógio, já que o próprio dia tem princípio, meio e fim,
sentimos que há um tempo para tudo, que ele está sempre presente. Os ponteiros
correm apressados e fora do nosso controlo, marcando o início e o fim dos
acontecimentos. E assim, no corre-corre do dia-a-dia, podemos facilmente entrar
em piloto automático, fugindo à reflexão e perdendo oportunidades de virar à
esquerda ou à direita em vez de seguir sempre em frente. É muito bom ter um
foco e caminhar em direcção a ele (sem objectivos a nossa existência perderia o
sentido) mas igualmente importante será não perder de vista o que se passa nas
redondezas, tudo aquilo que pode estar por perto e ser ainda melhor.
De
facto, cada dia o sol nasce e cada dia o sol se põe, sabendo nós, de antemão,
que no dia seguinte o sol regressa sempre, trazendo consigo mais uma rodada de
horas para nos oferecer. O próprio dia parece ensinar-nos também que tudo tem
um princípio, um meio e um fim, mas olhando com mais atenção, percebemos que o
que ele verdadeiramente nos ensina é que todos os dias podemos recomeçar. Os
recomeços são momentos de oportunidade que podem surgir num qualquer momento de
qualquer história e essa é a sua magia. A qualquer momento podemos reescrever
tudo, podemos encontrar outros caminhos, outros sentidos e, começar de novo.
Os
recomeços podem ser motivo de alegria ou de medo, mas serão sempre
emocionantes. Porque o recomeço implica sempre alguma mudança, por mais pequena
que seja. E a mudança faz-nos sentir vivos, embora sejamos frequentemente
aversos a ela, persistindo no hábito e naquilo que nos é familiar. Chamamos-lhe
a zona de conforto.
Face
a tudo o que se passa em nosso redor, importa perceber que momentos de crise
são também momentos de recomeço. Momentos de pensar novas possibilidades e
construir algo diferente, mais apropriado ou proveitoso. Mário Quintana dizia que
“a vida jamais continua, ela recomeça”. Quantos recomeços reconhecemos na nossa
história? Eventualmente, nem todos os recomeços terão sido proveitosos, mas a
boa notícia é que a possibilidade de recomeçar nunca acaba, podemos sempre
recomeçar mais uma vez.
quinta-feira, 2 de janeiro de 2014
Reflexão de Fim de Ano
§ Este ano
termina e estou mais apaixonada pela vida. Tinha conhecimento que vivíamos um
momento de expansão da consciência mas saber é diferente de sentir. Só a
experiência dá vida aos conceitos.
§ Não sei
como será para o ano porque uma das coisas que me atingiu como um raio foi a
noção de IMPERMANÊNCIA, de tudo aquilo que é hoje e que amanhã deixa de ser.
Isto traz-nos ao momento presente, que se torna mais puro e melhor vivido ao
conseguirmos um maior desprendimento do passado (o que doía ontem já não dói
hoje) e maior confiança no futuro (o que dói hoje não irá doer amanhã). Tudo
passa. A energia que desperdiçamos na angústia com aquilo que já lá vai e com
aquilo que há-de vir é demasiada e faz muita falta para vivermos bem o
presente. Como o nome indica, o presente é o momento de estarmos PRESENTES.
§ Essa
impermanência das coisas leva-nos à constatação de que o que parece mau nem
sempre é mau e de que o que parece bom nem sempre é bom. Sou levada a crer que
a nossa existência talvez pressuponha realmente ser-se feliz enquanto cá
estamos. Dizem por aí às vezes que a vida é feita para sofrer mas parece-me
mais que o sofrimento é uma opção, ou seja, que depende da perspectiva do
observador. No quotidiano, está a tornar-se mais fácil ver o lado bom das coisas
aparentemente más e, por incrível que pareça, quanto mais se pratica isto mais
faz sentido. Penso que a esta tendência para nos pacificarmos perante os
obstáculos se pode chamar ACEITAÇÃO. Será tanto mais fácil quanto maior a
confiança de que por trás de uma complicação pode estar uma bênção.
§ A
aceitação anda de mãos dadas com a REFLEXÃO, porque para aceitar tenho que
perceber que sou altamente responsável pelo que me acontece, e com a GRATIDÃO,
pois se eu aceito que coisas menos boas me acontecem e que muitas vezes essas
coisas são indicadoras de que algo melhor está a caminho, torno-me uma pessoa
mais grata por tudo o que gira em meu redor. O inverso disto será praguejar,
culpar os outros ou sentir-me uma vítima do Universo e creio que este é um terreno
pantanoso de onde dificilmente se sai.
§ A
aceitação, a reflexão e a gratidão só podem germinar num pensamento FLEXÍVEL,
capaz de questionar o mundo (interno e externo) e de aceitar perspectivas
divergentes e hipóteses que nos ultrapassem. Flexibilidade dos conceitos e das
ideias. Certezas absolutas são para deitar fora. Conviver com a dúvida é
fundamental (já que a impermanência existe) e para isso precisamos de ser
plásticos. A rigidez torna-nos duros, por vezes implacáveis, connosco e com os
outros.
§ A
flexibilidade ajuda-nos a ver as coisas como um FLUXO contínuo, não
dicotomizando nem polarizando (bom e mau, certo e errado, feliz e infeliz,
passado e futuro). Essa perspectiva permite-nos maior capacidade de integração
das partes no todo. Todo o passado conduz ao presente e ao futuro. Tudo o que
faço hoje se reflecte amanhã. Tudo o que dou agora receberei depois (e tudo o
que não dou naturalmente não receberei). Todo o meu passado me conduziu à
pessoa que sou e me encaminha para a pessoa que serei. A existência é um continuum.
§ Se o
Universo funciona num continuum podemos dizer que, enquanto
indivíduos, estamos todos ligados. É por isso que a UNIÃO e a COOPERAÇÃO devem
prevalecer sobre a competição. Porque todos juntos temos mais força do que
separados. Esta UNIÃO só pode acontecer se não se basear na dependência. Para
haver verdadeira cooperação todos os indivíduos devem possuir AUTONOMIA
(fundamentalmente emocional pois o resto vem por acréscimo). Caso contrário,
uns sugam os outros e numa relação parasita/hospedeiro nada se cria, tudo se
consome.
§ Para além
da questão da força/energia colectiva, importa pensar que se estamos todos
ligados aquilo que eu sou e que eu faço influencia aqueles que se relacionam
comigo. Temos uma esfera de influência em nosso redor e essa consciência
traz-nos RESPONSABILIDADE. Essa responsabilidade não é só para com seres
humanos mas também para com os ANIMAIS e com o PLANETA, a quem também estamos
ligados. Ter noção de que o chão que pisamos é responsabilidade nossa é cada
vez mais fundamental.
§ Como a
LIBERDADE é um pilar da nossa existência (o outro será o AMOR) é preciso
aceitar que há quem não respeite nada disto. O que nos conduz à ideia de que,
sobre estes e outros assuntos, por mais que gostássemos que os outros mudassem
não nos compete a nós interferir na vida alheia. Há uma certa omnipotência
subjacente a isto. A única e a melhor forma de produzir mudança, é sermos nós a
mudar. Para que através da nossa esfera de influência possamos, talvez,
provocar alguma transformação. Pelo exemplo (amor) e não pela crítica/castigo
(guerra).
§ Obrigado
a todos aqueles que eu amo e que me amam (cada vez mais e melhor), que
enriqueceram o meu ano e que fizeram de mim uma pessoa mais atenta, mais grata,
mais genuína, mais afectuosa e mais presente, com o vosso exemplo e amor! Muita
Paz, muita Luz, Saúde e Amor. Feliz 2014!
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sábado, 27 de abril de 2013
quinta-feira, 14 de março de 2013
Sobre outras perspectivas
"What if I should fall right through the center
of the earth... Oh, and come out the other side, where people walk upside down?
"
Lewis Carroll in Alice in Wonderland
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