Transformação é a palavra-chave. Na vida ou há desenvolvimento ou instala-se a decadência. O estacionamento é uma ilusão. Nas palavras de Cervantes, “A estrada é sempre melhor que a estalagem” (António Coimbra de Matos)
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quarta-feira, 8 de julho de 2015
quinta-feira, 25 de junho de 2015
terça-feira, 28 de abril de 2015
sexta-feira, 10 de abril de 2015
D'Os Passos em Volta
![]() |
Series Seven Chair by Arne Jacobsen |
Uma vez fui a um médico.
– Doutor, estou louco – disse. – Devo estar louco.
– Tem loucos na família? – perguntou o médico. – Alcoólicos, sifilíticos?
– Sim, senhor. O pior. Loucos, alcoólicos, sifilíticos, místicos, prostitutas, homossexuais. Estarei louco?
O médico tinha sentido de humor, e receitou-me barbitúricos.
– Não preciso de remédios – disse eu. – Sei histórias tenebrosas acerca da vida. De que me serve barbitúricos?
– Doutor, estou louco – disse. – Devo estar louco.
– Tem loucos na família? – perguntou o médico. – Alcoólicos, sifilíticos?
– Sim, senhor. O pior. Loucos, alcoólicos, sifilíticos, místicos, prostitutas, homossexuais. Estarei louco?
O médico tinha sentido de humor, e receitou-me barbitúricos.
– Não preciso de remédios – disse eu. – Sei histórias tenebrosas acerca da vida. De que me serve barbitúricos?
A verdade é que eu ainda não havia encontrado o estilo. Mas
ouça, meu amigo: conheço por exemplo a história de um homem velho. Conheço
também a de um homem novo. A do velho é melhor, pois era muito velho, e que
poderia ele esperar? Mas veja, preste bem atenção. Esse homem velhíssimo não se
resignaria nunca a prescindir do amor. Amava as flores. No meio da sua solidão
tinha vasos de orquídeas.
O mundo é assim, que quer? É forçoso encontrar um estilo. Seria
bom colocar grandes cartazes nas ruas, fazer avisos na televisão e nos cinemas.
Procure o seu estilo, se não quer dar em pantanas. Arranjei o meu estilo estudando matemática e ouvindo um pouco de música. – João Sebastião Bach. Conhece o
Concerto Brandeburguês n.º 5? Conhece com certeza essa coisa tão simples, tão harmoniosa e definitiva
que é um sistema de três equações e três incógnitas. Primário,
rudimentar. Resolvi
milhares de equações. Depois ouvia Bach. Consegui um estilo. Aplico-o
à noite quando acordo às quatro da madrugada. É simples: quando acordo aterrorizado, vendo as grandes
sombras incompreensíveis erguerem-se no meio do quarto, quando a pequena luz se
faz na ponta dos dedos, e toda a imensa melancolia do mundo parece subir do
sangue com a sua voz obscura… Começo a fazer o meu estilo. Admirável exercício,
este.(…)”
Herberto
Helder, Os Passos em Volta (Assírio e
Alvim), pp. 9-11
segunda-feira, 6 de abril de 2015
Morrer de Amor
"Tão bom morrer de amor! e continuar vivendo..."
— Mário Quintana, Conversa Fiada in Baú de Espantos (1986)
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Lisboa,
Poesia,
Sofrimento,
Vida
terça-feira, 17 de fevereiro de 2015
Fevereiro
Escute só.
Isto é muito serio.
Ande,
escute que isto é sério.
O mundo está tremendamente esquisito.
Há dez anos atrás o Li** disse que existe uma rachadura em tudo
e que é assim que a luz entra
não sei se entendi.
(…)
O amor é um animal tão mutante,
com tantas divisões possíveis...
Lembra daqueles termómetros que usávamos na boca
quando éramos pequenininhos?
lembra da queda deles no chão?
então,
acho que o amor quando aparece
é em tudo semelhante à forma física do mercúrio no mundo
quando o vidro do termómetro se quebra,
o elemento químico se espalha,
e então ele fica se dividindo pelos salões de todas as festas
mercúrio se multiplicando…
acho que deve ser isso uma das cinco mil explicações possíveis para o amor.
Ah, é..
Eu gosto de você...
A luz entrou torta por nós adentro,
Mas olhe..
Eu gosto de você..
(…)
Hoje ainda faz bastante frio.
(...)
A esta hora na Terra é metade Carnaval, metade conspiração,
metade medo, metade fé,
metade folia, metade desespero,
E provavelmente, a esta hora,
uma metade do mundo está dançando, e a outra metade dormindo.
(...)
Eu acredito que agora exista alguém profundamente acordado.
(...)
Escute, isto é serio.
Andamos crescendo juntos, distraidamente.
As árvores crescem connosco.
Nossa pele se estende.
Nosso entendimento teso, também.
(...)
Quanto ao um para um entre nós dois, isso logo se vê.
Não sei nada sobre a paixão,
suspeito que você também não.
Mas começo a entender que o compasso da fé está mudando a passos largos:
dois para lá,
e dois para cá.
portanto, escute, isto é muito sério.
Isto é uma proposta ao trinta anos.
Agora que o mercúrio assumiu sua posição certa,
vem comigo achar o metrónomo mágico entre a folhagem.
E no caminho até lá,
vem dançar comigo,
vem.
― Matilde Campilho
https://www.youtube.com/watch?v=VasLnEWnAxY
Isto é muito serio.
Ande,
escute que isto é sério.
O mundo está tremendamente esquisito.
Há dez anos atrás o Li** disse que existe uma rachadura em tudo
e que é assim que a luz entra
não sei se entendi.
(…)
O amor é um animal tão mutante,
com tantas divisões possíveis...
Lembra daqueles termómetros que usávamos na boca
quando éramos pequenininhos?
lembra da queda deles no chão?
então,
acho que o amor quando aparece
é em tudo semelhante à forma física do mercúrio no mundo
quando o vidro do termómetro se quebra,
o elemento químico se espalha,
e então ele fica se dividindo pelos salões de todas as festas
mercúrio se multiplicando…
acho que deve ser isso uma das cinco mil explicações possíveis para o amor.
Ah, é..
Eu gosto de você...
A luz entrou torta por nós adentro,
Mas olhe..
Eu gosto de você..
(…)
Hoje ainda faz bastante frio.
(...)
A esta hora na Terra é metade Carnaval, metade conspiração,
metade medo, metade fé,
metade folia, metade desespero,
E provavelmente, a esta hora,
uma metade do mundo está dançando, e a outra metade dormindo.
(...)
Eu acredito que agora exista alguém profundamente acordado.
(...)
Escute, isto é serio.
Andamos crescendo juntos, distraidamente.
As árvores crescem connosco.
Nossa pele se estende.
Nosso entendimento teso, também.
(...)
Quanto ao um para um entre nós dois, isso logo se vê.
Não sei nada sobre a paixão,
suspeito que você também não.
Mas começo a entender que o compasso da fé está mudando a passos largos:
dois para lá,
e dois para cá.
portanto, escute, isto é muito sério.
Isto é uma proposta ao trinta anos.
Agora que o mercúrio assumiu sua posição certa,
vem comigo achar o metrónomo mágico entre a folhagem.
E no caminho até lá,
vem dançar comigo,
vem.
― Matilde Campilho
https://www.youtube.com/watch?v=VasLnEWnAxY
quarta-feira, 21 de janeiro de 2015
A dor que me deixaste
Há dores que os
outros depositam em nós por não terem capacidade para tomar conta delas.
Podemos guardá-las durante algum tempo, podemos tentar transformá-las em algo
bom, mas nem sempre é possível. E quando assim é, quando o outro apenas tem para nos dar a sua dor e nada mais, quando o nosso único
lugar é não ter lugar, chega a hora de partir.
― O poema (em prosa) encerra a caminhada de dolorosa consciencialização e libertação, in "a dor que me deixaste" da querida e única Maria João Saraiva.
― O poema (em prosa) encerra a caminhada de dolorosa consciencialização e libertação, in "a dor que me deixaste" da querida e única Maria João Saraiva.
terça-feira, 9 de dezembro de 2014
A Beleza das 'Cousas'
Se o que é belo para uns nunca será belo para outros, sendo a
beleza um dos conceitos mais subjectivos e voláteis da humanidade, o que é o
belo senão aquilo que nos faz felizes? O poema — Alberto Caeiro, com certeza.
domingo, 7 de setembro de 2014
Muitos mergulhos e poucas respostas
O Verão, rapazes ― como disse C. Adams ―
implica uma insistência nos mergulhos
e uma desistência breve das respostas.
Importante é passar a mão pelas escarpas,
afagar o pescoço das andorinhas do mar,
verificar o oxigénio no tubinho de plástico
que ajuda a respirar na cala azul turquesa
e permitir que o Senhor ressuscite o sangue
dos espadartes todas as manhãs de 29ºC.
Estas são as tarefas que devem ser realizadas
e ― como disse Adams ― bom mesmo é chegar
ao fim da estação sem nenhuma resposta.
― Matilde Campilho, Um coração que mora dentro do olho do jaguar
implica uma insistência nos mergulhos
e uma desistência breve das respostas.
Importante é passar a mão pelas escarpas,
afagar o pescoço das andorinhas do mar,
verificar o oxigénio no tubinho de plástico
que ajuda a respirar na cala azul turquesa
e permitir que o Senhor ressuscite o sangue
dos espadartes todas as manhãs de 29ºC.
Estas são as tarefas que devem ser realizadas
e ― como disse Adams ― bom mesmo é chegar
ao fim da estação sem nenhuma resposta.
― Matilde Campilho, Um coração que mora dentro do olho do jaguar
terça-feira, 29 de julho de 2014
segunda-feira, 14 de julho de 2014
Metáforas Deliciosas
lembra
daqueles termómetros que usávamos na boca
quando
eramos pequenininhos?
lembra
da queda deles no chão?
então,
acho que o amor quando aparece
é
em tudo semelhante à forma física do mercúrio no mundo
quando
o vidro do termómetro se quebra
o
elemento químico se espalha
e
então ele fica se dividindo pelos salões de todas as festas
mercúrio
se multiplicando
acho
que deve ser isso uma das cinco mil explicações possíveis para o amor
(Matilde
Campilho, fevereiro)
segunda-feira, 23 de junho de 2014
Matilde Campilho
Há neste planeta chamado Terra uma mulher com
ar de menina que tem uma sensibilidade de outra galáxia e uma maneira deliciosa
de a verter para palavras. Tem um videopoema que diz:
"É terrível a existência de duas rectas paralelas
Porque
elas nunca se cruzam
E elas
apenas se encontram no infinito"
E então eu digo ainda bem que não foi preciso esperar pelo infinito para a encontrar. Abençoadas as perpendicularidades da minha vida!
quarta-feira, 27 de novembro de 2013
Pedrinha (Do Medo)
O medo vai ter tudo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis
Vai ter olhos onde ninguém o veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no teto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos
O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
ótimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projetos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com a certeza a deles
Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados
Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)
O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos
Alexandre O’Neill
in Abandono Vigiado (1960)
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis
Vai ter olhos onde ninguém o veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no teto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos
O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
ótimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projetos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com a certeza a deles
Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados
Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)
O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos
Alexandre O’Neill
in Abandono Vigiado (1960)
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
Todas as Palavras
As que procurei em vão,
principalmente as que estiveram
muito perto,
como uma respiração,
e não reconheci,
ou desistiram e
partiram para sempre,
deixando no poema uma espécie de
mágoa
como uma marca de água impresente;
as que (lembras-te?) não fui capaz
de dizer-te
nem foram capazes de dizer-me;
as que calei por serem muito cedo,
as que calei por serem muito tarde,
e agora, sem tempo, me ardem;
as que troquei por outras (como
poderei
esquecê-las desprendendo-se
longamente de mim?);
as que perdi, verbos e
substantivos de que
por um momento foi feito o mundo.
E também aquelas que ficaram,
por cansaço, por inércia, por acaso,
e com quem agora, como velhos
amantes sem
desejo, desfio memórias,
as minhas últimas palavras.
Manuel António Pina
quinta-feira, 13 de setembro de 2012
Poesia
É fácil trocar as palavras,
Difícil é interpretar os silêncios!
É fácil caminhar lado a lado,
Difícil é saber como se encontrar!
É fácil beijar o rosto,
Difícil é chegar ao coração!
É fácil apertar as mãos,
Difícil é reter o calor!
É fácil sentir o amor,
Difícil é conter sua torrente!
Como é por dentro outra pessoa?
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro
entendimento.
Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição
De qualquer semelhança no fundo.
Fernando Pessoa
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sexta-feira, 29 de junho de 2012
quinta-feira, 12 de abril de 2012
Pedrinha (Do amor-próprio)
Ah! Se eu nem sei quem sou,
como posso esperar que venha alguém gostar de mim?
Cecília Meireles (Discurso)
quarta-feira, 21 de março de 2012
Dia de Poesia
Sossega, coração!
Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.
Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperença a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!
Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.
Fernando Pessoa
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
Tormentos
“O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais, há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que nem eu mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessimista; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que se não sente bem onde está, que tem saudades… sei lá de quê!”
(Excerto retirado de uma carta escrita por Florbela Espanca a 10 de Julho de 1930 e enviada a Guido Battelli).
terça-feira, 24 de janeiro de 2012
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