segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Bons, maus e assim-assim


A separação entre o Bem e o Mal remonta ao dia em que Adão e Eva comeram o fruto proibido. De forma semelhante, existe, desde sempre, uma tendência para dividir também as pessoas em duas categorias consequentes: os bons e os maus. Essa divisão perpetua-se de geração em geração, sendo apresentada aos mais pequenos também pelos contos infantis, confirmando-se depois em páginas de livros e enredos de filmes.

Na verdade, bom e mau co-existem dentro de cada um de nós. Tal como, mais especificamente, existem emoções e sentimentos diferentes como a raiva, o ódio, a inveja, o ciúme, a tristeza, a ternura, o amor ou a paixão, habitando como vizinhos de um mesmo prédio. Ninguém é completamente bom e ninguém é absolutamente mau. Somos bons e somos maus em situações diferentes ao longo da vida. Catalogar o mundo rigidamente em preto e branco é demasiado redutor. É bom aceitar que certas coisas, são, simplesmente, cinzentas, se quisermos ser realistas e, logo, mais ajustados.

Somos dinâmicos, não estáticos. Somos complexos. Negar que possuímos características boas e más é negar essa complexidade. Uma ferramenta chave para compreender e aceitar esta perspectiva é a tolerância. Para com os outros e para connosco próprios. Essa tolerância permite-nos viver e sentir mais pacificamente as relações humanas que nos envolvem e aceitar que temos direito a cometer erros, tal como todos os outros.

Efectivamente, a cultura judaico-cristã moldou-nos ao longo dos tempos segundo esta grande divisão entre o Bem e o Mal. Promovem-se os sentimentos/actos bons, deixando a culpabilidade a pairar em cima das cabeças (ou bem agarrada às costas) quando nos apercebemos que fizemos ou sentimos algo menos bom. Por outro lado, se quisermos justificar-nos com isso, essa mesma cultura católica também nos ensina o perdão e a tolerância, logo, dá-nos igualmente a chave para a questão. Talvez, mais do que um fundamento cultural ou religioso, seja sim uma forma de sossegar o espírito. No fundo, encontrar e atribuir rótulos é uma forma de serenar a dificuldade que temos em aceitar tudo o que é ambíguo, indefinido e instável. Sim, gostamos de fingir que sabemos as respostas a todas as perguntas.

Se pensarmos que o nosso único defeito é a teimosia (exemplo que se retira de inúmeras entrevistas que se encontram por aí) ou somos descaradamente mentirosos ou, mais grave que isso, nunca parámos para pensar sobre o que há de menos bom dentro de nós. Todos temos a nossa bagagem de vida, produto da nossa história. Gostemos ou não, essa bagagem faz de nós quem somos e, embora possamos sempre (e felizmente) transformarmo-nos e melhorarmos, para isso é preciso, primeiro, questionar-nos sobre nós próprios e reconhecer que temos falhas.

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