domingo, 6 de janeiro de 2013

Reflexão no Sapatinho (em Dia de Reis)



No Natal passado especulou-se sobre o que estaria para chegar. Continuamos aqui, ainda inteiros, e depois de um ano de dificuldades, penso que podemos pensar sobre o outro lado da moeda, que mostra que estamos humanamente mais “crescidos”. Arriscando dizer que somos hoje menos individualistas, já que nunca como agora houve tanta consciência social. Repare-se no aumento exponencial de movimentos solidários de recolha e distribuição de alimentos, brinquedos, vestuário, livros, e tudo o mais que possa faltar numa casa de família. E não só a nível institucional, mas atitudes solidárias em pequena escala, que nascem do coração de alguns.
Sabemos de famílias que este ano produziram, criativamente, os seus próprios enfeites de Natal, recorrendo a materiais caseiros ou recolhidos na rua, trabalhando afincadamente na exploração de tintas, papéis e tesouras. Tudo o que é feito com as nossas mãos tem cheiro a afectos e com um carinho especial se orgulham dos seus enfeites mais do que de qualquer outro adquirido anteriormente num balcão alheio.
Parece também que todos reduziram a sua lista de presentes, que não só incluía a “prima da vizinha” (tantas vezes só para parecer bem) como também incluía presentes de valor o mais elevado possível (como se o valor fosse espelho do afecto nutrido pelo outro). Hoje procuram-se presentes mais adequados e em quantidade mais adequada. Sobretudo, é o acto de compra impulsiva que perde força este Natal. Pensa-se mais antes de agir. Mais, muitos fazem este ano os seus próprios presentes ao invés de comprar e há ainda quem prefira aderir a iniciativas de pequenos comerciantes ou artesãos. Porque prosperam negócios caseiros, de elevada qualidade e preço acessível, nascidos da necessidade e da criatividade de gente cheia de talento que nunca deu oportunidade a si mesma de pôr mãos ao trabalho e deixar a imaginação voar. Trabalhos de bijuteria, de costura, de culinária, de pintura e experiências a tantos níveis. Artesãos dos tempos de crise que talvez encontrem aqui, este Natal, a semente de uma ideia que venha a germinar no futuro.
Em poucos meses, e embora quase por obrigatoriedade, caiu por terra a atitude excessivamente consumista e passiva que coloriu o Natal dos últimos anos. E, curiosamente, não deixamos de sentir um “espírito natalício” por aí, que agora parece vir mais de dentro para fora e não tanto de fora para dentro. Nem tudo o que nasce no seio de uma crise é necessariamente mau, e assim, começando com um Natal mais humano, quem sabe depois esta postura possa ir entrando devagarinho pelas nossas casas, ensinando-nos um equilíbrio social e económico que poderíamos estar quase a perder de vista. 

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