quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Impulsividade



Como uma espécie de relâmpago emocional, todos possuímos e sentimos impulsos. O que varia é a luminosidade do relâmpago, isto é, o grau em que nos invade o pensamento, e o barulho do trovão subsequente, ou seja, a capacidade de conter/controlar esses impulsos.
Ser impulsivo é um funcionamento psicológico mais associado à infância ou à adolescência mas tornou-se uma característica relativamente aceite na idade adulta, muito em parte porque se encontra erradamente associada a uma personalidade forte. Assim, confunde-se frequentemente impulsividade com autenticidade ou mesmo com energia/entusiasmo quando podemos ser genuínos e activos sem sermos impulsivos (ou seja, emocionalmente reactivos). O comportamento impulsivo denuncia uma dificuldade em tolerar os conflitos internos, nomeadamente, afectos mais incómodos e desagradáveis como a ansiedade (ou medo), a frustração ou a raiva. Perante estas emoções, sem uma necessária “digestão” das mesmas (por falta de estrutura psicológica) ou das situações que as despoletam, agimos impulsivamente. Outras vezes, pouco tolerantes à dúvida ou à espera (de novo, nada mais que a ansiedade), agimos, seja por palavras não pensadas, seja num comportamento irreflectido.
Quando há uma maior possibilidade de introspecção, isto é, de pensar analiticamente sobre as coisas (as nossas, as dos outros ou as do mundo) torna-se possível funcionar mais ponderadamente. Pensar implica primeiro conter dentro de nós algumas emoções mais difíceis (durante maior ou menor quantidade de tempo) e depois analisá-las e resolve-las internamente sem descarregar imediatamente os impulsos no exterior (muitas vezes em cima dos outros).
Seres impulsivos por natureza, os animais, esses sim, regem-se por instintos vários, mas o Homem é um ser fundamentalmente reflexivo, o que pressupõe essa dita capacidade de pensar sobre as coisas. No entanto, nem sempre acontece e tudo o que é então demasiado difícil de ser guardado e pensado dentro de nós (conflitos, dilemas, receios) é agido. Olhando em redor, nesta época de brandos costumes, dominada pelos impulsos imediatos ou compulsões, segundo uma apologia consumista “daquilo que não pode ficar para depois”, as pessoas agem muito e pensam pouco. Não se pretende ignorar que alguns impulsos humanos conferem cor e sabor à história de alguém e à história da Humanidade mas a dificuldade que aqui se realça diz respeito ao funcionamento sistematicamente (estruturalmente) impulsivo, que nos leva frequentemente pelo caminho errado e, não raras vezes, longe de mais. 

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