quinta-feira, 6 de outubro de 2016

A Banalidade do Mal



Surgem, aqui e acolá, certos radicalismos. Surgem, aqui e acolá, certos nacionalismos. Não precisamos olhar para muito longe na história para saber que este é um assunto que merece muita discussão e reflexão nas sociedades. Afinal de contas, o que parece é que as massas caem nestas armadilhas sem perceber muito bem como.
Hannah Arendt foi uma filósofa política alemã que se debruçou sobre o estudo das origens do totalitarismo e que criou um conceito extremamente interessante, a “banalidade do mal”. Tendo assistido ao julgamento de Adolf Otto Eichmann, responsável pela logística do extermínio de milhões de pessoas no final da II Guerra Mundial durante a chamada “solução final”, Arendt concluiu nos seus artigos que Eichmann não tinha quaisquer motivos criminosos nas suas acções era um homem assustadoramente banal, um burocrata medíocre que justificou todos os seus comportamentos com o cumprimento de ordens superiores. Uma máquina executante, que jamais reflectiu sobre o significado das suas acções, sem livre arbítrio ou capacidade crítica. Não foi a maldade extrema que conduziu os comboios para Auschwitz, não foram monstros cheios de ódio ou racismo que comandaram as operações no terreno: foram funcionários competentes de uma burocracia estatal, em modo de obediência cega.
A “banalidade do mal” está, então, ao alcance de cada um de nós, a partir do momento em que nos demitimos de questionar a realidade que se desenvolve em nosso redor e aquilo que é exigido de nós no seio de uma sociedade. Nesse sentido, Arendt usou várias vezes a expressão “thoughtlessness” (ausência de pensamento; acriticismo) para se referir ao que está na origem da “banalidade do mal” — não são pessoas diabólicas que cumprem ordens diabólicas; para cumprir ordens, sejam elas quais forem, basta absterem-se de pensar sobre isso.
Toca-se aqui o fenómeno do conformismo e da obediência à autoridade. O conformismo é a tendência para seguir as massas dominantes. A maioria dos indivíduos prefere dizer “amén” (e fazer parte de qualquer coisa) do que afastar-se ou colocar-se contra as ideias vigentes. É, digamos, mais confortável. A obediência à autoridade é outra característica muito humana, conforme demonstrou Milgram nos seus estudos, quando verificou que 65% dos indivíduos em análise seguiam cegamente a ordem superior de executar choques elétricos de intensidade crescente ao próximo, independentemente do que viam acontecer à sua frente.
A lealdade burra e acrítica conduz a catástrofes, aponta Arendt, que soube bem destacar o quão demencial foi o quadro social de massas enfeitiçadas por um führer. Em tempos de radicalismos e novos nacionalismos, desde o Reino Unido à América, é por demais importante lembrar isto. 

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