segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Piscos e Catrapiscos


Os tiques consistem na execução súbita e involuntária de um movimento, de forma repetida. Vêem-se com muita frequência em crianças, mas são também vulgares em adultos. Desde os cabelos aos dedos dos pés, todo o corpo pode ser “usado” para a manifestação dos tiques. Os tiques do rosto são os mais frequentes: piscar os olhos, franzir o nariz ou as sobrancelhas, movimentos da língua ou do queixo. Há também tiques ao nível do pescoço, braços, mãos, dedos e inclusivamente tiques respiratórios (fungar, assoar-se, tossir, assobiar) ou fonatórios (estalar da língua, grunhidos). Na maioria das vezes surgem com a entrada na idade escolar (6/7 anos).

O tique vem aliviar uma tensão, embora o próprio tique seja, muitas vezes, causador de vergonha, culpa e mal-estar, por não ser muito bem tolerado por nós e pelos outros. Isto só acontece quando desconhecemos que o que importa verdadeiramente é perceber que o tique “fala”, ou seja, tem um significado que não pode ser ignorado. É sinal de mal-estar. No início, pode ser apenas uma reacção a uma ansiedade passageira e pode desaparecer tão espontaneamente como surgiu. O que significa que a pessoa foi capaz de ultrapassar algum conflito ou tensão interior. No entanto, no caso de duração prolongada ou substituição recorrente de um tique por outros tiques, é necessário uma abordagem mais aprofundada que permita entender o que corre mal ao nível das emoções. Há algo dentro de si que a criança (ou adulto) não está conseguir entender e/ou resolver.

Assim, a durabilidade do sintoma-tique permite perceber que estamos já na presença de uma estrutura psicológica de natureza ansiosa e não apenas de uma reacção pontual. Por vezes, os tiques representam uma tentativa muito forte de autocontrolo destas emoções difíceis, mas como a tarefa é árdua leva-nos a descarregar o peso de outra forma qualquer. Não é raro que crianças/adultos com tiques manifestem perfeccionismo e rigor na sua conduta. É que algo está aprisionado, mas precisa de sair. Algo está a ser contido a elevado custo dentro de nós e clama por uma forma de ser expressado. Não é tentando reprimir o tique que iremos resolvê-lo, muito pelo contrário. Já há muita coisa a ser reprimida e daí aparece o tique. Há que olhá-lo como uma expressão de ansiedade/conflito e tentar descobrir o seu significado simbólico que será, sempre, variável consoante a história de vida de cada um de nós.

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