sexta-feira, 27 de maio de 2011

A mentira do poder (II)


Vicariância pelo poder: “Ninguém me ama mas domino todos”. Ter poder e dominar porque não se é desejado nem amado. Ser poderoso para iludir a ferida de ser, de facto, um Zé Ninguém. (Abunda nos ditadores de todas as espécies, feitios e graus). É o “poder da portinhola” – por onde sai a boca do canhão escondido.
Vicariância erótica: “Ninguém me ama mas todos me desejam”. Erotização das relações por incapacidade de amar; e/ou ser desejado, já que não é amado. É própria da personalidade histérica.
Vicariância narcísea: “Ninguém me ama mas todos me admiram”. Ser admirado uma vez que não consegue ser amado; e, complementarrmente, brilhar/exibir-se porque não sabe dar e amar. É típica da personalidade narcísica.
Todas elas usam como mecanismo central a compensação de uma energia em perda; são próteses – artificiais e artificiosas – que substituem, e mal, poderes naturais em falta. O poder que não seja a construção e a reparação de poderes ausentes ou perdidos é um artefacto da miséria da alma – uma mentira, um produto da perversão.

António Coimbra de Matos (in O poder da mentira e a mentira do poder)

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