segunda-feira, 9 de maio de 2011

Medos e desamparos


O medo é uma das principais forças motivadoras da conduta humana. É biológico, um mecanismo de defesa e protecção, relacionado com o instinto de conservação. Na maioria dos casos não é patológico. Representa uma vantagem altamente adaptativa, que não advém de lacunas da natureza humana mas sim da existência de um sistema de alarme, essencial para a preservação da espécie. 
A maioria das crianças, desde os seus primeiros anos de vida, é atormentada por medos, específicos da idade e de carácter passageiro. Existem medos considerados básicos. Verifica-se que ao longo do desenvolvimento infantil as crianças não são sempre atormentadas pelos mesmos medos, havendo uma evolução dos mesmos. Os medos mais comuns referem-se a catástrofes, tempestades, animais, escuro, bem como fantasmas e bruxas. Um pouco mais tarde, em idade escolar, intensificam-se os medos de danos físicos (dor) e do ridículo. Por fim, na pré-adolescência (entre os 9 e os 12 anos) surgem os medos relativos a conflitos com os pais, rendimento escolar, doenças e acidentes.
Transversal a uma série de faixas etárias, existe um medo que muito aflige os pais (mas ainda mais as crianças), o medo das separações. De facto, nem sempre é fácil para a criança separar-se de quem ama. Por vezes, é um verdadeiro pesadelo. A ansiedade de separação é, provavelmente, uma das perturbações mais comuns em crianças (e tantas outras vezes em adultos…!). A característica essencial é um nível excessivo de ansiedade, incontrolável, perante um afastamento de casa ou das pessoas com quem possui um forte vínculo afectivo, normalmente a mãe.
Embora alguma ansiedade de separação não seja um sinal de patologia emocional, poderá, em alguns casos, comprometer a adaptação e o desenvolvimento da criança. Nestas circunstâncias, aplica-se um diagnóstico de Perturbação de Ansiedade de Separação (nomeadamente quando a criança apresenta sofrimento significativo ou algum prejuízo social, escolar ou de outra área importante da sua vida). A perturbação revela-se quando a ansiedade extrema a impede de levar um quotidiano normal, chegando a sentir-se doente (febre, diarreia, vómitos) perante a angústia de estar longe de casa ou quando a pessoa de maior vínculo afectivo está ausente. Outros sintomas incluem preocupação exagerada com algo de mal que possa acontecer a si própria ou aos pais, recusa em ir à escola, em ficar em casa de amigos, participar em excursões, relutância em dormir sozinha ou longe dos pais e ainda a ocorrência frequente de pesadelos. Neste caso, impera a necessidade de uma compreensão profunda das causas desta angústia, para que não seja comprometido o desenvolvimento saudável da criança e para que ela possa crescer em autonomia, na ausência das figuras securizantes.

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