quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Pedrinha (Da televisão)


A violência na televisão não transforma uma criança saudável num menino mau. E não acho que sejamos sérios se ilibarmos os pais – cujas relações são (muitas vezes) um reality show interminável – (…)

A televisão estimula o conhecimento, e só faz mal se se tiverem com ela comportamentos obesos, ou se se transformar no antidepressivo ou no ansiolítico mais à mão. E faz ainda, mal quando se transfigura num afrodisíaco ou serve de substituto às dores de cabeça a que duas pessoas (que não se toleram) recorrem, sempre que se evitam uma à outra.

A televisão faz mal sempre que esperamos que esta seja a baby-sitter das crianças ou o animal de estimação dos pais (que se liga, logo que se chega a casa, para tornar mais suportável um silêncio que os convida a pensar). A televisão faz mal sempre que se fala nas horas que as crianças passam diante do televisor, enquanto os pais se empanturram com telenovelas. A televisão faz mal sempre que a cada pessoa de uma família, corresponde uma televisão e, em função disso, cada uma se barrica autisticamente no seu quarto, ou troca uma boa conversa, ao jantar, pela companhia de mais um programa de humor.


Eduardo Sá (in Tudo o que o amor não é)

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