quarta-feira, 18 de junho de 2014

Pedrinha (Das Separações e das Zangas)

Na última sessão, três meses depois, Celina (11 anos) repetia para o pai sem o olhar: “Não gosto de ti! Não te quero ver!”.
Eu intervenho com a tradução latente, para o pai: “ A Celina não quer ver, não porque não gosta, mas porque gosta mesmo muito do seu pai!...”
O tom afirmativo e seguro da minha voz ajudou Celina a aceitá-lo. Fica muito menos tensa e caem-lhe lágrimas em silêncio.
O pai, que era de facto um homem inteligente e seguro, colabora de modo excelente. Após um silêncio pergunta-lhe suavemente quando pode ir buscá-la a casa para lancharem juntos.
Esta responde: “Lá para Novembro!” (estamos em Agosto). Numa intuição notável, o pai insiste: “Então talvez logo às cinco da tarde…” – “Bem, não sei! Não sei se tenho compromissos. Tenho que perguntar à mãe se posso.”
Já que a mãe e a terapeuta consentem este amor, ele não é mais causa de sofrimento. Saio do gabinete e deixo-os a combinar pormenores.


Teresa Ferreira in A Defesa da Criança

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