quarta-feira, 11 de junho de 2014

Liberdades e Libertações


No dicionário, a definição de liberdade aponta para: “Direito ou condição de alguém dispor de si, de fazer ou deixar de fazer alguma coisa. Condição de homem livre. Independência.” É um conceito filosófico que norteia e simultaneamente intriga a humanidade desde sempre por ser tão fácil perceber que a ideia de liberdade tem limites e limitações. O Homem que vive em sociedade sabe que não pode ser absolutamente livre. Pelo menos no que respeita às normas de conduta e aos deveres a que não pode fugir. São limites da realidade. 

Então de novo olhamos para a filosofia, para a psicologia e para a psicanálise que, abordando outros vértices da ideia de liberdade, nos ensinam sobre a “liberdade de ser”. E ensinam-nos sobre ser autêntico, ser espontâneo, ser eu mesmo independentemente da vontade dos outros. Falam-nos da liberdade de não assumir uma identidade que não me pertence unicamente para agradar ao(s) outro(s). Contam-nos sobre o poder de encontrar a minha própria verdade, pois é a procura da verdade que nos liberta (sejam verdades sobre nós, sobre os outros, ou sobre o mundo). O caminho explica-nos que conhecimento é também liberdade. Querer ser livre de saber e querer saber para ser livre. 

Nesta linha, já Descartes dizia que age com mais liberdade quem melhor compreende as alternativas que antecedem a escolha. E assim, só quem teve a possibilidade de tactear os vários caminhos possíveis poderá escolher livremente por onde seguir, quem ser e o que fazer da sua vida. Se sentirmos que podemos traçar o caminho que quisermos, podemos escolher mais livremente, de acordo com o nosso desejo. Só nosso. Por outro lado, quando somos doutrinados desde cedo, quando alguém nos aponta sistematicamente o caminho, não há outra verdade para além daquela que nos é injectada. Vejam-se os regimes ditatoriais, que impregnam a mente alheia de dogmas que impedem os indivíduos de escolher outras alternativas. Não concebem a possibilidade de poder ser, pensar e fazer diferente. É a total ausência de liberdade. É o pensamento escravizado logo desde que nasce e que bloqueia à partida toda a expansão da mente.

E perante todos os condicionamentos envolventes, os limites tornam-se limitações. Estas, se não devidamente questionadas, podem passar despercebidas toda uma vida. Padrões de funcionamento/pensamento vincados em nós que nos dão a ilusão de sermos livres quando, em boa verdade, somos escravos de nós mesmos, sem o sabermos. Portanto podemos dizer que nunca seremos totalmente livres enquanto a causa/origem dos nossos comportamentos permanecer tantas vezes desconhecida. São dados excluídos da consciência e aos quais só conseguimos ter acesso depois de superadas determinadas defesas e resistências (também elas na maioria das vezes inconscientes). 

Contudo, a beleza de tudo isto é que estas limitações são mais fáceis de ultrapassar do que os limites da realidade (que nos ultrapassam). Só dependem de nós. Somos nós que nos amarramos a nós mesmos. E quanto mais e melhor conhecermos a nossa verdade interior, menos escravos seremos dos nossos medos, das nossas crenças, dos nossos bloqueios. Seremos mais livres dos nossos traumas e das nossas defesas. E só assim se faz o caminho para uma maior liberdade de ser. Essa, uma vez conquistada, ninguém nos pode tirar. Será, no fim de contas, a mais nossa, única, e a mais importante de todas.

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