quinta-feira, 30 de abril de 2015

Pessoas


Toda a prática de yoga remete para o equilíbrio, i.e., para a harmonização de forças opostas. E assim sendo, oscila entre movimentos de avanço e retrocesso, actos de coragem e rendição, momentos de segurar e largar, trabalho de transição e permanência, consciência de força e ligeireza, sensações de prazer e dor. Nessa oscilação no tapete, perfeita metáfora da vida, buscamos o centro de todas as coisas. Principalmente o nosso corpo e mente. Esse lugar de conforto onde nos encontramos connosco. Onde respiramos sem dificuldade e onde nada dói. Onde sentimos paz. Só que não podemos ficar muito tempo aí porque a oscilação é o estado natural do mundo e porque o crescimento e expansão se faz pelo desconforto, pelo risco, pelo negativo. E saímos do centro. Essa dinâmica é a condição mais básica do desenvolvimento: onde há paragem, não há vida. Nesse processo, há momentos de força extraordinária. Saímos do centro, atiramo-nos de cabeça e somos capazes de fazer qualquer coisa. Na força descobrimo-nos, ultrapassamo-nos. Encontramos mundos e talentos desconhecidos, potencialidades e possibilidades. E de cada vez que assim é, mudamos o nosso rumo, transformamo-nos a cada novo encontro. Depois, há os desafios que não superamos. Repetimos, ruminamos, ficamos ali. E aí, o contrabalanço dos momentos de humildade e vulnerabilidade profunda que remetem para a nossa absoluta impotência perante os caminhos de evolução das coisas. E aí, rendemo-nos. Rendemo-nos perante os paradoxos. Perante a constatação de que somos tudo e ao mesmo tempo não somos nada. Estendemos os braços e encostamos a testa ao chão e que seja o que for quando tiver que ser. Quem somos nós afinal? E na rendição também nos descobrimos e ultrapassamos. Quando nos rendemos, todo o peso desaparece e é sublime porque somos, subitamente, leves, muito leves. Assim leves, um pequeno sopro pode levar-nos para onde calhar e poderemos descobrir coisas que ainda não conhecíamos nem esperávamos. Quando nos rendemos, entregamo-nos nos braços de algo seguramente maior que nós, que somos tão pequenos para compreender toda a dimensão da vida. E aqui vamos existindo, oscilando entre rendições e actos de coragem, porque a leveza do ser é insustentável por muito tempo mas a coragem sistemática é para guerreiros sobre-humanos. E nós somos e seremos, sempre, simplesmente pessoas.

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