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sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Os recomeços


Costuma dizer-se que tudo tem um princípio, um meio e um fim. Que é isto que dá sentido às coisas, como se fosse o esqueleto que sustenta as histórias. É uma sequência temporal que se aplica a acções concretas como comer, dormir, tomar banho ou viajar, mas também a outras facetas mais complexas da vida como relações humanas, empregos e projectos vários. No limite, aplica-se à nossa própria vida.
Induzidos pelo ritmo exacto do relógio, já que o próprio dia tem princípio, meio e fim, sentimos que há um tempo para tudo, que ele está sempre presente. Os ponteiros correm apressados e fora do nosso controlo, marcando o início e o fim dos acontecimentos. E assim, no corre-corre do dia-a-dia, podemos facilmente entrar em piloto automático, fugindo à reflexão e perdendo oportunidades de virar à esquerda ou à direita em vez de seguir sempre em frente. É muito bom ter um foco e caminhar em direcção a ele (sem objectivos a nossa existência perderia o sentido) mas igualmente importante será não perder de vista o que se passa nas redondezas, tudo aquilo que pode estar por perto e ser ainda melhor.
De facto, cada dia o sol nasce e cada dia o sol se põe, sabendo nós, de antemão, que no dia seguinte o sol regressa sempre, trazendo consigo mais uma rodada de horas para nos oferecer. O próprio dia parece ensinar-nos também que tudo tem um princípio, um meio e um fim, mas olhando com mais atenção, percebemos que o que ele verdadeiramente nos ensina é que todos os dias podemos recomeçar. Os recomeços são momentos de oportunidade que podem surgir num qualquer momento de qualquer história e essa é a sua magia. A qualquer momento podemos reescrever tudo, podemos encontrar outros caminhos, outros sentidos e, começar de novo.
Os recomeços podem ser motivo de alegria ou de medo, mas serão sempre emocionantes. Porque o recomeço implica sempre alguma mudança, por mais pequena que seja. E a mudança faz-nos sentir vivos, embora sejamos frequentemente aversos a ela, persistindo no hábito e naquilo que nos é familiar. Chamamos-lhe a zona de conforto.
Face a tudo o que se passa em nosso redor, importa perceber que momentos de crise são também momentos de recomeço. Momentos de pensar novas possibilidades e construir algo diferente, mais apropriado ou proveitoso. Mário Quintana dizia que “a vida jamais continua, ela recomeça”. Quantos recomeços reconhecemos na nossa história? Eventualmente, nem todos os recomeços terão sido proveitosos, mas a boa notícia é que a possibilidade de recomeçar nunca acaba, podemos sempre recomeçar mais uma vez.

domingo, 27 de março de 2011

Pedrinha (Da variabilidade)

Um dos preconceitos mais conhecidos e mais espalhados consiste em crer que cada homem possui como sua propriedade certas qualidades definidas, que há homens bons ou maus, inteligentes ou estúpidos, enérgicos ou apáticos, e assim por diante. Os homens não são feitos assim. Podemos dizer que determinado homem se mostra mais frequentemente bom do que mau, mais frequentemente inteligente do que estúpido, mais frequentemente enérgico do que apático, ou inversamente; mas seria falso afirmar de um homem que é bom ou inteligente, e de outro que é mau ou estúpido. No entanto, é assim que os julgamos. Pois isso é falso. Os homens parecem-se com os rios: todos são feitos dos mesmos elementos, mas ora são estreitos, ora rápidos, ora largos, ora plácidos, claros ou frios, turvos ou tépidos.

Leon Tolstoi (in Ressurreição)