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domingo, 7 de setembro de 2014

Muitos mergulhos e poucas respostas

O Verão, rapazes ― como disse C. Adams ― 
implica uma insistência nos mergulhos
e uma desistência breve das respostas.
Importante é passar a mão pelas escarpas, 
afagar o pescoço das andorinhas do mar,
verificar o oxigénio no tubinho de plástico
que ajuda a respirar na cala azul turquesa
e permitir que o Senhor ressuscite o sangue
dos espadartes todas as manhãs de 29ºC.
Estas são as tarefas que devem ser realizadas

e ― como disse Adams ― bom mesmo é chegar
ao fim da estação sem nenhuma resposta.

― Matilde Campilho, Um coração que mora dentro do olho do jaguar

sábado, 6 de setembro de 2014

Opinião só não muda quem não tem



Não é raro encontrarmos pessoas incapazes de mudar de opinião mesmo quando os factos mostram que estão enganadas. Outras vezes, não é raro observar-se alguma dificuldade em assumi-lo, quando acontece. Há quem lhe chame teimosia. No entanto, não usamos palas como os burros e, assim sendo, não precisamos de olhar só em frente, podendo utilizar a visão periférica para alargar perspectivas. Tristemente, mudar de opinião está muitas vezes associado a incoerência e a falhas de carácter, contrariamente à citação de Mário Quintana que originou o título desta reflexão. É encarado como falta de personalidade. Como se a personalidade não fosse ela mesma construída ao longo do tempo. Como se o certo fosse mantermo-nos rígidos e formatados do princípio ao fim. Como se, desde o nascimento até à morte, a vida não fosse um processo de transformação e evolução constante.
Quantos educaram os seus filhos de uma forma e hoje gostariam de os ter educado de forma diferente? Quantos começaram a sua vida com determinados ideais políticos e hoje pensam de outra forma? Quantos alteraram as suas crenças religiosas com o passar do tempo? Quantos se envolveram em projectos pessoais e desistiram ao perceber que não iriam a lado nenhum? Ainda bem que assim acontece.
Perante evidências de que aquilo em que acreditamos não nos conduz a bom porto ou já não faz sentido, não é inteligente permanecer no engano. Os factos são soberanos e frequentemente chega a hora de revermos até as nossas mais caras convicções. O apego exagerado às ideias faz-nos portadores de mentes endurecidas e cristalizadas. O pensamento é uma função plástica e pobre daquele que fica confinado a uma crença eterna e inquestionável.
 Por vezes, essa mudança de pensamento parece difícil de concretizar. São demasiadas resistências. Do latim resistentia, que significa oposição, obstáculo, reacção ou defesa. De facto, defendemo-nos da maioria das mudanças. Externas e internas. Persistimos com frequência, até porque temos uma certa tendência à repetição. E o familiar é sempre mais confortável que o desconhecido. 
Viver é ter incertezas. Percebemos o quão difícil isto pode ser, pois ao abandonarmos as nossas antigas convicções, perdemos o referencial que sempre nos guiou. E nem sempre dispomos imediatamente de conceitos novos e mais adequados, ou seja, por um tempo, conviveremos com dúvidas. Se isto não me faz mais sentido então qual será o caminho?

Para poder viver em paz com o permanente processo de aprimoramento e mudança é preciso aceitar o convívio com as dúvidas e a angústia que elas causam. E posto isso, felizes os que mudam de ideias, pois questionam o sentido das coisas e pensam sobre o que lhes faz ou não sentido.