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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Com o pensamento na crise (e a crise no pensamento)

Estamos em crise. Em traços largos, sabemos que, se um organismo entra em crise, houve uma falha nos seus mecanismos de auto-regulação e de regulação externa. Por vezes, homeoestaticamente, o organismo consegue auto-reparar-se e retomar o seu percurso de desenvolvimento (que, entretanto, ficou suspenso). Outras vezes, atingido um certo limite de desvio e um dado nível de desregulação, o organismo já não tem capacidade de, per si,  se auto-reparar, tornando-se urgente recorrer a uma intervenção externa que ajude na reparação e minimização dos danos dessa mesma crise.
Sabemos que é este o ciclo evolutivo: é decadência, crise e mudança, como destaca o Prof. António Coimbra de Matos. Um sistema, qualquer sistema, num dado momento, entra em declínio (esgota-se, desadequa-se ou torna-se nocivo), instalando-se assim uma crise que exige uma mudança. Essa mudança permite a evolução desse mesmo sistema, reequilibrando-o. Assim foi, repetidamente, ao longo da história da humanidade: na ciência, na religião, na política, na economia. E assim será, naturalmente, no sistema mais complexo de todos, o ser humano, em momentos da vida de cada um de nós, a nível pessoal (interno) e relacional (externo).
E assim podemos dizer que, numa crise, surge a oportunidade de criação de algo novo e sempre mais eficaz (espera-se!). Desde que haja um olhar atento (e ético...!) que compreenda e transforme as causas da crise (não se tente resolver uma crise com os mesmos modelos que a ela conduziram!). Porque uma crise exige mudança e a mudança implica novas formas de pensar, agir e sentir.  A mudança é condição sine qua non do desenvolvimento. Para isso, cada um necessita de usar a sua capacidade de pensar e, fundamentalmente, de se questionar, sobre o papel que tem (porquê demitirmo-nos da responsabilidade do individual que influencia o colectivo?!) na resolução da crise (esta, aquela ou a outra).
Comecemos, como disse, pela mudança das mentalidades e pela resolução das nossas crises internas. Comece-se por interiorizar que a cooperação deve substituir a competição. Colocar a responsabilidade no lugar da culpa, a confiança no lugar da desconfiança, o empreendedorismo no lugar da apatia.  Exige-se uma mudança social. Exige-se uma mudança que toque nas bases, nas fundações. Podemos, talvez, começar por combater a crise dentro de cada um de nós: a crise ética: dos valores; a crise dos afectos: do indivíduo, das famílias. Que a crise lá fora nos leve a pensar sobre a crise cá dentro.

Referência Útil: Coimbra de Matos, A. (2011). Relação de Qualidade: penso em ti. Climepsi.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Pedrinha (Textos de Amor)


(...) Ah, o amor. O amor faz-se se houver tempo. O amor faz-se aos bocadinhos e só se convier. O amor faz-se na pausa para o café. O amor é uma aberração. O amor mete medo. Chega-te para lá com esse «adoro-te»! Não me venhas com esse «gosto de ti»! Cai-nos a PIDE do amor em cima, és apanhado e vais dentro. O amor quer-se preso pela trela. O amor quer-se de castigo no canto da sala. Pouca conversa, pouco barulho. O amor custa. Perde-se tempo e dinheiro. O amor está fora de moda. Não condiz com as batas brancas da biologia nem com os botões coloridos da tecnologia nem com a cor do papel dos contratos pré-nupciais. O amor é para meninos, ser-se crescido é outra coisa. O amor foi-nos confiscado.
Não contem comigo. Eu não tenho jeito nenhum para ser a pessoa que todos esperam. Não tenho competência para ficar a ver o amor passar sem correr atrás. Compreendam: o amor é a minha campainha de Pavlov. Estímulo-resposta, como me foi explicado na escola de fazer profissionais. Eu não tenho jeito para telefonemas nem para passeios em centros comerciais. Não contem comigo para ser cão que ladra mas não morde. Não contem comigo para não dizer o que não é suposto. Para cancelar beijos, inventar pretextos, sufocar euforias, adiar alegrias. Para vos escutar em silêncio. Para vos poupar ao meu amor, não contem comigo. Compreendam: eu não me posso comprometer.

Susana Cristina Marques Santos, in 'Textos de Amor – Museu Nacional da Imprensa'