quarta-feira, 5 de setembro de 2012

A função paterna


 
No princípio são três, mãe, pai e filho. O acto de conceber um filho é da responsabilidade de dois indivíduos e parece que há uma boa razão para que assim seja, fundamentalmente na espécie humana, a mais complexa de todas. Embora hoje muitas crianças cresçam na realidade da monoparentalidade, a investigação psicológica tem demonstrado, de há algumas décadas para cá, a necessidade absoluta e presença insubstituível da figura paterna.

Como se sabe, o nosso equilíbrio emocional e bem-estar psicológico estão completamente relacionados com a qualidade da relação primária, nome atribuído à relação entre mãe e filho, que começa logo durante a gravidez. É esta ligação primordial que nos dá as ferramentas internas para descobrirmos quem somos e conduzirmos a nossa vida com entusiasmo, segurança e responsabilidade. É nessa relação que ganhamos (ou não) o embalo para acreditar, projectar e realizar, bem como para ultrapassar as dores e os dissabores que encontramos pelo caminho.

Contudo, o pai junta-se à díade mãe-filho com uma função igualmente importante para a estruturação psíquica da criança. De certa forma, inicialmente o pai representa a primeira “frustração” introduzida na vida de uma criança: o pai é aquele que “impede” que o filho tenha a mãe exclusivamente para si. Experiência dolorosa, esta, mas necessária para um desenvolvimento saudável. Embora sem essa intenção, um pai permite e prepara, assim, a separação e a autonomia da criança, evitando uma fusão (que não é suposta) entre mãe e filho. Tem uma função separadora mas, ao mesmo tempo, estruturante.

Não fica por aqui, a questão da função paterna. Tal como a mãe, o pai desempenha, também, um importante papel nas interacções com o filho, estimulando e atendendo às suas necessidades básicas (afecto, segurança, alimentação, higiene, brincar e aprender). Alternando com a mãe nestes cuidados, permite à criança conhecer, desde cedo, dois diferentes modelos de relação, um com o pai e outro com a mãe. E nós, espécie inteligente, rapidamente começamos a guardar connosco o melhor de cada um.

Depois, o pai enriquece a identidade de género dos seus filhos, apresentando-se como modelo de admiração ao seu filho-homem e narcisa a feminilidade da sua menina-mulher. Mais. Pai e mãe são o primeiro e mais importante modelo de uma relação amorosa. É através das discórdias entre pai e mãe (se acontecem com respeito e sem depreciação um do outro) que se enriquece a mente da criança, oferecendo-lhe múltiplas perspectivas da realidade. Se o casal lida bem com essas “discussões”, mostra à criança que com liberdade se pode amar alguém que pode ser e pensar de forma diferente de nós.

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