quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Paisagens Humanas

Fotografia de Finn Beales
Fotografia de Sofia Pracana
Fotografia de Finn Beales

Há pessoas que são florestas cerradas. Oferecem caminhos sinuosos, por vezes agrestes, entre o denso arvoredo. Envolvem-nos em nevoeiro, atirando-nos ao arrepio de enredos misteriosos enquanto o diabo esfrega um olho. O dia é curto, a noite é longa. E há as sombras. Pressentimos que muito se esconde entre as sombras mas, como não nos é permitido perceber o que é, o descanso não tem lugar aqui; vigilantes, os sentidos precisam de se certificar que não nos perdemos ou que nenhum animal à solta nos surpreenderá. Lembramo-nos destas pessoas com o fascínio que nos despertam os lugares inóspitos, muito belos na sua natureza mas que não se permitem habitar.
Há pessoas que são grandes cidades. Espaços pulsantes, agitados, que nos oferecem luzes, entretenimento e cultura, e nos fascinam pelo seu charme e movimento. Oferecem-nos um pouco de tudo excepto o silêncio e a possibilidade de contemplação que nos faz falta. Também as luzes podem ofuscar. Não há grandes perigos mas o ruído impera, cansando-nos. Depois, o tempo aqui é demasiado veloz, não há espaço para o tédio nem para a placidez. Recordamos estas pessoas com o sorriso que nos desperta a chegada de madrugada a uma metrópole que nunca dorme.
Há pessoas que são praias abertas. Lugares luminosos, amenos, cujos areais se estendem ao alcance dos nossos olhos. E ali nos espraiamos, horizonte sempre à vista, descansando o corpo e o espírito. Podemos correr, podemos dormir, podemos tomar banho. Podemos despir-nos sem pudor. O tempo corre sem pressas. Faltará, porém, alguma da energia vibrante que encontrámos noutros lugares, florestas e cidades desse mundo. Faltará o arrebatamento. Lembramo-nos destas pessoas com a serenidade de quem chega a casa.
A diversidade natural é a maior riqueza do nosso planeta. Que se saiba, não há ainda outro igual: tantos cenários, tanta complexidade. Da mesma forma nos encanta o espectro humano. É nessa multiplicidade que nos desenvolvemos. Entre florestas, praias e cidades, viver é precisamente ir explorando todos os ambientes com a curiosidade que nos é inata, retirar o melhor de cada um e descobrir onde queremos morar, onde seremos mais felizes, a cada momento.

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