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quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Disponibilidade Emocional

A Família - Gustav Klimt
O conceito de disponibilidade emocional começou a ser trabalhado na década de 70. Terá nascido, assim como muitos outros constructos, dos trabalhos de John Bolwby sobre a teoria da vinculação (a forma como se desenvolviam os laços afetivos entre as mães e os seus bebés). Estávamos nos anos 50 e soube-se então que um dos principais requisitos para uma relação saudável entre as mães e os seus filhos (hoje diríamos “entre os pais e os seus filhos”) é a disponibilidade emocional dos progenitores. Actualmente, este conceito já não se aplica unicamente às relações parentais, tendo sido alargado para as várias relações que desenvolvemos ao longo da vida.
A disponibilidade emocional é um estado de “concavidade”, como diria Maria João Saraiva. Se disponibilidade é, por exemplo, receber alguém em minha casa, disponibilidade emocional é receber alguém “em mim”. Isso implica deixá-lo aproximar-se e ceder-lhe espaço mental e afetivo (pensar nele, preocupar-me com ele, cuidar dele, brincar com ele, estar com ele, sofrer com ele). Implica ainda abrir o meu coração a uma relação íntima com os riscos que todas as relações implicam: conflitos, tristezas, sacrifícios. Estar emocionalmente disponível é a capacidade de me ligar a alguém de forma autêntica, intuitiva e dedicada. É abraçar, entendendo e aceitando a pessoa como ela é ou conforme está, e deixando-a ir e vir nos seus movimentos de vida. Exige criar um lugar dentro de mim onde moram as coisas do outro: as suas necessidades emocionais e os seus desejos mais sensíveis. Em certa medida, o outro passa a habitar em mim. E a “coisa” deixa de ser somente sobre nós.
A disponibilidade emocional é-nos exigida em grau diferente em função das relações, sendo entre pais e filhos que atinge o seu expoente máximo, pelo grau de dependência e fragilidade dos mais pequenos. As relações românticas, pelo grau de intimidade que se estabelece, também são exigentes, assim como as amizades mais próximas. As relações terapêuticas, idem, um bom terapeuta tem de ser “espaçoso”. Também em momentos de crise dos entes mais queridos nos é pedido, quase intuitivamente, maior disponibilidade emocional: para acolher a sua dor, os seus medos ou a sua zanga.
Porém, somos humanos. A nossa disponibilidade emocional é variável, mas estaremos sempre mais disponíveis para o outro quanto maior o nosso bem-estar. É preciso que estejamos relativamente tranquilos e que a nossa “barriga” esteja mais ou menos satisfeita, afetivamente falando, para que possamos, tantas vezes, abdicar de nós em detrimento de alguém. Em certos momentos, podemos não conseguir (e em outros nem sequer devemos) fazê-lo. Ainda, quando existe trauma severo na nossa vida e estamos focados na proteção do nosso próprio psiquismo, torna-se impossível intuir e responder às necessidades afetivas do outro. Imperam as dificuldades relacionais — as intolerâncias, os desencontros, as inseguranças, as birras, as “claustrofobias”, angústias de várias espécies que impedem um encontro amoroso sintónico. Infelizmente, a indisponibilidade emocional funciona, tantas vezes, como um “tiro no pé”: quem não se dá, também não recebe. 

terça-feira, 4 de março de 2014

Pedrinha (Existo porque fui amado)

O que promove, orienta e suporta a relação é o bonding (ligação) da mãe ao filho e não o attachment (vinculação) do bebé à mãe. A relação é, predominantemente, da responsabilidade do animal alfa. De igual modo, na cura psicanalítica obedecemos à regra da precessão e primazia do investimento do analisando pelo analista. Este é um dos princípios basilares da arte e da técnica.


António Coimbra de Matos (in Vária. Existo porque fui amado)

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Pedrinha (Das fronteiras necessárias)


“Os bons pais seriam auxiliadores da separação clara entre fantasia e realidade. Nem sempre este equilíbrio é conseguido e a confusão inicia-se, cresce, invade o Eu e surge a ruptura e o sofrimento. Na geração de adultos-pais, falha a capacidade de se separarem dos próprios filhos. O primeiro sintoma deste caos confusional é a abolição de limites-fronteiras claras, entre a geração de pais e a geração de filhos. São os banhos comuns, camas comuns, partilha obrigatória de segredos em todas as direcções, etc. A criança entra em luta por uma sobrevivência e uma autonomia enquanto lhe resta alguma energia disponível, mas se os benefícios narcísicos persistem (“sou igual ao pai porque durmo com a mãe como ele”), a patologia instala-se e pode estabilizar no negativo.”

Teresa Ferreira (in Em defesa da criança)

Pedrinha (Dos amores das crianças)



"A capacidade ou incapacidade de amar tem a sua génese na infância, embora a vivência de uma autêntica relação amorosa só seja possível a partir da adolescência."

Teresa Ferreira (in Em defesa da criança)