sábado, 4 de dezembro de 2010

Os Tom Sawyers



Fala-se muito de hiperactividade. É uma perturbação do comportamento, de origem neurológica (mas com contornos difusos) que interfere com a vida familiar, escolar e social de um elevado número de crianças. Contudo, a hiperactividade passou também a representar um belíssimo bode expiatório no caso de muitas crianças enérgicas e agitadas ou simplesmente malcomportadas. Falemos da criança hiperactiva, mas não dessa criança convenientemente designada hiperactiva porque se mexe demais, fala demais e incomoda demais. Falemos, sim, da criança que vive a realidade da Perturbação de Hiperactividade com Défice de Atenção.
É uma perturbação que se reflecte essencialmente em comportamentos que poderiam ser encarados como normais numa criança se não fosse o exagero na sua frequência, intensidade e inoportunidade. Primeiramente, caracteriza-se pela dificuldade em manter a ATENÇÃO durante muito tempo. Há uma extrema dificuldade em atingir a concentração necessária para realizar determinadas tarefas, escolares ou quotidianas, assim como um nível de empenho muito baixo. Como tal, as tarefas a que se propõe raramente são concluídas. Segue-se a IMPULSIVIDADE manifestada no agir sem pensar nas consequências. Depois, também, a HIPERACTIVIDADE propriamente dita, ou seja, o excesso de actividade motora e incapacidade de estar quieta em qualquer circunstância. Consequentemente, surgem as DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM, que decorrem naturalmente da difícil manutenção da atenção e da inquietação motora. DESOBEDIÊNCIA, pois para além da sua impulsividade estas crianças lidam ainda muito mal com a frustração e com a contrariedade. Por fim, a LABILIDADE EMOCIONAL (variações bruscas no humor). No fundo, vemos uma criança que representa, metaforicamente, uma espécie de furacão.
Uma criança hiperactiva origina grande instabilidade familiar, não só pelos comportamentos no seio da sua família, mas também porque socialmente coloca em cheque as capacidades educativas e pedagógicas dos pais, que se sentem frequentemente incapazes de conter ou dominar o seu filho e vivem sistematicamente sob a dura e ignorante crítica alheia.
Os fármacos, embora mal-amados, são essenciais para o controlo da impulsividade e da atenção. Posto isso, o acompanhamento psicológico será outro componente essencial na ajuda da criança e da sua família na gestão da problemática. 

Referência: Polaino-Lorente, A. & Ávila, C. (2004). Como viver com uma criança hiperactiva. Edições ASA.

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