terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Incapacidade Maternal

 “Ser mulher não é equivalente a ter a capacidade para ser mãe (…) Se a mulher tem útero logo pode procriar. Como se não se tratasse de útero e mente. Corpo e alma para fabricar um ser humano também com direito a alma”, nas palavras de Teresa Ferreira. O conceito de incapacidade maternal não implica uma patologia, mas sim uma característica da personalidade de algumas mulheres. E embora sendo uma limitação do ser humano como outra qualquer, carrega um preconceito tão acentuado que não é convenientemente pensada. Uma mulher com capacidade reprodutora que opte por não ter filhos nem sempre é compreendida.
A função materna implica uma capacidade contentora que se manifesta logo durante a gravidez. Conter significa possuir qualidade nos afectos e uma sensibilidade muito particular relativamente ao seu filho. Estar disponível para amar e empatizar com ele. Conseguir ser uma segunda pele, amparando e elaborando as suas angústias e devolvendo-as, devidamente resolvidas. Ter a capacidade de manter uma posição flexível e dinâmica ao longo dos seus estádios evolutivos, com vista ao desenvolvimento gradual da autonomia da criança.
Não se trata de ser exigente com as mães. Pelo contrário, poucas mulheres serão a mãe modelo e Winnicott foi extremamente certeiro quando designou a mãe necessária ao bom desenvolvimento do bebé como uma “mãe suficientemente boa”. Falamos, sim, de casos de incapacidade destrutiva. De mulheres cuja paixão exclusiva é o seu trabalho, a arte ou a ciência. De mulheres, outras, que vivem condicionadas pela dependência de substâncias, negligenciando os filhos para alimentarem outro “amor”. De mulheres da vida que “fabricam”, literalmente, filhos, espalhando-os por amas, instituições e famílias de acolhimento. Falamos também de mulheres que apenas não sentem um instinto maternal. Simplesmente não sentem.
Depois, há as crianças que nascem para salvar relações (falta de informação, seguramente, pois a parentalidade é uma das mais difíceis provas numa relação entre homem e mulher). Há as que nascem para preencher vazios emocionais (usadas, as pobres, como objectos de amor possessivo) e há as que nascem por um acaso (acidentes de percurso) e que nunca chegam a ser desejadas.
E mais tarde, demasiado tarde, há mães que abanam os filhos como se abana um caixote (no melhor dos casos) quando o choro se torna incessante, porque aquela mulher não tem dentro de si a capacidade materna, o entendimento, a disponibilidade e o amor necessário. E nunca pensou sobre isso.
Há mulheres que, simplesmente, não têm na sua vida o espaço emocional necessário para um filho. O reconhecimento das nossas próprias limitações é a maior manifestação de inteligência. Ser mãe não é um dever, é uma escolha. Uma escolha em consciência. Uma promessa de amor eterno. 



Referência: Ferreira, T. (2002). Em defesa da criança. Assírio & Alvim.

1 comentário:

  1. Parabéns Sofia. Mais um excelente texto. É isso mesmo. Ser Mãe é sentir, é ouvir o apelo da vida a outra a vida. É por mais que se diga estou zangada, estou ferida, ter a capacidade de ultrapassar a ferida da Alma quando dorida, quase destruída. É sem dúvida uma Promessa de Amor Eterno, que como promessa que é, nem todas as mulheres conseguem cumprir.

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