sexta-feira, 3 de junho de 2011

Nos bastidores da delinquência


Falou-se, aqui há uns tempos, em diminuir a idade da imputabilidade legal e talvez seja interessante pensar nas raízes da delinquência juvenil, tentando compreendê-la de modo a contê-la aos primeiros sinais. São histórias de violência, crime, toxicodependência ou alcoolismo. Mas são, sobretudo, “histórias de desamor”1).
É o amor, acima e primeiro que qualquer outra coisa, que permite a estruturação do psiquismo da criança. Na sua ausência, pode esperar-se o caos. É possível afirmar que os comportamentos delinquentes escondem uma “intensa desintegração psíquica”1). Perante a dificuldade em expressar as suas dificuldades emocionais, elas são agidas no mundo exterior. Pode dizer-se que, nestas crianças e jovens, a capacidade de mentalizar conflitos é muito frágil e estes muito mais facilmente manifestam-se, não pela palavra, mas pelo acto. E torna-se a violência a forma preferencial (ou mesmo a única possível) de comunicação, como um apelo gritante.
Nos bastidores deste cenário, detecta-se uma “falha básica”, um vazio interno (quase como um buraco) que pode existir na estrutura emocional do ser humano, quando as suas necessidades básicas não são preenchidas (um buraco tantas vezes preenchido em consumos de substâncias que produzem a sensação de plenitude e bem-estar que não podem nem sabem viver de outro modo). E procuramos mais fundo e possivelmente encontramos uma mãe emocionalmente frágil, que chega por vezes a ter de ser cuidada e maternalizada pelos seus filhos. Com certeza, mães com as suas próprias histórias e os seus respectivos fardos. Detecta-se ainda, frequentemente, a ausência de um pai e do que ele simboliza (o interdito, a figura de autoridade, a imposição de limites) para o desenvolvimento emocional da criança.
Estes “filhos de ninguém”1)  contam-nos que na outra face da delinquência se encontra a depressão. Simplesmente, nem toda a depressão se manifesta da mesma forma, nem toda se age violentamente (e quando virada para fora torna-se mais incómoda para os outros, sem dúvida). Há os se fragilizam e há os que endurecem, mas em comum têm que lhes faltou algo essencial. Em comum têm também que muitos nem se importam de morrer (vivendo já numa morte psíquica, no fundo) e nem demonstram sequer capacidade de sonhar.
Como resposta, encontram no fim (porque demasiado tarde) uma punição (mais um castigo). Pode assim reparar-se esta falha e imaginar mudanças? Não, não pode. “Encarcerar não faz esquecer. Nunca cura. Tapa, remedeia”1). Uma terapia pelo amor (nas palavras de Teresa Ferreira a psicoterapia é uma cura de amor e por amor) seria muito mais eficaz.

1) Strecht, P. (2003). À margem do amor. Assírio e Alvim.

Sem comentários:

Enviar um comentário