quinta-feira, 16 de junho de 2011

Depressão em ponto pequeno



Também as crianças se deprimem. Não é comum uma criança verbalizar o seu sofrimento, não porque não queira, mas porque não sabe, logo não pode. É simplesmente “um não sei quê, que nasce não sei onde, vem não sei como e dói não sei porquê”.
Na verdade, nem sempre é fácil detectar a depressão infantil com um simples olhar. Então como se manifesta a depressão e os seus sintomas nas crianças? Em primeiro plano, pode observar-se uma lentificação ou inibição psicomotora (traduzida num aspecto envelhecido, rosto pouco expressivo, postura excessivamente ajuizada e submissa). Mas, mais frequentemente até, verifica-se, pelo contrário, agitação motora, uma incapacidade de estar sossegado, que expressa o mal-estar interno.
A nível cognitivo surge a dificuldade em pensar, em prestar atenção às tarefas escolares, a dificuldade de concentração, responsáveis por fuga ou evitamento da “situação escolar” e conduzindo, tantas vezes, ao insucesso. A perda de auto-estima é expressa numa desvalorização e sensação de incapacidade e insucesso quase sistemática. Numa criança em idade escolar, a capacidade de aprendizagem é uma das primeiras áreas a ser afectada pelas perturbações emocionais, visto que, sem bem-estar emocional, a criança não pode ter disponibilidade interior para desejar conhecer mais ou aprender melhor.
Ocorrem também perturbações do apetite, fundamentalmente anorexia da primeira infância e bulimia ou rilhagem (absorção alimentar excessiva) na criança mais crescida ou pré-adolescente. No que respeita ao sono, o adormecer é difícil, com oposição e recusa ao deitar, os pesadelos e os medos são frequentes e remetem para a componente ansiosa da patologia.
A nível somático, dores de cabeça e dores de barriga também são manifestações comuns. Aliás, quanto mais nova é a criança, mais a depressão se exprime por intermédio do corpo. À medida que a criança cresce, o corpo deixa de ser o principal veículo do sofrimento e os problemas afectivos tornam-se mais psicológicos, dando lugar aos problemas de comportamento e a queixas verbais, manifestados fundamentalmente na forma de dificuldades escolares e de irritabilidade. O comportamento é a expressão motora do mundo interno da criança, constituindo ainda uma poderosa forma de comunicação dessas vivências internas.
Tendo em conta o vasto leque de manifestações sintomáticas, a síndrome depressiva infantil é, por vezes, difícil de reconhecer, podendo associar-se a sintomas que, em geral, não são automaticamente relacionados com esta patologia.

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