segunda-feira, 4 de junho de 2012

Depressão na Recessão


Faz algum tempo, no dia 19 de Janeiro, foi entrevistado num canal da nossa televisão o Prof. Carlos Amaral Dias, psiquiatra e psicanalista português. O conceito central discutido foi “depressão na recessão”, que diz respeito ao súbito aumento da taxa de suicídio em Portugal (e também em outros países, como a Grécia ou a Irlanda) e de perturbações depressivas associadas à conjuntura económica actual. O impacto da crise económica e social na saúde mental dos portugueses é inquestionável, uma vez que “a pobreza, o desemprego e a exclusão social são factores que levam a um conjunto de afectos como a tristeza, sentimentos de ruína e sobretudo os sentimentos de desespero”, como foi referido. Estes afectos estão correlacionados com o aumento do índice suicidário, bem como com o aumento do número de depressões.

O desemprego e a precariedade em que muitos portugueses hoje vivem originam frequentemente sentimentos de auto desvalorização e a sensação de fracasso. Contudo, o impacto psicológico da crise assume contornos diferentes em função da faixa etária da população. É fundamentalmente na meia-idade que se verifica maior incidência de sintomas de depressão, esta estreitamente relacionada com o sentimento de perda, já que muitos indivíduos tinham a sua vida relativamente organizada e, subitamente, são forçados a lidar com a perda de rendimentos, de emprego ou de casa. Em acréscimo, torna-se muito angustiante para um indivíduo de meia-idade imaginar a possibilidade a oportunidade de “recomeçar do zero”. No que respeita à juventude, o impacto psicológico não está tão relacionado com a depressão, mas encontram-se muitos sintomas de ansiedade, espelhando o medo do futuro.

Em momento de “cortes” na Saúde e na Segurança Social e, portanto, na ausência de um sistema nacional que possibilite um suporte psicológico adequado ao momento de crise, impera a necessidade de o indivíduo procurar apoio na sua rede social, isto é, na família, nos amigos e na comunidade. Contudo, para que isso aconteça é essencial que cada um reconheça (perante si próprio e muitas vezes perante os outros) as suas dificuldades, pois existe sempre muita vergonha associada às situações de carência económica e, mais ainda, vergonha relativamente à fragilidade psicológica. Paradoxalmente, importa dizer que existe sempre mais força no indivíduo que assume as suas fragilidades do que naquele que as esconde. Em acréscimo, sabe-se que negar e fugir da nossa verdade (interna e externa) é uma das causas de mal-estar psicológico. O acto de pedir ajuda (seja de que ordem for) é, por si só, um acto de Saúde Mental.

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