sábado, 9 de junho de 2012

Histórias de Criatividade



Em 1913, na zona balnear de Deauville, encontravam-se reunidos os amantes de corridas de cavalos. Entre eles, um casal de namorados que lá passava uma temporada. Ela, francesa, mulher de história triste que por dor ou vergonha escondia e negava as suas origens, modista de moderado sucesso na criação de chapéus. Ele, inglês, intelectual ligado à política, jogador de polo, não o seu primeiro nem único homem, mas o seu grande amor e, sobretudo, o seu maior apoiante. Certa manhã, a modista decidiu que vestiria uma camisola de malha dele, mas não pela cabeça. Cortou-a pela frente. Para não estragar o penteado ou por mero capricho, não sabemos. Improvisou uma gola e um cinto com retalhos do mesmo tecido e, finalizando, coseu-lhe dois enormes bolsos “na altura exacta em que as mãos gostam de descansar”. Surpreendentemente, com a diferença de estatura entre ambos, a malha caiu como se fosse um vestido. Essa mulher era Gabrielle “Coco” Chanel. O seu homem, Arthur “Boy” Capel. A peça, o cardigan, reinventado para o feminino. Saindo à rua, “todos me perguntavam onde o tinha comprado e eu respondia, se quiser, vendo-lhe um. Nesse dia, vendi dez modelos iguais.” De modista a maior estilista do séc. XX, uma self-made woman visionária, dona de uma criatividade que aliou como ninguém o clássico ao revolucionário, afirmou pouco antes de morrer: ”A minha fortuna foi construída em cima daquela malha velha que eu vesti porque fazia frio em Deauville".

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