segunda-feira, 12 de maio de 2014

A Adição


Quando pensamos em dependências associamos frequentemente à toxicodependência, talvez a mais debatida nas últimas décadas. Mas aos poucos fomos percebendo outras manifestações de dependência, expressas no álcool, jogo, alimentos ou sexo. Hoje estendemos este conceito às compras, aos jogos, à internet e qualquer outro comportamento aparentemente fora do controlo do indivíduo e/ou que limite e prejudique a sua vida quotidiana.
Chamamos-lhes dependências, adições (ou comportamentos aditivos), e entendemos por isto quaisquer acções que o sujeito realize de forma compulsiva, com base num impulso incontrolável que faz com que não sossegue enquanto não o concretiza (independentemente de “em quê” irá aplicar esse impulso). Esta problemática acarreta sempre uma diminuição ou perda de liberdade, pois é-se escravo da compulsão. Sendo dominado por estes impulsos, o desejo de consumir (seja lá o que for) torna-se frequentemente mais importante do que a relação com os outros e, inclusivamente, do que os próprios interesses e necessidades. É possível que esta compulsão conduza à ruína da vida familiar, social, profissional ou financeira, no entanto, também há comportamentos aditivos mais mascarados e sem uma forma de prejuízo tão visível a olho nu.
Os comportamentos aditivos são comportamentos que visam a procura de prazer imediato. Por norma procura-se com eles preencher um vazio interno e dissipar algum tipo de mal-estar psicológico, mais ou menos leve e muitas vezes inconsciente. Contudo, sendo uma solução enganosa, muito rapidamente o prazer se dissipa e torna a sentir-se vazio ou mal-estar, repetindo-se o comportamento em busca de novo alívio. No caso da toxicodependência e do alcoolismo é amplamente conhecido o efeito dos agentes químicos causadores de dependência (física) mas a compreensão dos mecanismos aditivos (dependência psicológica) exige sobretudo a compreensão das “falhas afectivas” subjacentes.
A grande maioria dos autores que estudam as perturbações do comportamento aditivo (e das dependências no geral) falam de uma espécie de falha no desenvolvimento afectivo mais precoce, normalmente relacionada com dificuldades no processo primário de separação entre o bebé e a sua mãe (e consequente dificuldade de individuação do sujeito - que, no limite, todos temos em maior ou menor grau).  Falam ainda de uma falha na função paterna (o pai “separa” a mãe do seu bebé introduzindo-se como um terceiro na relação de dependência primordial). Não se concretizando adequadamente o processo de separação e autonomização (talvez o processo mais delicado na vida do ser humano), dá-se, inconscientemente, uma busca externa, compulsiva, do objecto perdido, sob a forma de adição.

É, assim, importante perceber de que é o indivíduo está à procura e, simultaneamente, do que é que está a fugir, pois a adição serve também para obscurecer e manter afastadas da consciência as experiências dolorosas. Somos peritos em manobras de ilusionismo para negar a nossa própria dor, contudo, estando lá, cedo ou tarde se manifesta.

Sem comentários:

Enviar um comentário