quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Compras de Natal


O misterioso e maravilhoso mundo inconsciente





Este ano, no Dia da Mãe, comemorou-se também o dia de um Pai. Celebrou-se o 156º aniversário do nascimento de Sigmund Freud. Ele, que "deu à luz" a teoria mais completa para a compreensão do funcionamento mental no Homo Sapiens Sapiens (o Homem que sabe que sabe), a Psicanálise. Tanto sabe, que usa (inconscientemente) as melhores manobras de ilusão na arte de se enganar a si mesmo, quando não quer ou não suporta saber.
Cá dentro, possuímos processos conscientes, que percebemos relativamente bem e dos quais damos conta, mas ao mesmo tempo, muito daquilo que somos remete para dados vivenciais aos quais não temos acesso. A descoberta da existência do Inconsciente foi um legado imprescindível que Sigmund Freud nos deixou, permitindo-nos hoje perceber que há mecanismos psicológicos complexos por detrás dos nossos pensamentos, afectos e comportamentos.
Porque não acedemos a esse inconsciente? Porque não podemos (senão não seria inconsciente!). O que fica inconsciente é precisamente aquilo que não somos capazes de pensar. Para nos ajudar com estas histórias escondidas, construímos mecanismos de defesa, todos eles inconscientes, para ajudar (ou não) a lidar com as dificuldades que se vão sentindo ao longo do desenvolvimento. Temos defesas para evitar, recalcar, deslocar ou projectar afectos e pensamentos para outro sítio qualquer bem longe da consciência. Sobre estes mecanismos de defesa, pode dizer-se que uns são mais saudáveis que outros. Pode dizer-se também, que a capacidade de suportar e pensar o sofrimento é fundamental para um crescimento mental e afectivo estruturado, mas frequentemente essas defesas instalam-se maciçamente, desorganizando e prejudicando o nosso funcionamento e personalidade. Freud mostrou-nos as "trevas" que carregamos dentro de nós mas ofereceu-nos as técnicas que nos conduzem à "luz", trazendo à consciência aquilo que precisa de ser pensado e compreendido. Hoje, a Psicanálise continua a ser uma viagem fabulosa que nos oferece o conhecimento, a verdade e a liberdade.
Actualmente, tem como “filhas” as psicoterapias de orientação psicanalítica, que invés de usarem o clássico divã para deitar os seus pacientes, trabalham face-a-face. Contudo, em ambas, o acesso aos fenómenos inconscientes permite descobrir a chave de mistérios fantásticos do ser humano. Para descobrir isto, temos que ter a força e a coragem de olhar a nossa história, pela mão de uma relação sanígena (relação que cura). Para os que têm coragem de dobrar o Cabo das Tormentas e enfrentar os seus Adamastores, grandes Glórias no Horizonte!

(29/05/2012)

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Fugindo dos Pensamentos

Arthur Hughes


Ser a moça mais linda do povoado. 
Pisar, sempre contente, o mesmo trilho, 
Ver descer sobre o ninho aconchegado 
A bênção do Senhor em cada filho. 

Um vestido de chita bem lavado, 
Cheirando a alfazema e a tomilho... 
- Com o luar matar a sede ao gado, 
Dar às pombas o sol num grão de milho... 

Ser pura como a água da cisterna, 
Ter confiança numa vida eterna 
Quando descer à "terra da verdade"... 

Deus, dai-me esta calma, esta pobreza! 
Dou por elas meu trono de Princesa, 
E todos os meus Reinos de Ansiedade.

Florbela Espanca (Rústica)

terça-feira, 27 de novembro de 2012

O poder do amor

"When the power of love overcomes the love of power the world will know peace"

Happy Birthday Jimi Hendrix!

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Umbigos




          O narcísico, como o autista e o psicótico – não fossem todos eles egocêntricos –, julgando ver o mundo, não vê senão a sua barriga. Para ele, o centro do mundo é o próprio umbigo; pelos outros não se interessa minimamente, não o preocupam nem o ocupam, é como se não existissem – a não ser na medida em que lhe possam ser úteis  (o seu investimento objectal é apenas funcional ou instrumental – o outro é usado como um instrumento, para realizar uma função de que não dispõe ou é débil). Centra-se em si mesmo, gravita à volta da sua nulidade, pensando – talvez – que com isso pode acender o pavio da sua humanidade extinta. Sim, porque a humanidade gera-se no interesse pelos outros humanos; de contrário, não existe: apaga-se ou não chega a nascer. 
        Mas quem disse “nascer”   “existir”? Responde-se: nasce-se no “útero mental” do objecto, no pensamento e no afecto de quem nos deseja, ama e sonha, de quem gosta e aposta em nós; vive-se, existe-se, se esse investimento em nós persiste.
        A tragédia da desordem mental, seja ela a doença com sintomas ou a perturbação da personalidade com traços patológicos, é esta: a falta ou a perda desse “ninho da alma”, dessa “Terra Prometida”.

António Coimbra de Matos (in reflexão “Princípio e Continuação”)

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Feliz à Chuva


Dentro e Fora


Fui muito feliz em alguns dias de chuva. É que quando faz sol cá dentro até podem cair pedras. O tempo de fora não conta quando é Verão dentro de nós. Quando o cinzento de fora espelha o cinzento de dentro é que se torna mais difícil não ir na onda. É um bocadinho como a crise. Quando a crise lá fora espelha as crises cá de dentro tudo parece ainda mais negro. Há muita gente aí aos berros e às pedradas. Cá para mim há muita gente aos berros e às pedradas mas nem sabem bem que crise é que as oprime. Se a de fora se a de dentro. Sem querer negar a realidade do tempo ou da economia quero poder ser feliz em dias de chuva e quero poder ser feliz em dias de crise. Era bom que para além de olhar pela janela olhássemos um pouco mais para dentro da nossa ‘casa’. Pode precisar de alguma arrumação, limpeza ou transformação. Ou aquecimento. Há muitas ‘casas’ demasiado geladas!


quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Tecnologicamente Acompanhados



Ao mesmo tempo que todos reconhecemos as maravilhas da evolução tecnológica, sabemos também que nem sempre estes recursos são utilizados da melhor forma. Assim, surgiu há pouco tempo o termo “nomofobia”, uma palavra que resulta da contracção da expressão inglesa “no mobile phobia”. Refere-se ao medo de ficar impossibilitado de aceder ao telemóvel. Também se aplica ao medo de ficar desconectado das redes sociais (pelo menos até alguém inventar um qualquer nome específico também para isso). Com a proliferação dos smartphones, podemos dizer que uma coisa e a outra (telemóvel e redes sociais) estão cada vez mais relacionadas. Dizem os dados de um estudo efectuado em Fevereiro, no Reino Unido, que 66% dos inquiridos diz-se "muito angustiado" com a ideia de perder o seu telemóvel. A proporção chega a 76% nos jovens entre os 18-24 anos, segundo um outro estudo. Cerca de 40% dos indivíduos consultados afirmaram possuir mais de um aparelho.
Posto isto, que ninguém se assuste ou despreze a tecnologia com receio de “apanhar” uma fobia, visto que elas não se pegam nem se reproduzem. Esta “nova fobia” é apenas um nome para mais uma manifestação de ansiedade, manifestações, estas, que se transformam em função dos tempos e das realidades. Sempre houve medo, ansiedade e pânico, o que muda é o meio que nos envolve a forma como, consequentemente, manifestamos essas emoções.
Este receio de ficar desligado da tecnologia permite uma análise mais adequada e profunda, já que ele representa, sobretudo, a incapacidade de estar só. Como se, ao “desligar” o telemóvel ou o computador, corressemos o risco de, também nós, nos desligarmos dos outros e, os outros, de nós. Certo é que só dependemos de estar insistentemente ligados aos outros se precisarmos deles para não nos sentirmos sós e/ou quando não confiamos o suficiente nas relações e nos afectos que nos rodeiam, exigindo um contacto sistemático que afaste os nossos medos.
Quando sozinhos consigo próprios, muitos se sentem invadidos por um vazio insuportável. Ou, ainda, invadidos por pensamentos que, pelo menos ao falar com alguém, se vão dissipando com mais facilidade. Uma companhia é, sem dúvida, um forte distractor. E, aqui, entra a tecnologia: o telemóvel e as redes sociais vieram facilitar, indubitavelmente, a comunicação entre as pessoas. Deixou de ser preciso esperar muito para falar com alguém, as pessoas vivem à distância de uma chamada ou de um click. Permanece a questão mais importante de todas: Estamos a usar estas facilidades de comunicação e ligação de forma saudável, ou antes como um remédio fácil que mascara a incapacidade de estar só por um segundo que seja? 

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Sometimes


Pedrinha (Das Crianças-Heróis)



Quanto heroísmo não é necessário para vencer e ultrapassar os monstros que povoam a imaginação infantil desde a mais precoce idade da razão! Quanto heroísmo para vencer as injustiças do meio familiar e social! Quanta coragem para que uma criança tenha de se insensibilizar a situações que ultrapassam o seu poder real! Quanta força interior é necessária para a criança se construir a si própria como pessoa, perante a indiferença e o abandono dos maiores!

João dos Santos

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Todas as Palavras



As que procurei em vão, 

principalmente as que estiveram muito perto,

como uma respiração,

e não reconheci,

ou desistiram e

partiram para sempre,

deixando no poema uma espécie de mágoa

como uma marca de água impresente;

as que (lembras-te?) não fui capaz de dizer-te

nem foram capazes de dizer-me;

as que calei por serem muito cedo,

as que calei por serem muito tarde,

e agora, sem tempo, me ardem;

as que troquei por outras (como poderei

esquecê-las desprendendo-se longamente de mim?);

as que perdi, verbos e

substantivos de que

por um momento foi feito o mundo.

E também aquelas que ficaram,

por cansaço, por inércia, por acaso,

e com quem agora, como velhos amantes sem

desejo, desfio memórias,

as minhas últimas palavras.

Manuel António Pina

Personalidade Borderline


 
Embora ainda se use frequentemente a expressão “não é defeito, é feitio”, a verdade é que hoje sabemos que a personalidade não justifica tudo e, muitas vezes, estrutura-se mesmo com “defeito”. A personalidade também “adoece”. De facto, muitas das pessoas que conhecemos com comportamentos pouco adequados, são como são porque o seu processo de crescimento pessoal e social foi, de certa forma, boicotado (mesmo quando o indivíduo não dá por isso, conscientemente).
Dizemos que um indivíduo sofre de uma perturbação da personalidade quando se encontra um padrão estável (global e inflexível) de afectos e comportamentos que se afastam marcadamente do que seria esperado, originando sofrimento ou incapacidade para o próprio. São normalmente diagnosticadas na adolescência ou na idade adulta, pois só aí se considera que já existe uma identidade formada.
A patologia borderline (ou patologia limite da personalidade) é uma dessas perturbações de personalidade. O termo ainda não está suficientemente divulgado mas é um tipo de organização mental que tem vindo a aumentar, com maior incidência no sexo feminino. O número de pessoas com este tipo de perturbação que procuram ajuda em psicoterapia é cada vez maior, variando na gravidade dos sintomas mas apresentando como queixa principal a incapacidade de funcionar adequadamente no dia-a-dia e um sentimento de vazio interno.
Um indivíduo com uma organização de personalidade borderline apresenta transtornos em quase todas as áreas da sua vida, principalmente nas relações interpessoais (relações com outras pessoas). Descrevendo estas personalidades em traços largos, encontramos pouca profundidade nos sentimentos (dificuldade em ligar-se ao outro e em manter relações íntimas), bem como uma tendência à desconfiança e uma atitude social pouco agradável. Verificam-se, com elevada frequência, comportamentos de risco, consumos de drogas e álcool e, também, alterações no comportamento sexual. Há dificuldades no controle da vontade, no planeamento dos objectivos de vida e incapacidade para o trabalho (ou dificuldade em encontrar a profissão certa).
Assim, e resumidamente, os sintomas mais comuns são a incapacidade de sentir, a angústia e desamparo, falta de limites, desrespeito pelos outros, comportamento anti-social, depressão com sentimentos de solidão e vazio, intolerância à frustração, comportamentos automutilantes e pensamentos suicidas, incapacidade de sentir prazer, fobias, obsessões e compulsões, dissociações e surtos psicóticos breves.
Estas personalidades assentam em falhas muito precoces do desenvolvimento emocional. Implicam (e ao mesmo tempo expressam) um grande sofrimento e um grande vazio interior. Nem sempre as pessoas querem ser como são, simplesmente, não conseguem ser de outra maneira. Felizes os que reconhecem que algo está errado e pedem ajuda.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Pai = Lei


“É no nome do pai que devemos reconhecer o suporte da função simbólica que, desde a aurora dos tempos históricos, identifica sua pessoa à figura da lei.”

Jacques Lacan in Discurso de Roma – Escritos