domingo, 31 de outubro de 2010

E agora que te foste embora?



A perda de pessoas significativas faz parte da vida. Depois de perder alguém, segue-se o período que se designa de luto. O luto é todo o processo de aceitação da perda e a readaptação progressiva à realidade. E esta readaptação à realidade é essencial. Distinguem-se, por norma, três fases no processo de luto normal. Numa primeira fase, há um choque profundo devido à tomada de consciência da nova realidade e um desespero agudo em recuperar a pessoa perdida, expressado pela raiva e pelo choro, muitas vezes também pela culpabilidade. Pode haver uma negação, porque o indivíduo precisa de tempo para aceitar aquilo que a realidade lhe impôs. Depois, numa segunda fase, o indivíduo sente afectos mais depressivos e assume uma atitude mais introspectiva, com a função adaptativa de romper os moldes de funcionamento antigos e estabelecer novos. Por fim, numa terceira fase, característica da pessoa saudável, o indivíduo torna-se capaz de tolerar e ultrapassar a depressão e de retomar a sua vida numa nova realidade.
Aquilo que se designa, em termos técnicos, por luto patológico, e que na prática corresponde a um processo de luto não terminado, acontece, por exemplo, em casos em que o indivíduo permanece preso nas primeiras fases, não conseguindo reorganizar-se. Embora cada indivíduo elabore os seus lutos num timing próprio e apesar de a dor da perda nunca ir totalmente embora, há que prosseguir com a nova realidade. O luto tem de ser feito mas tem de ser terminado. Quartos fechados à chave no tempo numa tentativa de união permanente, incorporação de gestos, tiques ou interesses da pessoa perdida, adopção de uma atitude demasiado excêntrica ou alegre como forma de evitamento da dor, são tudo exemplos clínicos de mecanismos patológicos que funcionam como alerta de que as fases do luto não foram devidamente elaboradas. Nem todos os indivíduos têm os mesmos recursos emocionais, logo nem todos os indivíduos são capazes de ultrapassar as perdas. Por vezes, é preciso ajuda.
Os lutos são duras tarefas, que nos acompanham toda a vida. Porque não fazemos apenas lutos da morte, mas fazemos lutos sucessivos. Luto da infância, luto de amizades, luto de relações amorosas, luto após um divórcio, pois, no fundo, qualquer perda sofrida implica um processo de luto, de desorganização e posterior adaptação e reorganização.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Filhos ditadores, alunos violentos

"Por favor, baixa o volume. O pai está a tentar fazer os teus trabalhos de casa."

 
Assistimos, ao longo das últimas décadas, a uma alteração progressiva dos valores e da forma de funcionamento da sociedade portuguesa que conduziu, entre muitas outras coisas, à existência de um número cada vez maior de crianças que não encaram o adulto (pai, mãe, professor, educador) com o respeito de “antigamente”.
Por um lado, essa alteração trouxe uma maior proximidade, saudável, entre crianças e adultos, a nível das escolas e das famílias. Porque, por vezes, o respeito vestia a forma de medo e a excessiva distância imposta não era emocionalmente saudável. Por outro lado, o limite entre o saudável e o caótico está a tornar-se difuso. Surgem, agora, filhos ditadores e alunos violentos. Crianças cada vez mais impertinentes, desrespeitadoras, desobedientes e egoístas, em variados contextos. Crianças que, maioritariamente, cresceram com poucos limites e poucos nãos, no seio de famílias onde o tempo escasseia, onde o afecto é trocado pela matéria, onde a paciência para educar nem sempre abunda..!
A situação explica-se segundo vários factores, mas falemos da culpa que cabe aos pais. Nesta época de apogeu dos direitos das crianças, parece que nasceu o medo (ou a preguiça) de as contrariar. Mas criar uma criança tentando não a contrariar e agradar-lhe sistematicamente, mesmo quando não é aconselhável, rapidamente se revela um erro estratégico. Infelizmente, sabemos que uma criança que não sabe elaborar a sua frustração dificilmente poderá estruturar-se de forma saudável, originando, pelo contrário, meninos/adultos birrentos e caprichosos. Os limites ensinam a criança a reagir à frustração. Desde cedo, saber ouvir não, saber que há coisas que se podem fazer e outras não, saber que há permissões e proibições e ser capaz de crescer com isso torna as crianças emocionalmente saudáveis e disciplinadas. Para lá dos limites, há a questão dos bens materiais. Nas casas, os brinquedos abundam, mas a criança brinca sozinha. E nem vale a pena, porque os melhores brinquedos da criança serão sempre os seus pais, como afirma Eduardo Sá. Há também a questão das fronteiras familiares. Nas famílias, estas fronteiras nem sempre são bem definidas e os papéis hierárquicos aparecem por vezes trocados, com filhos a mandar calar os pais ou a gritar com eles.
É preciso recuperar alguns valores pedagógicos perdidos no tempo. Penso em mim, nascida no seio da chamada geração rasca, prevejo para esta mais recente “fornada” uma alcunha bem mais negra do que aquela atribuída, em tempos, à minha geração.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

E outra pedrinha...!

"Na verdade, as pessoas só reconhecem as suas qualidades quando alguém lhas desvenda e esclarece, e só confiam em si próprias quando há quem, antes, tenha confiado nelas. Por outras palavras: havendo quem desvende o melhor de nós, há auto-estima.”
(Eduardo Sá)

Pedrinha (Da consciência)

Que reine agora o consciente onde dantes reinava o inconsciente.
(Sigmund Freud)

terça-feira, 26 de outubro de 2010

A Rota da Adolescência


A adolescência representa um período do desenvolvimento humano caracterizado por grandes oscilações de humor, afectos, identificações, escolhas e objectivos. O adolescente encontra-se em pleno período de reorganização de si mesmo e da sua vida interna e externa. Perante um corpo, uma mente e uma identidade em transformação, a necessidade de dizer adeus ao mundo infantil prende-se com a necessidade de uma readaptação, quer do adolescente, quer da sua família.
Da parte do adolescente, a readaptação exige o desligar dos comportamentos infantis (já não permitidos nem desejados) e também dos anteriores prazeres de criança. Exige um esboço da sua vida amorosa e a construção da identidade sexual (iniciada em criança e agora readaptada a uma realidade concreta). Nasce a procura de identificação através do grupo. É necessária a mudança do objecto de amor, anteriormente constituído pelos pais, que agora passará a ser um indivíduo de idade adulta. Exige um luto da imagem dos seus pais, anteriormente idealizada (fazendo deles super-heróis) e agora mais adaptada à realidade, com todas as suas falhas e características humanas, deixando o adolescente com a sensação de que afinal os seus pais não o protegerão de todos os males do Mundo. Nasce a necessidade de ser mais autónomo, acompanhada muitas vezes de um desamparo em que sente vontade de voltar ao colo dos pais, revoltando-se o jovem com essa mesma vontade. Através da necessidade de separação, o adolescente está ainda em busca dos seus limites e a testar as suas capacidades. Por vezes impulsivos e arrogantes, a violência da revolta é, geralmente, um mecanismo de defesa ou uma medida da pressão necessária para vencer os vínculos que ligam o adolescente à sua família. Não é um sinal de hostilidade relativamente a ela. Muitas vezes, quanto maior a ligação e a dependência da criança aos pais, maior a força com que se manifesta esta aparente revolta.
Assim, da parte dos pais, uma compreensão profunda da situação é essencial. O adolescente precisa de espaço para abrir as suas asas e de um voto de confiança e autonomia, mas precisa também de muito amor e de um modelo familiar e adulto a seguir. Na matriz familiar ele encontra o modelo do que é ser adulto. Embora os pais percam agora, aparentemente, o lugar de destaque na vida do adolescente, esta é a evolução natural do ciclo familiar e faz parte do processo de crescimento.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Pedrinha (Dos sonhos)

Um corpo que não sonha é como uma casa desabitada, a ruína é o seu destino.
(António Coimbra de Matos)

sábado, 23 de outubro de 2010

O complexo de Caim


É do conhecimento geral que uma grande quantidade de crianças não reage bem à chegada de um irmão. O psicanalista Charles Baudoin designou esta reacção de Complexo de Caim, devido à história bíblica (Génesis, 4) dos filhos de Adão e Eva. Caim, primeiro filho do casal, louco de ciúmes por o Senhor ter preferido a oferenda do seu irmão Abel, mata-o. Embora o ciúme seja o sentimento central, o complexo inclui ainda a presença da inveja, da raiva, da tristeza, do medo e da dúvida. Em termos comportamentais, este processo traduz-se geralmente por:
  • Agressões sobre o bebé, sobre a mãe, sobre si mesmo ou sobre outras crianças;
  • Regressão ou paragem no desenvolvimento, nomeadamente voltar a usar chucha, voltar a fazer chichi na fralda ou demorar mais tempo a largá-la ou, em crianças de idade escolar, falar à bebé, deixar de progredir na escola e voltar a fazer chichi na cama;
  • Perturbações do sono ou da alimentação, que se traduzem no aumento/surgimento de pesadelos ou terrores nocturnos, no sonambulismo, na recusa em comer (em casos extremos, anorexia e bulimia);
  • Doenças ou dores inventadas/imaginadas pelas crianças para chamar a atenção dos progenitores;
  • Isolamento da criança;
  • Formação reactiva, mecanismo em que a criança se torna subitamente muito adulta e generosa;
Qualquer uma destas reacções comportamentais, embora tenham como objectivo primário a chamada de atenção dos pais, não devem ser desvalorizadas pelos mesmos, visto reflectirem um sofrimento real da criança. A melhor forma de minimizar o sofrimento do filho primogénito começa por evitar, ou pelo menos preparar convenientemente, mudanças dramáticas na vida da criança, nomeadamente a nível de horários e outros hábitos familiares já estabelecidos. Também uma boa relação com o pai favorece uma melhor adaptação, tendo em conta o compreensível desdobramento materno. Não é aconselhável aumentar demasiado o grau de responsabilidades e de exigência para com a criança mais velha, sendo no entanto possível, se for da sua vontade, colaborar em tarefas novas relativas ao irmão. E, sobretudo, minimizar o máximo possível as discrepâncias na atenção fornecida às duas crianças, tentando transmitir sempre que o amor sentido pelo primeiro filho não diminuiu com a chegada de um novo elemento.

Referência: Otília Monteiro Fernandes (2005). Ser único ou ser irmão. Oficina do Livro.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Pedrinha

As emoções são o maior auxiliar da razão.
(António Coimbra de Matos)

Velhos são os trapos


No processo de envelhecimento, a idade de um indivíduo pode ser encarada sob diversos ângulos. O conceito de idade biológica refere-se, sobretudo, ao envelhecimento orgânico, que engloba todas as alterações no funcionamento dos órgãos e do corpo. A idade psicológica, por sua vez, está ligada às competências sócio-emocionais que podem ser mobilizadas e à capacidade de adaptação do indivíduo. Podemos falar ainda de idade funcional, ou seja, a forma como a pessoa funciona apesar da sua idade cronológica. Actualmente, o processo de envelhecimento pode, na generalidade, ser tocado pela mão do Homem, visto que muitos dos seus parâmetros podem ser controlados através de recursos pessoais, sociais, económicos e médicos.
Para lá das questões associadas à falência do corpo, é decisivo para o processo de envelhecimento a existência de saúde mental, que afecta tanto a idade psicológica como a idade funcional. Sabendo que há diversas doenças mentais associadas à velhice, a identificação de sinais ou factores de risco no idoso (perdas de memória, alteração de linguagem, de consciência e de julgamento, entre outras) é uma tarefa importante para promover o envelhecimento saudável. Para tal, é preciso alertar, prevenir, diagnosticar precocemente e iniciar um acompanhamento/tratamento eficaz o mais rapidamente possível. Esta função recai fundamentalmente na atenção do próprio e da sua família a estes e outros sinais e, ainda, na capacidade de resposta dos Serviços de Saúde nas suas várias valências. Para além da necessidade de, socialmente e politicamente, se adoptar um olhar atento às condições de envelhecimento no geral, há um trabalho que pode ser feito pelo próprio idoso, para evitar a tendência depressiva do envelhecimento. Estes afectos escuros, que começam muitas vezes na altura da reforma (fonte de stress pelo estigma de inutilidade que carrega), devem ser combatidos com a consciência de que esta fase da vida não é o vazio nem o início do fim. É a aurora dos hobbies, dos passeios, da família e dos netos, do casamento, que pode ser mais mimado. Com um olhar fresco e sereno, surgirá, sim, a possibilidade de realizar tarefas, actividades e sonhos anteriormente negligenciados por falta de tempo e disponibilidade.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Pedrinha (Do princípio)

No princípio foi o amor, e não o verbo.
(António Coimbra de Matos)

Os filhos do divórcio


A separação da família implica não só uma necessidade de reorganização individual de cada um dos cônjuges, mas também uma reorganização da vida afectiva da criança. Os “filhos do divórcio” devem ser acompanhados cuidadosamente pelos pais, que não devem deixar que as suas desavenças influenciem o crescimento do seu filho.
Há regras básicas, sendo a primeira deixar sempre bem claro que a separação dos pais não vai afectar de modo algum o amor sentido pela criança. O final da relação deve ser comunicado antes que um dos cônjuges abandone o núcleo familiar, não sendo necessário concretizar demasiado os motivos da separação. Explicações simples poupam as crianças a mais sofrimento. No entanto, deve haver abertura para todas as questões e possibilidade de expressar as emoções e os sentimentos relacionados com a situação, não fugindo do assunto por incómodo ou falta de paciência.
A estabilidade do quotidiano das crianças deve ser mantida na medida do possível, ou seja, quanto menos alterações a vida da criança sofrer, mais fácil será a adaptação às novas circunstâncias. Fundamental também, evitar a tendência para fazer dos filhos um pombo-correio, pois só os pais são responsáveis pela comunicação entre si. O esforço por um relacionamento aceitável com o ex-cônjuge é importante e é desumano esperar (ou provocar) que a criança tome partido por um dos pais.
O contacto da criança com os familiares e amigos que sempre estiveram presentes na sua vida familiar deve ser preservado, para que esta sinta que a família continua razoavelmente unida. Essencial, ainda, o respeito pelo tempo em conjunto com a criança por parte de cada um dos pais, agora separados. Devem ser proporcionados momentos de qualidade, com frequência e assiduidade. Na impossibilidade de estar com a criança não se pode negligenciar uma explicação, para que esta não fique a fantasiar que o seu pai/ mãe já não gostam de si da mesma forma. Apesar da separação da família ser dura para a criança, estes cuidados essenciais, assim como a certeza de continuar a ser amado pelos pais, permitem que a situação seja ultrapassada de forma gradual e natural.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Pedrinha

Nascemos de um sonho, vivemos no sonho, morremos quando o sonho acaba.
(António Coimbra de Matos)

Os primórdios de um desenvolvimento saudável


 
É na relação mais precoce entre a mãe e o seu bebé que se inicia toda a vida psicológica e se traçam os primeiros caminhos de vida do indivíduo. Na gravidez, a ligação entre a mãe e o feto estabelece-se desde muito cedo, sendo por isso que gestações conturbadas muitas vezes estão na origem de alguns problemas relacionais futuros. Quando o bebé vem ao mundo, os primeiros contactos estabelecidos são igualmente de muita importância. O primeiro olhar entre a mãe e o seu filho, e as interacções que a pouco e pouco se vão desenvolvendo, marcam a vida desta criança de forma inquestionável. A amamentação é um momento fundamental na vida do bebé, quer pelas reconhecidas propriedades benéficas do leite materno, quer pela criação da proximidade relacional entre mãe e filho, que atinge um dos seus expoentes máximos durante a amamentação. A amamentação deve, assim, ser prolongada o máximo de tempo possível. Uma boa relação entre mãe e bebé tem também por base a capacidade desta mãe de conter as angústias do bebé, de o fazer sentir-se seguro e protegido e de compreender as suas necessidades, colmatando-as. Esta mãe suficientemente boa não deixa que o seu filho se sinta em desamparo mas também não o sufoca e, a pouco e pouco este bebé vai conseguindo lidar cada vez melhor com o mundo e com as ausências da sua mãe, graduais. Originará uma criança com uma auto-estima positiva, auto-confiante e segura, mais autónoma e mais capaz de explorar o mundo.
A qualidade do vínculo que se estabelece nesta dupla relaciona-se também com a forma como a mãe olha o seu bebé. O rosto da mãe funciona para o bebé como um espelho e na forma como a mãe o olha ele começa a perceber quem é. O bebé vê-se da forma que a mãe o vê. Quando ele olha para a sua mãe e vê reflectido o amor e o encantamento, vive uma experiência positiva e começa a construir uma saudável imagem de si próprio. Por outro lado, o bebé que olha para o rosto da mãe e vê desilusão, frustração ou desamor, estará certamente mais exposto a um crescimento em que a imagem de si próprio é menos positiva. Pode dizer-se, essencialmente, que a receita mágica para uma relação saudável entre mãe e filho assenta no amor que se estabelece entre os dois. Esse é o ponto de partida sem o qual nenhuma outra estratégia fará sentido, pois é nesse amor que surge a capacidade de compreender, conter, securizar, educar, e é esse amor o responsável pela sensação indispensável de que não estamos sozinhos.

Pedrinha

O cérebro alimenta-se de informação. A alma, de relação.
(António Coimbra de Matos)

Mãe, não quero ir à Escola..!




Desde meados dos anos 80 que o conceito de bullying se tornou foco de interesse de psicólogos e outros técnicos mas, foi há poucos anos que o seu significado chegou ao cidadão comum. O bullying é uma forma de agressão na qual há um desequilíbrio de poder entre agressor e vítima. Assume várias formas e pode ocorrer nos mais variados contextos, sendo que o mais comum é entre crianças ou jovens, em contexto escolar.
Sob a forma de violência física ou psicológica, isto é, quer através de agressões físicas ou verbais (humilhações, insultos, chantagens, perseguições, exclusão), o bullying pode ter severas consequências, quer a curto, quer a longo prazo, na vida da criança e, posteriormente, do jovem e do adulto. Os casos de bullying ultrapassam em larga escala o que por norma se possa imaginar, sendo que muitas as crianças ganham pânico à escola devido à existência de algum tipo de abuso por parte de colegas, normalmente mais velhos ou, pelo menos, de alguma forma mais poderosos. Este pânico, traduzido tantas vezes num discreto “Mãe, não quero ir à escola” que tem como resposta um descuidado “Não sejas preguiçoso”, é muitas vezes camuflado também por dores e outras manifestações sintomáticas e possivelmente acompanhado de ansiedade, medos e pesadelos. Geralmente, as verdadeiras razões desta fobia escolar não são reveladas aos pais, nem a outros responsáveis, por medo de represálias.
Esta forma de violência infantil tem normalmente como vítima uma criança emocionalmente mais frágil, que se deixa amedrontar e se fecha no silêncio. Este medo alimenta o desejo do agressor (ou grupo de agressores) devido à sensação de poder sobre a criança assustada. Poderá ter, como consequência extrema, o suicídio, de tal forma a auto-estima da criança ou adolescente é destruída.
Exige-se a continuação da divulgação desta forma de violência. Exige-se um olhar atento por parte dos professores e funcionários das escolas, que são elementos privilegiados na descoberta da ocorrência destes episódios, nunca esquecendo que a subtil violência psicológica não deixa marcas visíveis, mas deixa marcas igualmente profundas. Exige-se ainda um cuidado especial por parte dos pais, que devem estar sempre atentos e disponíveis para investigar e ajudar caso suspeitem que um filho seu esteja nesta situação.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Ver os filhos partir




Assiste-se, actualmente, a um adiamento da saída dos filhos da casa dos seus pais. O prolongamento dos estudos, o desemprego, a dificuldade em arranjar casa, a necessidade de maior maturidade para o casamento e para a paternidade, os problemas económicos, representam os factores responsáveis por esse adiamento. Esta é, por vezes, uma fase de difícil gestão, tendo em conta que os filhos já atingiram o estatuto de adultos mas, no entanto, têm que cumprir algumas regras familiares que os pais também têm de continuar a impor. Contudo, a família deve facilitar a saída dos filhos de casa antes da sua concretização.
Esta atitude começa por promover a individualidade e autonomia dos filhos num contexto de respeito mútuo. Há espaços da vida do jovem adulto que já não poderão ser invadidos e a convivência começa a assentar numa espécie de negociação de parte a parte. O facto de o jovem poder ainda estar economicamente dependente dos seus pais, não lhe retira o estatuto de adulto, pelo que este não se sentirá bem se continuar a ser tratado como uma criança, revelando ainda mais dificuldade em adaptar-se no dia em que finalmente sair de casa.
Após a saída efectiva de casa, nascem outras questões para gerir. Um novo equilíbrio é necessário, porque agora os pais devem estar atentos mas não vigilantes, disponíveis para ouvir a ajudar mas com a capacidade de tolerar que outras soluções possam ser preferidas e, capazes de aceitar que as relações familiares se expandam a novos elementos provenientes da inserção de novos parentes.
            Quanto aos filhos, agora indivíduos independentes, cabe-lhes a tarefa essencial de manter uma fronteira saudável entre si (ou a sua nova família marido/mulher) e a família de origem, não estabelecendo limites demasiados rígidos nem demasiado permissivos na convivência e influência da família.

Referência: Alarcão, M. (2006). (Des)equilíbrios Familiares. Editora Quarteto.