quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Pedrinha (Do Medo)


O medo vai ter tudo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis
Vai ter olhos onde ninguém o veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no teto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos

O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
ótimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projetos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com a certeza a deles

Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados

Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)

O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos

Alexandre O’Neill
in Abandono Vigiado (1960)

domingo, 24 de novembro de 2013

Ainda sobre a realidade...

... porque na realidade o óptimo é frequentemente inimigo do bom.

Contos de Gente


Era uma vez. E depois foram felizes para sempre. É o princípio e fim de quase todos os contos de fadas que povoam o imaginário das crianças. É inquestionável a importância dos contos de fadas: ajudam-nos a imaginar, a sonhar e a desejar. Ensinam-nos sobre o amor e sobre a amizade. Sobre os afectos. Sobre os valores. Ensinam-nos sobre a coragem e sobre a derrota e a vitória. Com eles aprendemos também a gerir emoções semelhantes às sentidas nos enredos da vida real. São fundamentais, os contos de fadas.
O que é de pensar é que embora em todas estas histórias haja sempre lugar para as desventuras e percalços, o final, no entanto, é sempre inquestionavelmente feliz e nunca nenhum deles nos conta o que acontece depois. O “felizes para sempre” é um momento estático, fechado, é a frase que não deixa espaço para imaginar o que podia acontecer durante os 20 anos que se seguem, encerrando com o fim do conto todas as angústias. E se quando somos pequenos, acreditar nos desfechos felizes é o que nos permite andar para a frente com esperança, crescer é deixar cair a ilusão de que o fim das histórias é incondicionalmente feliz. Sem mais sobressaltos. Sem mais tropeções. As histórias são felizes enquanto puderem ser. Ora são mais felizes, ora são menos felizes, ora tornam a ser mais felizes. Crescer é poder tolerar a dúvida e aceitar que as certezas pertencem a um mundo que não é humano nem real, mas sim tranquilizadoramente encantado, pois cá fora a realidade é dinâmica e está sempre em movimento, envolvendo as pessoas e as suas relações nessas oscilações.
Para lá dos contos de fadas, há no mundo adulto muita literatura e cinema que assenta igualmente neste ideal de que no fim tudo está bem quando acaba bem. Aliás, muitas pessoas não toleram uma história cujo final não inclua esse momento “cor-de-rosa”. Porque aí há uma angústia que fica em aberto. Assim, percebemos que a problemática dos contos de fadas não se limita às crianças nem aos adolescentes. Quando falamos nessa fantasia infantil de não querer aceitar a montanha-russa da nossa existência falamos também duma parte de todos nós, adultos, que fica mais ou menos presa a um ideal de felicidade que nos acompanha desde pequenos.
Viver é encarar com optimismo essa realidade que não é eternamente nem estaticamente cor-de-rosa, aceitando que há muitos outros tons que pintam as histórias das nossas vidas. São tons vermelhos, laranjas, azuis, verdes, amarelos. Também há os cinzentos e mesmo os pretos. É, a realidade não é um conto de fadas. Mas é uma pintura colorida ainda mais interessante, viva e saborosa do que um conto de fadas. São contos de gente.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Dos abraços fortes


Pedrinha (Dos Abraços)

"A duração média de um abraço entre duas pessoas é de 3 segundos. Mas os investigadores descobriram algo fantástico. Quando um abraço dura 20 segundos há um efeito terapêutico sobre o corpo e mente. A razão é que um abraço sincero produz uma hormona chamada "oxitocina", também conhecida como a hormona do amor. Esta substância tem muitos benefícios na nossa saúde física e mental, ajuda-nos, entre outras coisas, para relaxar, a sentir segurança e a acalmar os nossos medos e ansiedade. Este maravilhoso calmante é oferecido de forma gratuita cada vez que temos uma pessoa nos nossos braços"