domingo, 13 de novembro de 2016

O Que Diz o Pânico



Tudo começa com uma sensação física de mal-estar, sintomas corporais que variam entre palpitações, tremores, sudação, vertigens, sensação de desmaio, dificuldades respiratórias, sensação de adormecimento ou formigueiros, dores físicas ou pontadas, medo de morrer ou de enlouquecer. Nesse primeiro episódio, o mal-estar parece crescer descontroladamente e o susto é grande. Às vezes, resolve-se por si só, outras vezes, o episódio termina mesmo no hospital, para onde a pessoa corre cheia de medo e onde os técnicos de saúde lhe comunicam, para seu espanto, que não tem nada. É "apenas" ansiedade.
Esta é a história comum à maioria das pessoas que já vivenciaram um ataque de pânico. Em seguida, o que acontece vulgarmente é que a pessoa passa a fugir dos estímulos que associa a esse mal-estar: se estava no carro, pode deixar de conduzir; se estava na escola, pode deixar de ir à escola; se estava no estádio, pode deixar de ir à bola. Desenvolve-se uma reação fóbica. Mas a crise pode repetir-se, noutras circunstâncias. E uma nova situação pode tornar-se um novo estímulo fóbico: desta vez pode acontecer num elevador e a pessoa vai deixar de andar de elevador (ou passar a andar nele com muito medo). Quando começam a dar-se vários episódios, a vida pode ficar seriamente limitada. Nasce um medo incontrolável de estar em locais onde se possa sofrer novos ataques de pânico e de onde a fuga possa ser difícil ou demorada, conduzindo não só ao já mencionado evitamento fóbico dos mesmos, como também ao isolamento social e retirada para lugares sentidos como seguros. E o medo do medo irá “comer-nos” por dentro.
O problema é que não podemos fugir de nós mesmos, e é dentro de nós que tudo acontece. O problema não está no carro, nem na escola, nem no estádio de futebol, nem no elevador está nas nossas emoções. Tal como uma febre, os ataques de pânico não são uma doença, são um sintoma. Indicam-nos que alguma coisa dentro de nós está mal. O pânico surge quando as doses de ansiedade se tornam insuportáveis, ainda que não tenhamos consciência dela. É um conflito emocional escondido que é preciso compreender e resolver, dotando a pessoa das ferramentas necessárias para seguir o seu caminho.
            As crises de pânico não têm de ser aguentadas estoicamente. E a medicação por si só, é insuficiente e até contraproducente, se não for acompanhada de uma terapia pela palavra, que leve o sujeito a olhar para dentro e a ver aquilo que está lá e não vê. O pânico é um sintoma que fala. O pânico é, ao contrário do que se possa pensar, um sintoma de vida. É sinal de que o sujeito está emocionalmente desperto e que precisa resolver qualquer coisa dentro de si, embora não esteja capaz. O pânico não é para se calar nem para se adormecer, é para se escutar com atenção e traduzir, sem demora, o seu significado.