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domingo, 27 de março de 2011

Quem cuida de mim enquanto cuido de ti



Alguns contornos da situação de cancro mudaram consideravelmente nos últimos anos. Hoje, os internamentos são mais curtos e existem melhorias significativas na eficácia dos tratamentos. Deste modo, a mudança do internamento para o sistema de tratamento ambulatório veio realçar a importância dos cuidadores informais, sobretudo os familiares (por diferenciação com os cuidadores profissionais). No actual sistema de saúde em Portugal, assim como em muitos outros países, o objectivo é responsabilizar as famílias nos cuidados ao doente oncológico, apesar dos custos sociais e económicos associados à prestação de cuidados informais por familiares.
Sendo descrita como uma experiência stressante que pode influenciar a saúde física e mental do cuidador, este impacto global das exigências físicas e psicológicas (bem como sociais e financeiras) da prestação de cuidados obteve, há algum tempo, a designação de exaustão do cuidador (George & Gwyther, 1986).
No contexto da prestação de cuidados, tem sido bastante estudada a morbilidade psicológica. Ou seja, que alterações psicológicas são encontradas nos cuidadores? Essencialmente a depressão ou, mais especificamente, os sintomas depressivos tais como a tristeza ou a anedonia (incapacidade de sentir prazer). Os níveis de depressão tendem a ser maiores se o cuidador for mulher e esposa. Também variam em função do bem-estar psicológico do doente, sendo que doentes oncológicos mais deprimidos estão associados a cuidadores igualmente mais deprimidos. E a situação económica da família é ainda um factor preponderante.
Embora o bem-estar emocional associado à prestação de cuidados em oncologia dependa de uma combinação de variáveis, diversas investigações sustentam o papel do suporte social como tendo um efeito bastante positivo. Também a coesão e flexibilidade familiar estão associadas a menor exaustão nos cuidadores dos doentes oncológicos.
Constata-se a necessidade de uma avaliação por parte dos cuidadores formais (isto é, da equipa médica) no sentido de fomentar intervenções na área da educação para a saúde. Urge que as políticas de saúde sejam direccionadas para a prevenção da sobrecarga, para a promoção da saúde mental e para o reforço das capacidades dos cuidadores para lidar com o stress e todas as exigências associadas à prestação de cuidados. Porque, mais uma vez, o bem-estar emocional da família será sempre um natural impulsionador do sucesso de tantos casos clínicos.

Referências Úteis: O doente oncológico e a sua família (Maria da Graça Pereira e Cristiana Lopes, Climepsi Editores, 2006)