quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

A dor que me deixaste


Há dores que os outros depositam em nós por não terem capacidade para tomar conta delas. Podemos guardá-las durante algum tempo, podemos tentar transformá-las em algo bom, mas nem sempre é possível. E quando assim é, quando o outro apenas tem para nos dar a sua dor e nada mais, quando o nosso único lugar é não ter lugar, chega a hora de partir. 

― O poema (em prosa) encerra a caminhada de dolorosa consciencialização e libertação, in "a dor que me deixaste" da querida e única Maria João Saraiva.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

O Engano da Perfeição


Querer ser e fazer melhor é um desejo que funciona como motor do crescimento humano mas a busca da perfeição é uma atitude de natureza totalmente diferente. O perfeccionismo é uma forma rígida e insatisfeita de existir, que encara com severidade e intransigência as falhas ou as dificuldades (as próprias e, consequentemente, as dos outros). Nem sempre é uma escolha pessoal. Os "perfeccionistas" são, vulgarmente, aqueles que mais sofrem. Vivem aprisionados num rigor prepotente, que não admite nada menos que a excelência, mesmo quando sabemos que tudo tem o seu defeito, tudo tem o seu senão. É, bem vistas as coisas, uma atitude resistente à condição humana, condição de imperfeição, já que só o divino cumpre, eventualmente, o ideal de perfeição. Logo, revela alguma omnipotência da nossa parte. Quem pensamos que somos para ambicionar a perfeição? E mais, será que a perfeição nos faria mais felizes? Com certeza que não é por aí. O bem-estar é um estado de espírito independente do grau de "perfeição" de cada um. É por isso que entre o perfeccionismo e o desejo de querer ser melhor há todo um universo de moderação e aceitação. Aceitação de nós próprios, em primeiro lugar. Pois a busca da perfeição é, em primeiro lugar, espelho da falta de amor que temos por nós e que nos leva em busca de um ideal a que queremos corresponder. Mais amor, por favor. Só em amor podemos evoluir de forma bonita e natural.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Canção de Engate


Vem que amor
Não é o tempo
Nem é o tempo
Que o faz
Vem que amor
É o momento
Em que eu me dou
Em que te dás

— António Variações

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Aqui vou eu!


Segunda-feira. 2015. Lua cheia. Não nos podemos esconder mais porque a luz incide hoje em pleno sobre nós. Ilumina a penumbra onde tantas vezes nos escondemos e recorda-nos que é tempo de recomeçar. É que o fim das festas (ou o fim das férias) nem sempre é fácil. Há um pequeno luto que se faz quando o quotidiano retoma o seu curso e as responsabilidades chamam por nós. São as dores da realidade, sempre impiedosa. No entanto, é a realidade (e os limites que nos impõe) que nos permite saborear as festas e as férias e a vida com a alegria de uma criança. Sem ela, tudo perderia a sua riqueza. Pior, sem ela, tudo perderia o norte. A realidade dá-nos direcção, um sentido e um significado. Sem ela, os dias seriam uma sucessão de dias sem conteúdo, conduzindo-nos inevitavelmente à apatia, ao tédio e ao vazio. Pois por mais que neguemos, o ser humano precisa absolutamente de produzir e de criar para se sentir pessoa.