sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Pedrinha (Dos Bons Investimentos)


"A despesa envolvida na psicanálise é excessiva apenas na aparência. Inteiramente à parte do facto de nenhuma comparação ser possível entre a saúde e a eficiência restauradas, por um lado, e um moderado dispêndio financeiro por outro, quando adicionamos os custos incessantes das casas de saúde e do tratamento médico e contrastamo-los com o aumento de eficiência e de capacidade de ganhar a vida que resulta de uma análise inteiramente bem sucedida, temos o direito de dizer que os pacientes fizeram um bom negócio. Nada na vida é tão caro quanto a doença – e a estupidez."


Freud em "Sobre o início do tratamento", 1913

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Pedrinha (Dos tributos)


“João dos Santos defendia o sonhar e o pensar para se opor à administração indiscriminada de drogas, que apenas faziam bem aos calos e à queda do cabelo, como ironizava.

Maria José Vidigal (in João dos Santos e a Moderna Psiquiatria da Infância)

De pequenino se torce o pepino


segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Fala-me de amor


O amor confunde-se. Confunde-se com tantas outras “coisas” sorrateiras. Ou melhor, as pessoas confundem o amor. É que há amores que não são mais do que uma ilusão desse sentimento, quando o que realmente sustenta a ligação são emoções de uma outra natureza e qualidade. Chamamos-lhe amor porque não sabemos que nome lhe dar. Chamamos-lhe amor, mas o engano não é por mal, somos guiados por convicção profunda de que amor será.
Mas em boa verdade não lhe posso chamar amor só porque me sinto tão especial ali, nesse recanto da vida de alguém. Não lhe posso chamar amor apenas porque quero/preciso ser amado quando no fim de contas amar pressupõe que, em primeiro lugar, amor é o meu olhar sobre o outro (que não vive sempre necessariamente na simetria do olhar que recai sobre mim). Não lhe posso chamar amor quando estou ali apenas porque quero/preciso de não me sentir só e porque um colinho sabe bem. Quando assim é, na demanda para colmatar uma falha original e respectiva fome de afecto, percebemos que afinal qualquer tampa pode servir na nossa panela desde que lá dentro fique quentinho e ferva. O amor será antes aquela única tampinha para a minha panela.
Também não podemos chamar-lhe amor quando andamos desesperados a tentar transformar alguém que “amamos” para nosso gáudio. É: “se isto, isto e isto mudasse, então eu seria feliz”. Se não amo um ser humano com tudo aquilo que faz dele único e especial, como posso falar de amor? É precisamente naquilo que nos distingue de todo e qualquer outro ser deste mundo que reside o amor. Nos pequenos detalhes, naquilo que frequentemente nem sequer se define ou explica, naquilo que é bom e particularmente naquilo que é menos bom. É amar o “pacote” inteiro. É o amar, muitas vezes, “apesar de”.
Se esse meu olhar de encanto, que distingue uma pessoa de milhões de outras pessoas, será ou não correspondido na mesma direcção e medida, isso é uma outra história. Porque para além de toda esta triagem de afectos, é ainda preciso encontrar do outro lado alguém que não esteja igualmente confundido e que não nos enrede em mais uma ilusão, chamando também amor a outra coisa qualquer muito parecida (jurando-o com pensamentos, palavras, actos e omissões).

Entretanto, em jeito de rodapé, se não der para desatar o nó da confusão, é melhor andar confundido do que não sentir absolutamente nada e não nos ligarmos a ninguém. Somos seres relacionais e, assim sendo, pior do que uma relação assente em confusão será deixar de acreditar/investir no amor e nas pessoas. 

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Verdade.


Pedrinha (Das aprendizagens fundamentais)

Fundamentalmente, para que a psicopatologia não progrida, deve ter-se aprendido: pelo exemplo, a perdoar; pela ternura, a amar; pela liberdade, a ser espontâneo; pela clareza de propósitos, a exigir a verdade; pelo entusiasmo, a desejar saber; pela alegria, a gostar de viver; pelo deslumbramento que desencadeou, a apreciar a beleza.


António Coimbra de Matos (in Mais Amor Menos Doença)

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Os recomeços


Costuma dizer-se que tudo tem um princípio, um meio e um fim. Que é isto que dá sentido às coisas, como se fosse o esqueleto que sustenta as histórias. É uma sequência temporal que se aplica a acções concretas como comer, dormir, tomar banho ou viajar, mas também a outras facetas mais complexas da vida como relações humanas, empregos e projectos vários. No limite, aplica-se à nossa própria vida.
Induzidos pelo ritmo exacto do relógio, já que o próprio dia tem princípio, meio e fim, sentimos que há um tempo para tudo, que ele está sempre presente. Os ponteiros correm apressados e fora do nosso controlo, marcando o início e o fim dos acontecimentos. E assim, no corre-corre do dia-a-dia, podemos facilmente entrar em piloto automático, fugindo à reflexão e perdendo oportunidades de virar à esquerda ou à direita em vez de seguir sempre em frente. É muito bom ter um foco e caminhar em direcção a ele (sem objectivos a nossa existência perderia o sentido) mas igualmente importante será não perder de vista o que se passa nas redondezas, tudo aquilo que pode estar por perto e ser ainda melhor.
De facto, cada dia o sol nasce e cada dia o sol se põe, sabendo nós, de antemão, que no dia seguinte o sol regressa sempre, trazendo consigo mais uma rodada de horas para nos oferecer. O próprio dia parece ensinar-nos também que tudo tem um princípio, um meio e um fim, mas olhando com mais atenção, percebemos que o que ele verdadeiramente nos ensina é que todos os dias podemos recomeçar. Os recomeços são momentos de oportunidade que podem surgir num qualquer momento de qualquer história e essa é a sua magia. A qualquer momento podemos reescrever tudo, podemos encontrar outros caminhos, outros sentidos e, começar de novo.
Os recomeços podem ser motivo de alegria ou de medo, mas serão sempre emocionantes. Porque o recomeço implica sempre alguma mudança, por mais pequena que seja. E a mudança faz-nos sentir vivos, embora sejamos frequentemente aversos a ela, persistindo no hábito e naquilo que nos é familiar. Chamamos-lhe a zona de conforto.
Face a tudo o que se passa em nosso redor, importa perceber que momentos de crise são também momentos de recomeço. Momentos de pensar novas possibilidades e construir algo diferente, mais apropriado ou proveitoso. Mário Quintana dizia que “a vida jamais continua, ela recomeça”. Quantos recomeços reconhecemos na nossa história? Eventualmente, nem todos os recomeços terão sido proveitosos, mas a boa notícia é que a possibilidade de recomeçar nunca acaba, podemos sempre recomeçar mais uma vez.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Reflexão de Fim de Ano

§  Este ano termina e estou mais apaixonada pela vida. Tinha conhecimento que vivíamos um momento de expansão da consciência mas saber é diferente de sentir. Só a experiência dá vida aos conceitos.

§  Não sei como será para o ano porque uma das coisas que me atingiu como um raio foi a noção de IMPERMANÊNCIA, de tudo aquilo que é hoje e que amanhã deixa de ser. Isto traz-nos ao momento presente, que se torna mais puro e melhor vivido ao conseguirmos um maior desprendimento do passado (o que doía ontem já não dói hoje) e maior confiança no futuro (o que dói hoje não irá doer amanhã). Tudo passa. A energia que desperdiçamos na angústia com aquilo que já lá vai e com aquilo que há-de vir é demasiada e faz muita falta para vivermos bem o presente. Como o nome indica, o presente é o momento de estarmos PRESENTES.

§  Essa impermanência das coisas leva-nos à constatação de que o que parece mau nem sempre é mau e de que o que parece bom nem sempre é bom. Sou levada a crer que a nossa existência talvez pressuponha realmente ser-se feliz enquanto cá estamos. Dizem por aí às vezes que a vida é feita para sofrer mas parece-me mais que o sofrimento é uma opção, ou seja, que depende da perspectiva do observador. No quotidiano, está a tornar-se mais fácil ver o lado bom das coisas aparentemente más e, por incrível que pareça, quanto mais se pratica isto mais faz sentido. Penso que a esta tendência para nos pacificarmos perante os obstáculos se pode chamar ACEITAÇÃO. Será tanto mais fácil quanto maior a confiança de que por trás de uma complicação pode estar uma bênção.

§   A aceitação anda de mãos dadas com a REFLEXÃO, porque para aceitar tenho que perceber que sou altamente responsável pelo que me acontece, e com a GRATIDÃO, pois se eu aceito que coisas menos boas me acontecem e que muitas vezes essas coisas são indicadoras de que algo melhor está a caminho, torno-me uma pessoa mais grata por tudo o que gira em meu redor. O inverso disto será praguejar, culpar os outros ou sentir-me uma vítima do Universo e creio que este é um terreno pantanoso de onde dificilmente se sai. 

§  A aceitação, a reflexão e a gratidão só podem germinar num pensamento FLEXÍVEL, capaz de questionar o mundo (interno e externo) e de aceitar perspectivas divergentes e hipóteses que nos ultrapassem. Flexibilidade dos conceitos e das ideias. Certezas absolutas são para deitar fora. Conviver com a dúvida é fundamental (já que a impermanência existe) e para isso precisamos de ser plásticos. A rigidez torna-nos duros, por vezes implacáveis, connosco e com os outros.

§   A flexibilidade ajuda-nos a ver as coisas como um FLUXO contínuo, não dicotomizando nem polarizando (bom e mau, certo e errado, feliz e infeliz, passado e futuro). Essa perspectiva permite-nos maior capacidade de integração das partes no todo. Todo o passado conduz ao presente e ao futuro. Tudo o que faço hoje se reflecte amanhã. Tudo o que dou agora receberei depois (e tudo o que não dou naturalmente não receberei). Todo o meu passado me conduziu à pessoa que sou e me encaminha para a pessoa que serei. A existência é um continuum.

§  Se o Universo funciona num continuum podemos dizer que, enquanto indivíduos, estamos todos ligados. É por isso que a UNIÃO e a COOPERAÇÃO devem prevalecer sobre a competição. Porque todos juntos temos mais força do que separados. Esta UNIÃO só pode acontecer se não se basear na dependência. Para haver verdadeira cooperação todos os indivíduos devem possuir AUTONOMIA (fundamentalmente emocional pois o resto vem por acréscimo). Caso contrário, uns sugam os outros e numa relação parasita/hospedeiro nada se cria, tudo se consome.

§  Para além da questão da força/energia colectiva, importa pensar que se estamos todos ligados aquilo que eu sou e que eu faço influencia aqueles que se relacionam comigo. Temos uma esfera de influência em nosso redor e essa consciência traz-nos RESPONSABILIDADE. Essa responsabilidade não é só para com seres humanos mas também para com os ANIMAIS e com o PLANETA, a quem também estamos ligados. Ter noção de que o chão que pisamos é responsabilidade nossa é cada vez mais fundamental.

§  Como a LIBERDADE é um pilar da nossa existência (o outro será o AMOR) é preciso aceitar que há quem não respeite nada disto. O que nos conduz à ideia de que, sobre estes e outros assuntos, por mais que gostássemos que os outros mudassem não nos compete a nós interferir na vida alheia. Há uma certa omnipotência subjacente a isto. A única e a melhor forma de produzir mudança, é sermos nós a mudar. Para que através da nossa esfera de influência possamos, talvez, provocar alguma transformação. Pelo exemplo (amor) e não pela crítica/castigo (guerra).


§   Obrigado a todos aqueles que eu amo e que me amam (cada vez mais e melhor), que enriqueceram o meu ano e que fizeram de mim uma pessoa mais atenta, mais grata, mais genuína, mais afectuosa e mais presente, com o vosso exemplo e amor! Muita Paz, muita Luz, Saúde e Amor. Feliz 2014!

Welcome 2014!