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domingo, 8 de novembro de 2015

Do que aprendi


Aprendi com tudo isso que aprende mais rápido quem sabe olhar em diferentes direcções e adopta novos ângulos de visão; aprende mais rápido quem escuta o outro, quem se dispõe a abandonar os seus desejos ou crenças para criar espaço; aprende mais rápido quem é humilde e também quem aceita sem oferecer excessiva resistência; aprende mais rápido quem não tem medo de dobrar ou de cair e quem se ri de si mesmo quando tal acontece; aprende mais rápido quem não se deixa apanhar pela vergonha de falhar, de fazer mal feito; aprende mais rápido quem se expõe, porque se arrisca; aprende mais rápido quem se desapega da prepotência de querer aquilo naquele momento e daquela maneira: às vezes não dá. Aprende mais rápido quem tenta distinguir o possível do impossível. Ou seja, aprende mais rápido quem respeita a realidade enquanto ser gigante que não se verga e por isso aceita a impotência de viver nela e com ela. Aprende mais rápido quem não perde mais que o tempo suficiente a lamentar-se ou a enraivecer-se com isso. Aprende mais rápido que tem essa capacidade de ajustamento e/ou adaptação. Porém, aprende mais rápido quem se permite sair da harmonia da adaptação quando surgem perguntas e se impõe um outro entendimento. De resto, e enquanto isto, aprende sempre mais rápido quem intui que o tempo também tem o seu papel e escolhe avançar — à distância entendem-se melhor as coisas.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Pedrinha (Da Terapia do Terapeuta)


Nunca me canso de dizer aos jovens terapeutas que a sua ferramenta mais vital são eles próprios, e que, consequentemente, o instrumento tem de estar primorosamente afinado. Os terapeutas necessitam de ter um grande autoconhecimento, de confiar nas suas observações e obrigatoriamente relacionarem-se com os seus clientes de uma maneira atenciosa e profissional. É precisamente por esta razão que a terapia pessoal está (ou deveria estar) na base de todos os programas de ensino terapêutico. Não só acredito que os terapeutas deveriam ter anos de terapia pessoal enquanto se formam, como ainda voltar à terapia à medida que vão evoluindo na vida; à medida que se sentir mais confiante enquanto terapeuta, e quanto mais acreditar nas suas observações e na sua objectividade, mais livre se sentirá para usar, com segurança, os sentimentos que os seus pacientes lhe suscitam.


Irvin D. Yalom in De Olhos Fixos no Sol

quinta-feira, 14 de março de 2013

Sobre outras perspectivas



"What if I should fall right through the center of the earth... Oh, and come out the other side, where people walk upside down? "

 Lewis Carroll in Alice in Wonderland

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Pedrinha (Do conhecer, compreender e transformar)


"A psicanálise serve para aprofundar o auto-conhecimento, e não só; também o conhecimento do outro (os outros) e, sobretudo, das relações não só interpessoais mas essencialmente intersubjectivas."

António Coimbra de Matos


Nota: Estes conhecimentos, por si só, não resumem a psicanálise nem a psicoterapia psicanalítica. Depois de conhecer, despontará o compreender. Estabelecer ligações entre o que é e o que foi. E, por fim, é preciso transformar. O que será. Passado, presente e futuro. Ligados. Descobrir, aceitar,  compreender, integrar e transformar. Em busca do melhor que temos dentro de nós.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Histórias de Psicoterapia


"(...) Com que ferramentas trabalha? A realidade é o próprio paciente, trabalho com aquilo que sente. Na psicanálise clássica, avançava-se com toda uma teoria que comprovasse os sintomas. Agora, há um novo paradigma, em que se entende que o processo de psicanálise é um processo que induz mudança. Este movimento tem origem num grupo de psicanalistas de Boston, com o qual eu me identifico. Baseia-se na ideia de que um indivíduo, perante as vivências que teve - não só na infância, mas também na adolescência -, adquiriu uma determinada personalidade ou um determinado estilo de relação menos saudável e menos produtivo para si. O processo de análise consiste em ir interpretando este estilo no sentido de resolver e de estabelecer uma relação mais saudável, de forma a que possa traduzir o que se passa no consultório para a sua vida real.

Como é que decorre o processo terapêutico? É o mesmo de sempre. Decorre a partir da conversa entre analista e paciente. A forma de conduzir é que é diferente. Em vez de termos na cabeça uma teoria que aplicamos, procuramos observar o que se passa com aquele paciente, vamos interpretando e construindo hipóteses em conjunto. Para mim, a questão fundamental é que uma pessoa seja capaz de se autoanalisar e que acabe a análise com uma capacidade de reflexão sobre si próprio maior do que a tinha. (...) "


António Coimbra de Matos (em entrevista ao jornal Expresso, a 3/8/2010)

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Bons, maus e assim-assim


A separação entre o Bem e o Mal remonta ao dia em que Adão e Eva comeram o fruto proibido. De forma semelhante, existe, desde sempre, uma tendência para dividir também as pessoas em duas categorias consequentes: os bons e os maus. Essa divisão perpetua-se de geração em geração, sendo apresentada aos mais pequenos também pelos contos infantis, confirmando-se depois em páginas de livros e enredos de filmes.

Na verdade, bom e mau co-existem dentro de cada um de nós. Tal como, mais especificamente, existem emoções e sentimentos diferentes como a raiva, o ódio, a inveja, o ciúme, a tristeza, a ternura, o amor ou a paixão, habitando como vizinhos de um mesmo prédio. Ninguém é completamente bom e ninguém é absolutamente mau. Somos bons e somos maus em situações diferentes ao longo da vida. Catalogar o mundo rigidamente em preto e branco é demasiado redutor. É bom aceitar que certas coisas, são, simplesmente, cinzentas, se quisermos ser realistas e, logo, mais ajustados.

Somos dinâmicos, não estáticos. Somos complexos. Negar que possuímos características boas e más é negar essa complexidade. Uma ferramenta chave para compreender e aceitar esta perspectiva é a tolerância. Para com os outros e para connosco próprios. Essa tolerância permite-nos viver e sentir mais pacificamente as relações humanas que nos envolvem e aceitar que temos direito a cometer erros, tal como todos os outros.

Efectivamente, a cultura judaico-cristã moldou-nos ao longo dos tempos segundo esta grande divisão entre o Bem e o Mal. Promovem-se os sentimentos/actos bons, deixando a culpabilidade a pairar em cima das cabeças (ou bem agarrada às costas) quando nos apercebemos que fizemos ou sentimos algo menos bom. Por outro lado, se quisermos justificar-nos com isso, essa mesma cultura católica também nos ensina o perdão e a tolerância, logo, dá-nos igualmente a chave para a questão. Talvez, mais do que um fundamento cultural ou religioso, seja sim uma forma de sossegar o espírito. No fundo, encontrar e atribuir rótulos é uma forma de serenar a dificuldade que temos em aceitar tudo o que é ambíguo, indefinido e instável. Sim, gostamos de fingir que sabemos as respostas a todas as perguntas.

Se pensarmos que o nosso único defeito é a teimosia (exemplo que se retira de inúmeras entrevistas que se encontram por aí) ou somos descaradamente mentirosos ou, mais grave que isso, nunca parámos para pensar sobre o que há de menos bom dentro de nós. Todos temos a nossa bagagem de vida, produto da nossa história. Gostemos ou não, essa bagagem faz de nós quem somos e, embora possamos sempre (e felizmente) transformarmo-nos e melhorarmos, para isso é preciso, primeiro, questionar-nos sobre nós próprios e reconhecer que temos falhas.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Pensar os pensamentos

Mesmo suponho a existência de um aparelho de pensar os pensamentos bastante eficaz, mesmo assim, existem ainda muitos pensamentos que o sujeito não é capaz de pensar sozinho e que são colocados no interior do analista para ele pensar. Uma das principais funções do analista é pensar aquilo que o analisando não é capaz de pensar.

Carlos Amaral Dias (Freud para além de Freud)

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Mudanças


De que forma a nossa infância influencia quem somos e como funcionamos? Influencia muito. Durante o percurso de vida, vamos sendo condicionados por acontecimentos e vivências, que nos conduzem por determinados caminhos. Contudo, há um molde inicial que se constrói desde os primeiros momentos e que formata os nossos comportamentos, atitudes e valores de forma bem vincada.
O objectivo de compreender as raízes do nosso funcionamento vai muito além de procurar um bode expiatório para o sofrimento humano. Durante uma análise ou outra terapia, procura-se compreender para transformar e nunca, jamais, compreender para acusar e julgar. Através da compreensão dos porquês surge a capacidade de transformar certos padrões de funcionamento, ciclicamente repetidos.
Por norma, qualquer mãe-ou-pai-digno-desse-nome faz o seu melhor e, quando age, age na melhor das intenções. No entanto, criar uma criança é uma tarefa árdua. E aceitar a falibilidade humana é tarefa crucial para o desenvolvimento emocional (a nossa e a dos outros). Em acréscimo, cada progenitor traz também consigo uma bagagem emocional, legado dos seus próprios pais e das suas vivências, que condicionaram igualmente a sua personalidade e funcionamento perante os filhos. Estamos perante um fenómeno transgeracional. Sim, a nossa família molda-nos. E molda-nos a vida emocional, molda-nos a vida profissional, molda-nos a vida familiar…! Molda o nosso pensamento, as nossas acções, reacções e relações.
“Então, os meus pais (ou educadores, outros) tiveram influência na minha personalidade? E também na minha forma de encarar a vida? E já agora, porque fracassam todas as minhas relações amorosas?! Porque sou assim? Será que o problema é meu ou será que escolho as pessoas erradas?” Ora, que boas perguntas! Sim, o meio familiar (com todas as suas variáveis) influencia garantidamente a personalidade. Sim, condiciona a nossa forma de olhar a vida (e o mundo). E sobre as relações, muito mais se pode descobrir, pois num sistema (nós e o outro) não só existem as nossas características como também as características do outro. Um verdadeiro cocktail...! Poderá, sim, haver uma falha na forma de se relacionar com o parceiro. Poderá, sim, por outro lado, haver uma escolha viciada e inconsciente de pessoas problemáticas (problemáticas na relação connosco e não necessariamente problemáticas "de fundo") como parceiro. Poderá ainda haver um bloqueio na relação em função do choque de personalidades, choque esse que eventualmente se ultrapassa se ambas as partes reconhecerem a raiz dos conflitos e a trabalharem, bem como trabalharem na sua evolução pessoal. Ou então não se ultrapassa, mas pelo menos o indivíduo fica a perceber porque falhou a relação e seguramente aprenderá algo útil à sua próxima escolha. Quanto melhor nos conhecermos, mais fácil ser feliz.
Com ajuda, em terapia, tudo isso se trabalha. Tudo se muda, tudo se transforma. De dia para dia. E se falar numa mudança absoluta é algo utópico, uma mudança suficiente é perfeitamente alcançável. Começa com um exercício conjunto de descoberta dos padrões de funcionamento. Fazem-se as pazes com o passado, quando necessário. Depois do entendimento, um novo exercício, algumas vezes penoso e prolongado, de tentar contrariar e modificar a questão problemática.
Iniciar uma terapia não implica doença mental. A existência de um sofrimento ou limitação é motivo suficiente para procurar a mudança. Ter a capacidade de reconhecer que uma ou mais áreas da nossa vida não estão a fluir como deveriam, procurar compreender as causas e as perspectivas de mudança, demonstra inteligência e capacidade de insight. Há quem diga que viemos ao mundo para sofrer. Não é um bom princípio. Se a nossa evolução pessoal nos trouxer menos sofrimento, porque não?