A Família - Gustav Klimt |
O
conceito de disponibilidade emocional começou a ser trabalhado na década de 70.
Terá nascido, assim como muitos outros constructos, dos trabalhos de John
Bolwby sobre a teoria da vinculação (a forma como se desenvolviam os laços
afetivos entre as mães e os seus bebés). Estávamos nos anos 50 e soube-se então
que um dos principais requisitos para uma relação saudável entre as mães e os
seus filhos (hoje diríamos “entre os pais e os seus filhos”) é a
disponibilidade emocional dos progenitores. Actualmente, este conceito já não
se aplica unicamente às relações parentais, tendo sido alargado para as várias
relações que desenvolvemos ao longo da vida.
A
disponibilidade emocional é um estado de “concavidade”, como diria Maria João
Saraiva. Se disponibilidade é, por exemplo, receber alguém em minha casa,
disponibilidade emocional é receber alguém “em mim”. Isso implica deixá-lo
aproximar-se e ceder-lhe espaço mental e afetivo (pensar nele, preocupar-me com
ele, cuidar dele, brincar com ele, estar com ele, sofrer com ele). Implica ainda
abrir o meu coração a uma relação íntima com os riscos que todas as relações
implicam: conflitos, tristezas, sacrifícios. Estar emocionalmente disponível é
a capacidade de me ligar a alguém de forma autêntica, intuitiva e dedicada. É
abraçar, entendendo e aceitando a pessoa como ela é ou conforme está, e
deixando-a ir e vir nos seus movimentos de vida. Exige criar um lugar dentro de
mim onde moram as coisas do outro: as suas necessidades emocionais e os seus
desejos mais sensíveis. Em certa medida, o outro passa a habitar em mim. E a “coisa”
deixa de ser somente sobre nós.
A
disponibilidade emocional é-nos exigida em grau diferente em função das
relações, sendo entre pais e filhos que atinge o seu expoente máximo, pelo grau
de dependência e fragilidade dos mais pequenos. As relações românticas, pelo
grau de intimidade que se estabelece, também são exigentes, assim como as
amizades mais próximas. As relações terapêuticas, idem, um bom terapeuta tem de ser “espaçoso”. Também em momentos de
crise dos entes mais queridos nos é pedido, quase intuitivamente, maior disponibilidade
emocional: para acolher a sua dor, os seus medos ou a sua zanga.
Porém,
somos humanos. A nossa disponibilidade emocional é variável, mas estaremos sempre
mais disponíveis para o outro quanto maior o nosso bem-estar. É preciso que
estejamos relativamente tranquilos e que a nossa “barriga” esteja mais ou menos
satisfeita, afetivamente falando, para que possamos, tantas vezes, abdicar de
nós em detrimento de alguém. Em certos momentos, podemos não conseguir (e em
outros nem sequer devemos) fazê-lo. Ainda, quando existe trauma severo na nossa
vida e estamos focados na proteção do nosso próprio psiquismo, torna-se
impossível intuir e responder às necessidades afetivas do outro. Imperam as
dificuldades relacionais — as intolerâncias,
os desencontros, as inseguranças, as birras, as “claustrofobias”, angústias de
várias espécies que impedem um encontro amoroso sintónico. Infelizmente, a
indisponibilidade emocional funciona, tantas vezes, como um “tiro no pé”: quem
não se dá, também não recebe.
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