No desenvolvimento humano, todas as etapas do ciclo de vida
implicam desafios específicos. Como tal, não só durante a infância e
adolescência se processam grandes movimentos e consequentes mudanças. Também ao
atingir a meia-idade surgem grandes e novos desafios. A percepção do
envelhecimento, a relação conjugal revisitada, os filhos tornados adultos e a
competição com pessoas mais jovens no mercado do trabalho podem conduzir à
chamada “crise da meia-idade”. Assim, como em todas as restantes etapas da
vida, o bem-estar psicológico está em muito ligado à capacidade de enfrentar e
resolver com sucesso esses mesmos desafios.
O primeiro desafio, aceitar
o envelhecimento do corpo. Por norma, esta tarefa de aceitação tem mais
impacto no ser feminino (fomentada pelo peso do estigma social da perfeição do
corpo feminino e boicotada pelas transformações associadas à realidade da
menopausa). No homem, o envelhecimento do corpo é encarado de forma mais
tolerante mas impõe-se igualmente uma dolorosa consciencialização do mesmo nos
casos em que se possa associar ao declínio do funcionamento sexual. Esta aceitação
implica a consciência de que o corpo não volta a ser o que foi um dia,
percebendo, porém, que o corpo é apenas uma pequena parte do nosso ser e que,
por isso, vale o que vale. Quanto ao declínio do funcionamento sexual, na
maioria dos casos o problema é de origem ansiosa, muito mais do que
fisiológica. E no fundo, quanto maior a pressão para nos mantermos
excessivamente jovens, maior tristeza e maior irritabilidade sentiremos e mais
dificilmente o seremos.
O segundo desafio, lidar
com a limitação do tempo e com a ideia de morte. Embora estas questões
possam surgir muito mais cedo em certas pessoas, nesta etapa da vida é mais
vulgar que apareçam alguns receios mais prementes relativos ao tempo que nos
resta, bem como algumas angústias associadas a uma maior proximidade do momento
da morte. Porém, seremos tão mais livres disso quanto mais realizados nos
sentirmos com a nossa vida presente, bem como com aquilo
que construímos até à data. Seremos ainda mais livres disso se
os nossos dias forem bem vividos e se nos sentirmos amados e úteis.
O terceiro desafio, manter/aprofundar
a intimidade. Chegado o momento de autonomização dos filhos por excelência,
impera um novo olhar sobre a vida conjugal. De facto, os maiores índices de
divórcio acontecem nesta fase, pois após tantos anos a olhar pelos descendentes
e a cuidar dos objectivos familiares nem sempre os casais conseguem ir olhando
um para o outro da forma mais adequada. E por fim, quando marido e mulher se
olham novamente a sós, sem a presença de um terceiro, encontram tantas vezes um
certo (ou mesmo enorme) desconforto. Obrigados a conviver sem mediação, muitas
vezes desistem da aventura da redescoberta do outro antes de sequer tentar, e
logo no preciso momento em que recuperam a intimidade perdida ao longo dos anos.
O quarto desafio, transformar a relação com os filhos. O
desafio da parentalidade está em constante transformação. De miúdos a graúdos,
as exigência dos filhos para com os pais (e vice-versa) está sempre em
transformação. Esta transformação não deve acontecer com nostalgia, mas sim com
agrado, energia e positivismo perante um acontecimento natural do ciclo de
vida. Se os filhos estão a crescer, é porque fomos bons pais. E assim torna-se
fundamental aprender a ler nas entrelinhas o que os filhos pedem de nós, quais
são as suas reais necessidades, para nos ajustarmos a elas com bom senso.
O quinto desafio, actualizar-se
profissionalmente. Perceber que é fabuloso poder aliar a sabedoria e
experiência da idade a todas as ferramentas de renovação de conhecimentos que
hoje temos ao nosso dispor. Por mais que os jovens, sem dúvida, mereçam
oportunidades, na meia-idade ainda há trabalho a fazer. A reforma vem mais
tarde.
O sexto desafio, tornar-se
avô/avó. Consequência mais ou menos directa do quarto desafio, há que
descobrir os prazeres de poder mimar sem tanta pressão para educar (ou educando
sem ansiedade, pelo menos) e de poder acrescentar um novo papel à nossa vida,
que nos proporcionará descobertas maravilhosas, até sobre nós próprios.
O sétimo desafio, cuidar dos mais velhos, os pais
dos pais. Há frequentemente uma geração anterior que precisa de ternura e
cuidado. Nem sempre é fácil inverter os papéis. Em caso de doença, falamos de
um apoio muito exigente e desgastante.
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