Falar
de sonhos não é simples. Sonhar faz parte de uma função psíquica fundamental do
ser humano, a função simbólica. Assim sendo, para compreender o que representam
os sonhos, é preciso perceber, primeiro, o conceito de símbolo.
Um
símbolo, elemento essencial na comunicação e pensamento humanos, é um termo, um
nome ou uma imagem que nos pode ser familiar, mas que possui uma conotação
especial para além do seu significado evidente. Assim, uma palavra/imagem é
simbólica quando implica algo mais do que o seu significado manifesto e
imediato.
A
nossa mente trabalha com símbolos no seu quotidiano. Mas este uso consciente
que fazemos dos símbolos é apenas um detalhe óbvio que remete para um facto
psicológico menos conhecido: o homem também produz, ele próprio, os seus símbolos,
inconsciente e espontaneamente, sob a forma de sonhos.
Há
acontecimentos (vivências com pensamentos, afectos e emoções associados) na
nossa vida de que não tomamos consciência. Ficam “guardados” abaixo do limiar
da consciência. E, apesar de os termos ignorado (mesmo sem saber que os ignoramos), mais tarde brotam do inconsciente, de forma camuflada: por exemplo, sob a forma de um sonho. Saiba-se que um sonho raramente representa
aquilo que nos parece. Por isso são, tantas vezes, desprovidos de lógica ou nexo. Para
além do sentido manifesto (evidente) do sonho, possui um poderoso sentido
latente (simbólico, escondido, mascarado), dificilmente acessível sem um
conhecimento muito profundo de nós próprios.
Do
ponto de vista histórico, foi o estudo dos sonhos que permitiu, em grande parte,
aos psicólogos, a investigação do lado inconsciente do funcionamento e
comportamento humano. De facto,
por serem produzidos de forma inconsciente, raramente o indivíduo percebe o que
simbolizam, na verdade, os elementos do sonho. Os livros de interpretação de
sonhos pouco ajudam, pois todo o sonho merece uma análise global e
contextualizada, não podendo ser analisado “às fatias” ou de forma standardizada.
Os sonhos são um mundo intrigante para a maioria das
pessoas. Sabemos que apenas conhecemos uma ínfima parte do que se
passa dentro de nós. O “resto” fica bem lá no fundo e, muitas vezes, só um
processo de psicanálise ou psicoterapia psicanalítica pode trazer à consciência
aquilo que, sozinhos, não compreendemos (ou que “escondemos” de nós próprios). Relembrando
o que disse Carl Jung em O Homem e os seus Símbolos (1987), “aquele que nega a existência do inconsciente está, de
facto, a admitir que, hoje em dia, temos um conhecimento total da psique. É uma
suposição evidentemente tão falsa quanto a pretensão de que sabemos tudo a
respeito do universo físico. A nossa psique faz parte da natureza e o seu enigma
é, igualmente, sem limites.”
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