Quando
crescemos em ambientes de pouca afectividade ou fomos insuficientemente
cuidados, tendemos a crescer “coxos”, ou seja, fica a faltar-nos uma estrutura
de confiança e amor-próprio suficientes para sermos emocionalmente autónomos. Como
consequência, facilmente procuraremos alguém que cuide de nós enquanto adultos,
ainda que este movimento seja inconsciente. Por vezes, se o dano for ligeiro,
pode encontrar-se um parceiro suficientemente saudável que nos permita sarar
quase espontaneamente as falhas das nossas relações precoces. Porém, se o dano
for profundo, não só ninguém poderá reparar o que está para trás (nem tem essa
obrigação) como nós próprios seremos obstáculo ao bom funcionamento da relação,
consoante a sofreguidão com que nos grudamos ao outro.
É
vulgar encontrar relações em que um elemento funciona como pai/mãe/bengala/penso-rápido
(e por aí fora) do outro. E há muito frequentemente confusão entre isso e algo
muito belo (e bem diferente) que se chama “amor”. Podemos então falar de
dependência emocional, definindo-a como um padrão persistente de necessidades
emocionais insatisfeitas que se tentam suprir de uma forma desadaptada com
outras pessoas. Quando precisamos do parceiro para nos sentirmos um ser humano
completo, quando toda a nossa vida gira em função de uma relação amorosa,
quando não há nada no mundo que mais importe do que isso, é preciso parar para
pensar. É aquilo que se entende por um amor fusionado, em que não se percebe
onde começa um nem onde acaba o outro. Comunhão, sim, fusão, não.
O
que é ser emocionalmente autónomo? Não é não precisar de ninguém pois isso não
existe. O ser humano é um ser relacional e a escolha de um parceiro faz parte
da condição humana, o lugar onde se coloca o parceiro é que é digno de análise.
A relação mais saudável é aquela em que duas pessoas adultas se sentem, per si, completas, mas que, quando se
juntam, se transbordam mutuamente e criam algo novo. É poder existir no mundo
independentemente da presença constante de alguém ao meu lado. É poder
funcionar no dia-a-dia com entusiasmo e confiança mesmo quando estou sozinho. É
amar-me. É possuir uma existência, personalidade, vontade, gostos e ideais
próprios, e respeitá-los, assim como respeitar/aceitar genuinamente que o meu
parceiro possa ser diferente de mim em todos estes aspectos. É permitir que a
relação seja um sistema aberto e nunca um sistema fechado sobre si mesmo (senão
a relação satura e, sem oxigénio, morre). É existir um Eu, reconhecer um Tu (diferente
e separado do Eu), e sentir o Nós como o produto da soma de ambos.
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