Há viagens que temos que fazer dentro de nós. Nelas encontramos vivências, lugares, afectos desaguados em estranhas penumbras de nada; este, aquele e o outro, num tempo que às vezes não liga, como uma fiada de pérolas, tudo isto que habita cá dentro e vai e vem, vai e vem.
Quando descem as pálpebras, abre-se o silêncio da plácida contemplação de mim – é lá o lugar, o lugar ímpar do encontro connosco, em toda as formas que demos às memórias, guardiãs de vividos, aos sonhos, relicários de esperanças e cálidos desejos.
Por vezes sossobramos à dor, vergamo-nos sob o peso de histórias aparentemente acabadas de perda e sofrimento. Mas é nestas viagens e no regresso delas que vamos retocando de cor buracos de mágoa, que vamos suavizando desilusões perdidas em entrelinhas de histórias que, afinal, ainda podemos reescrever e até terminar.
Regresso: dessa viagem guardo às vezes na mão o querer, o querer aceder àquele assustador mas deslumbrante mundo de mim.
Maria João Saraiva* (in A dor que me deixaste)
*Psicanalista associada da Associação Portuguesa de Psicanálise e Psicoterapia Psicanalítica
Olá, achei graça a este excerto de A Dor que me Deixaste estar aqui.
ResponderEliminarum abraço
mariajoáo saraiva
Olá! O seu livro dá-nos a mão ao longo dessa viagem, profunda e deliciosa, bem cá dentro de nós. Os meus sinceros parabéns. Outro abraço.
ResponderEliminarSofia Pracana
Obrigada, Sofia :)
ResponderEliminarquando as pessoas fazem viagens profundas e deliciosas é porque têm dentro de si esses trilhos de beleza e profundidade :)
abraço
maria joão