João
dos Santos, mestre pedagogo, médico e psicanalista português do séc. XX, dizia
que “não há melhor remédio para a tristeza do que chorar”. No entanto, se
alguém chora junto de nós, com quanta facilidade dizemos “deixa lá, não chores”,
sem nos apercebermos como somos chatos quando não damos espaço para o outro
chorar. Mais do que chatos, somos pouco empáticos e mesmo desrespeitosos, pois
respeitar a tristeza de alguém implica aceitar esse sentimento, legitimá-lo e
permitir a sua expressão.
A
verdade é que quando dizemos a alguém para não chorar ou para não ficar triste,
fazemo-lo por nós e não pelo outro. Zangando-se, muitos pais ficam melindrados
ou sentidos com o choro dos seus filhos. Acham que lhes dão tudo do bom e do
melhor e que, assim sendo, eles não têm motivos para chorar, “esquecendo-se”
que todos temos tristezas incompreensíveis. Por vezes mandamos o outro não
chorar porque o choro nos é incómodo, desconfortável ou mesmo perfeitamente
insuportável, espelhando como é difícil suportar a tristeza e o desamparo de
alguém. Aceitar o choro do outro implica aceitar o sofrimento do outro e mais,
recorda-nos de sofrimentos muito nossos, que tantas vezes tentamos esquecer.
Contactar com as partes mais frágeis do outro é contactar também com as nossas,
e é aí, nesse lugar escuro, que pedimos, “não chores”.
É
que para além de não conseguir lidar com o outro que chora, muitos não podem ou
conseguem, eles próprios, chorar. Uns não choram porque nem se apercebem que
estão tristes, o que é algo ainda mais triste. É uma existência robotizada.
Outras pessoas sabem que estão tristes, mas aprenderam a esconder do mundo a
tristeza. Talvez porque em pequeninos ninguém lhes tenha dado liberdade de chorar.
Talvez alguém lhes tenha ensinado (fundamentalmente aos rapazes) que chorar é
sinal de fraqueza. Chorar é também uma questão cultural, mas quantas vezes a
cultura nos oprime e limita nos nossos instintos mais básicos e saudáveis?
Chorar é melhor do que qualquer antidepressivo. Chorar é catártico. Permite
libertar tensão, aliviando a angústia e pondo fora o sofrimento, ao invés de o
guardar cá dentro, como uma espécie de “dor de estimação”.
Como
dizia Luís de Camões, “pouco sabe da tristeza quem, sem remédio para
ela, diz ao triste que se alegre”. Perante o choro de alguém, em vez de
conselhos, ofereça-se antes um colo ou um abraço, ainda que isso intensifique o
choro. Mais vale pôr para fora do que para dentro. Em psicoterapia, muitas
melhoras acontecem quando alguns pacientes se tornam capazes de chorar. Chorar
é aceitar a nossa humanidade e parar de fugir do sofrimento. Só não sofre quem
está morto.
Muito bom. Gostei de ler isto. De certa forma ajudou-me. :)
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