Fotografia de Finn Beales |
Fotografia de Sofia Pracana |
Fotografia de Finn Beales |
Há pessoas que são florestas cerradas. Oferecem caminhos
sinuosos, por vezes agrestes, entre o denso arvoredo. Envolvem-nos em nevoeiro,
atirando-nos ao arrepio de enredos misteriosos enquanto o diabo esfrega um
olho. O dia é curto, a noite é longa. E há as sombras. Pressentimos que muito se
esconde entre as sombras mas, como não nos é permitido perceber o que é, o descanso não tem lugar aqui;
vigilantes, os sentidos precisam de se certificar que não nos perdemos ou que
nenhum animal à solta nos surpreenderá. Lembramo-nos destas pessoas com o
fascínio que nos despertam os lugares inóspitos, muito belos na sua natureza mas que não se permitem habitar.
Há pessoas que são grandes cidades. Espaços pulsantes,
agitados, que nos oferecem luzes, entretenimento e cultura, e nos fascinam pelo
seu charme e movimento. Oferecem-nos um pouco de tudo excepto o silêncio e a
possibilidade de contemplação que nos faz falta. Também as luzes podem ofuscar.
Não há grandes perigos mas o ruído impera, cansando-nos. Depois, o tempo aqui é
demasiado veloz, não há espaço para o tédio nem para a placidez. Recordamos
estas pessoas com o sorriso que nos desperta a chegada de madrugada a uma
metrópole que nunca dorme.
Há pessoas que são praias abertas. Lugares luminosos,
amenos, cujos areais se estendem ao alcance dos nossos olhos. E ali nos espraiamos, horizonte sempre à vista, descansando o corpo e o espírito. Podemos
correr, podemos dormir, podemos tomar banho. Podemos despir-nos sem pudor. O
tempo corre sem pressas. Faltará, porém, alguma da energia vibrante que
encontrámos noutros lugares, florestas e cidades desse mundo. Faltará o
arrebatamento. Lembramo-nos destas pessoas com a serenidade de quem chega a casa.
A diversidade natural é a maior riqueza do nosso planeta.
Que se saiba, não há ainda outro igual: tantos cenários, tanta
complexidade. Da mesma forma nos encanta o espectro humano. É nessa
multiplicidade que nos desenvolvemos. Entre florestas, praias e
cidades, viver é precisamente ir explorando todos os ambientes com a curiosidade que
nos é inata, retirar o melhor de cada um e descobrir onde queremos morar, onde seremos mais felizes, a cada momento.
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