Surgem,
aqui e acolá, certos radicalismos. Surgem, aqui e acolá, certos nacionalismos.
Não precisamos olhar para muito longe na história para saber que este é um
assunto que merece muita discussão e reflexão nas sociedades. Afinal de contas,
o que parece é que as massas caem nestas armadilhas sem perceber muito bem
como.
Hannah
Arendt foi uma filósofa política alemã que se debruçou sobre o estudo das
origens do totalitarismo e que criou um conceito extremamente interessante, a
“banalidade do mal”. Tendo assistido ao julgamento de Adolf Otto Eichmann, responsável pela logística do extermínio de milhões de pessoas no final da II Guerra Mundial durante a chamada “solução final”, Arendt concluiu nos seus artigos que
Eichmann não tinha quaisquer motivos criminosos nas suas acções — era um homem assustadoramente banal,
um burocrata medíocre que justificou todos os seus comportamentos com o
cumprimento de ordens superiores. Uma máquina executante, que jamais reflectiu
sobre o significado das suas acções, sem livre arbítrio ou capacidade crítica. Não
foi a maldade extrema que conduziu os comboios para Auschwitz, não foram
monstros cheios de ódio ou racismo que comandaram as operações no terreno:
foram funcionários competentes de uma burocracia estatal, em modo de obediência cega.
A
“banalidade do mal” está, então, ao alcance de cada um de nós, a partir do
momento em que nos demitimos de questionar a realidade que se desenvolve em
nosso redor e aquilo que é exigido de nós no seio de uma sociedade. Nesse
sentido, Arendt usou várias vezes a expressão “thoughtlessness” (ausência de
pensamento; acriticismo) para se referir ao que está na origem da “banalidade
do mal” — não são pessoas diabólicas que
cumprem ordens diabólicas; para cumprir ordens, sejam elas quais forem, basta
absterem-se de pensar sobre isso.
Toca-se aqui o fenómeno do
conformismo e da obediência à autoridade. O conformismo é a tendência para
seguir as massas dominantes. A maioria dos indivíduos prefere
dizer “amén” (e fazer parte de qualquer coisa) do que afastar-se ou colocar-se
contra as ideias vigentes. É, digamos, mais confortável. A obediência à
autoridade é outra característica muito humana, conforme demonstrou Milgram nos
seus estudos, quando verificou que 65% dos indivíduos em análise seguiam
cegamente a ordem superior de executar choques elétricos de intensidade
crescente ao próximo, independentemente do que viam acontecer à sua frente.
A
lealdade burra e acrítica conduz a catástrofes, aponta Arendt, que soube bem
destacar o quão demencial foi o quadro social de massas enfeitiçadas por
um führer. Em tempos de radicalismos e novos nacionalismos, desde o Reino
Unido à América, é por demais importante lembrar isto.
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