O
egocentrismo é a característica de uma personalidade que pensa e sente que tudo
gira ao seu redor. O indivíduo egocêntrico é aquele que prioriza os seus
pensamentos, desejos e necessidades sobre os de todos os outros, incluindo,
tantas vezes, os dos próprios filhos. Ele, primeiro que todos os outros, deve
estar bem.
Assim,
o egocentrismo exacerbado dificulta a capacidade fundamental de colocarmo-nos
no lugar do outro, entrando em rota de colisão com a empatia (que é precisamente
a capacidade de perceber o que o outro está a sentir). Na presença predominante
do egocentrismo, só me percebo a mim: por exemplo, sinto que fui magoado, fui
ignorado, fui contrariado ou negligenciado, mas não me importa o que o outro
está a sentir nem reflito sobre a minha responsabilidade na situação. O
indivíduo maioritariamente egocêntrico tem muita dificuldade em descentrar-se
de si mesmo e de abdicar da sua vontade ou necessidade. Quando o faz,
normalmente, cobra. Tudo o que dá de si fica “registado” pois é com sacrifício
que o faz, considerando-se por isso em défice e colocando o outro em dívida
para com ele.
Os
peritos em egocentrismo são, por excelência, as crianças. No geral, pensam-se o
centro do mundo — têm uma dificuldade natural em entender que as coisas nem
sempre são como pensam nem funcionam à sua maneira. Depois, são as experiências
da vida que, principalmente a partir dos 3 anos, permitirão gradualmente o reconhecimento
e validação dos outros: os que são diferentes, os que brincam diferente, os que
querem coisas diferentes. Porém, é importante que as crianças tenham passado
pela fase egocêntrica; é importante serem e sentirem-se, por uns momentos, o
centro. É o que acontece quando o bebé sente o encantamento amoroso da mãe e
quando as famílias se organizam em função dos seus bebés e das suas
necessidades. Só aos poucos, à medida que estes se vão autonomizando devagarinho,
é possível ir introduzindo pequenas separações ou compassos de espera,
frustrações naturais do quotidiano que facilitam essa passagem.
Casos
há em que, por nunca terem sido o centro de nada, se tornam adultos ciosos de
ser o centro de tudo, focando-se em si porque nunca antes puderam ser verdadeiramente
importantes. Outros, inversamente, cresceram em ambientes em que esse
egocentrismo nunca foi desmontado, tendo as famílias continuado a girar sempre
em torno da criança, ou mesmo do jovem Assim, consoante as circunstâncias do
nosso crescimento, permanecem no adulto doses diferentes deste egocentrismo primordial.
Uns crescem com cada vez maior capacidade de se descentrar de si próprios,
convivendo com facilidade com a existência dos outros e dançando flexivelmente
entre todos. Outros ficarão tão focados em si mesmos que não têm espaço para as
necessidades e desejos de mais ninguém. E cheios de si, permanecem,
tristemente, sós.
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