Transformação é a palavra-chave. Na vida ou há desenvolvimento ou instala-se a decadência. O estacionamento é uma ilusão. Nas palavras de Cervantes, “A estrada é sempre melhor que a estalagem” (António Coimbra de Matos)
quarta-feira, 16 de novembro de 2016
domingo, 13 de novembro de 2016
O Que Diz o Pânico
Tudo
começa com uma sensação física de mal-estar, sintomas corporais que variam entre palpitações, tremores, sudação, vertigens,
sensação de desmaio, dificuldades respiratórias, sensação de adormecimento ou
formigueiros, dores físicas ou pontadas, medo de morrer ou de enlouquecer. Nesse
primeiro episódio, o mal-estar parece crescer descontroladamente e o susto é
grande. Às vezes, resolve-se por si só, outras vezes, o episódio termina mesmo
no hospital, para onde a pessoa corre cheia de medo e onde os técnicos de saúde
lhe comunicam, para seu espanto, que não tem nada. É "apenas" ansiedade.
Esta
é a história comum à maioria das pessoas que já vivenciaram um ataque de
pânico. Em seguida, o que acontece vulgarmente é que a pessoa passa a fugir dos
estímulos que associa a esse mal-estar: se estava no carro, pode deixar de
conduzir; se estava na escola, pode deixar de ir à escola; se estava no
estádio, pode deixar de ir à bola. Desenvolve-se uma reação fóbica. Mas a crise
pode repetir-se, noutras circunstâncias. E uma nova situação pode tornar-se um
novo estímulo fóbico: desta vez pode acontecer num elevador e a pessoa vai
deixar de andar de elevador (ou passar a andar nele com muito medo). Quando
começam a dar-se vários episódios, a vida pode ficar seriamente limitada. Nasce um medo incontrolável de estar em locais onde se
possa sofrer novos ataques de pânico e de onde a fuga possa ser difícil ou
demorada, conduzindo não só ao já mencionado evitamento fóbico dos mesmos, como
também ao isolamento social e retirada para lugares sentidos como seguros. E o
medo do medo irá “comer-nos” por dentro.
O
problema é que não podemos fugir de nós mesmos, e é dentro de nós que tudo
acontece. O problema não está no carro, nem na escola, nem no estádio de
futebol, nem no elevador — está nas nossas emoções. Tal como uma
febre, os ataques de pânico não são uma doença, são um sintoma. Indicam-nos que
alguma coisa dentro de nós está mal. O pânico surge quando as doses de ansiedade
se tornam insuportáveis, ainda que não tenhamos consciência dela. É um conflito
emocional escondido que é preciso compreender e resolver, dotando a pessoa das
ferramentas necessárias para seguir o seu caminho.
As crises de pânico não têm de ser
aguentadas estoicamente. E a medicação por si só, é insuficiente e até
contraproducente, se não for acompanhada de uma terapia pela palavra, que leve
o sujeito a olhar para dentro e a ver aquilo que está lá e não vê. O pânico é um
sintoma que fala. O pânico é, ao contrário do que se possa pensar, um sintoma
de vida. É sinal de que o sujeito está emocionalmente desperto e que precisa resolver
qualquer coisa dentro de si, embora não esteja capaz. O pânico não é para se
calar nem para se adormecer, é para se escutar com atenção e traduzir, sem
demora, o seu significado.
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