Embora
ainda se use frequentemente a expressão “não é defeito, é feitio”, a verdade é
que hoje sabemos que a personalidade não justifica tudo e, muitas vezes,
estrutura-se mesmo com “defeito”. A personalidade também “adoece”. De facto,
muitas das pessoas que conhecemos com comportamentos pouco adequados, são como
são porque o seu processo de crescimento pessoal e social foi, de certa forma,
boicotado (mesmo quando o indivíduo não dá por isso, conscientemente).
Dizemos
que um indivíduo sofre de uma perturbação da personalidade quando se encontra
um padrão estável (global e inflexível) de afectos e comportamentos que se
afastam marcadamente do que seria esperado, originando sofrimento ou incapacidade
para o próprio. São normalmente diagnosticadas na adolescência ou na idade
adulta, pois só aí se considera que já existe uma identidade formada.
A
patologia borderline (ou patologia
limite da personalidade) é uma dessas perturbações de personalidade. O termo ainda
não está suficientemente divulgado mas é um tipo de organização mental que tem
vindo a aumentar, com maior incidência no sexo feminino. O número de pessoas
com este tipo de perturbação que procuram ajuda em psicoterapia é cada vez
maior, variando na gravidade dos sintomas mas apresentando como queixa
principal a incapacidade de funcionar adequadamente no dia-a-dia e um
sentimento de vazio interno.
Um indivíduo com uma
organização de personalidade borderline apresenta
transtornos em quase todas as áreas da sua vida, principalmente nas relações
interpessoais (relações com outras pessoas). Descrevendo estas personalidades
em traços largos, encontramos pouca profundidade nos sentimentos (dificuldade
em ligar-se ao outro e em manter relações íntimas), bem como uma tendência à
desconfiança e uma atitude social pouco agradável. Verificam-se, com elevada
frequência, comportamentos de risco, consumos de drogas e álcool e, também, alterações
no comportamento sexual. Há dificuldades no controle da vontade, no planeamento
dos objectivos de vida e incapacidade para o trabalho (ou
dificuldade em encontrar a profissão certa).
Assim, e resumidamente, os
sintomas mais comuns são a incapacidade de sentir, a angústia e desamparo, falta
de limites, desrespeito pelos outros, comportamento anti-social, depressão com
sentimentos de solidão e vazio, intolerância à frustração, comportamentos automutilantes
e pensamentos suicidas, incapacidade de sentir prazer, fobias, obsessões e
compulsões, dissociações e surtos psicóticos breves.
Estas personalidades assentam em falhas muito precoces
do desenvolvimento emocional. Implicam (e ao mesmo tempo expressam) um grande
sofrimento e um grande vazio interior. Nem sempre as pessoas querem ser como
são, simplesmente, não conseguem ser de outra maneira. Felizes os que
reconhecem que algo está errado e pedem ajuda.