Costuma
dizer-se que tudo tem um princípio, um meio e um fim. Que é isto que dá sentido
às coisas, como se fosse o esqueleto que sustenta as histórias. É uma sequência
temporal que se aplica a acções concretas como comer, dormir, tomar banho ou viajar,
mas também a outras facetas mais complexas da vida como relações humanas, empregos
e projectos vários. No limite, aplica-se à nossa própria vida.
Induzidos
pelo ritmo exacto do relógio, já que o próprio dia tem princípio, meio e fim,
sentimos que há um tempo para tudo, que ele está sempre presente. Os ponteiros
correm apressados e fora do nosso controlo, marcando o início e o fim dos
acontecimentos. E assim, no corre-corre do dia-a-dia, podemos facilmente entrar
em piloto automático, fugindo à reflexão e perdendo oportunidades de virar à
esquerda ou à direita em vez de seguir sempre em frente. É muito bom ter um
foco e caminhar em direcção a ele (sem objectivos a nossa existência perderia o
sentido) mas igualmente importante será não perder de vista o que se passa nas
redondezas, tudo aquilo que pode estar por perto e ser ainda melhor.
De
facto, cada dia o sol nasce e cada dia o sol se põe, sabendo nós, de antemão,
que no dia seguinte o sol regressa sempre, trazendo consigo mais uma rodada de
horas para nos oferecer. O próprio dia parece ensinar-nos também que tudo tem
um princípio, um meio e um fim, mas olhando com mais atenção, percebemos que o
que ele verdadeiramente nos ensina é que todos os dias podemos recomeçar. Os
recomeços são momentos de oportunidade que podem surgir num qualquer momento de
qualquer história e essa é a sua magia. A qualquer momento podemos reescrever
tudo, podemos encontrar outros caminhos, outros sentidos e, começar de novo.
Os
recomeços podem ser motivo de alegria ou de medo, mas serão sempre
emocionantes. Porque o recomeço implica sempre alguma mudança, por mais pequena
que seja. E a mudança faz-nos sentir vivos, embora sejamos frequentemente
aversos a ela, persistindo no hábito e naquilo que nos é familiar. Chamamos-lhe
a zona de conforto.
Face
a tudo o que se passa em nosso redor, importa perceber que momentos de crise
são também momentos de recomeço. Momentos de pensar novas possibilidades e
construir algo diferente, mais apropriado ou proveitoso. Mário Quintana dizia que
“a vida jamais continua, ela recomeça”. Quantos recomeços reconhecemos na nossa
história? Eventualmente, nem todos os recomeços terão sido proveitosos, mas a
boa notícia é que a possibilidade de recomeçar nunca acaba, podemos sempre
recomeçar mais uma vez.
Sem comentários:
Enviar um comentário