Há
três conceitos que por vezes se confundem: ciúme, cobiça e inveja. Mas ciúme, é não
querer perder o que se tem, cobiça é querer o que o outro tem, e inveja é não
querer que o outro tenha. Esta deriva do latim invidia, que quer dizer “olhar com malícia”, o que explica a crença popular do “mau-olhado”. Traduz-se como: “eu até posso nem ter nada desde que tu também não tenhas.”
Dos três, talvez a inveja seja o mais
difícil de admitir. É difícil de
admitir porque remete para um desejo que não tem directamente relação
comigo ou com algo eu gostaria de manter (ciúme) ou ganhar (cobiça), mas sim com
aquilo que eu desejo que o outro perca. Talvez a inveja seja profundamente difícil de
admitir porque a maioria tem alguma vergonha de reconhecer que retira prazer da
desgraça alheia. Além disso, a
cultura judaico-cristã penaliza severamente a inveja. Considera-a um pecado
capital, embora seja talvez o único pecado que na realidade é totalmente inútil,
ao contrário da gula ou da luxúria. Com a gula e com a luxúria eu tenho algum
tipo de prazer. Com a inveja, pelo contrário, apesar de poder sentir um gozo imediato
perante as perdas dos outros, na maioria das vezes, isto é, no dia-a-dia, sinto
ódio das suas vitórias. Não só das conquistas alheias se tem inveja pois, por vezes, a simples paz de espírito ou serenidade de alguém
pode ser motivo de inveja, mesmo que não possua nada mais que isso.
Porque se inveja,
então? Há quem nem o saiba, porque a inveja pode estar mais
ou menos consciente (creio que muitas pessoas escondem habilidosamente de si
mesmas que invejam os outros), mas é alimentada por sentimentos de
inferioridade e insegurança, sensação de abandono ou injustiça, sensação de incapacidade,
vazio interior, frustração, como se fossem afluentes de um grande rio composto
de egoísmo, raiva e ódio, em diferentes medidas. Por vezes, é tão dissimulada
ou mesmo inconsciente que nem é expressada de forma directa ou evidente,
contudo, sentimos um mal-estar em certa presença, um olhar estranho ou um tom de voz incoerente. Também aparece sob a forma de bisbilhotices, críticas (normalmente destrutivas) ou conselhos
traiçoeiros.
Quem inveja, sofre, mesmo que não o saiba ainda. É uma espécie de
amargura invasiva, qual veneno que corre nas veias, e possui um carácter
destrutivo, não para os outros mas principalmente para o próprio, que azeda,
mirra e definha. Admitir a inveja será uma confissão de inferioridade pois o mecanismo responsável é a comparação
sistemática entre a pessoa e os outros, comparação, essa, em que a pessoa se
sente sempre em plano inferior. No fundo, quanto menos me basto a mim próprio,
mais olho para os outros. Quanto menos satisfeito estou com a minha vida, mais
observo a vida dos outros. Logo, quanto maior for o vazio, maior a inveja e por
isso o melhor remédio contra ela é ter uma vida cheia de nós próprios,
construir um destino que nos preencha e sermos plenos de amor-próprio, pois só
quem se ama a si mesmo poderá amar o próximo.
Sem comentários:
Enviar um comentário