Ainda hoje muitos estudiosos se questionam acerca da origem da
agressividade: será inata (um instinto ou pulsão) ou adquirida (por frustração
ou trauma)? Por outras palavras, será genética e constitucional ou será
resultado de experiências muito precoces? O que é inquestionável é que a
incidência da agressividade nos seres humanos varia amplamente de indivíduo
para indivíduo.
Sabemos desde muito cedo demonstrar o nosso desagrado. Pedir e
reclamar são acções que exigem um “mínimo” de agressividade. A criança pode
demonstrar assim algumas reacções de raiva quando não obtém o que pretende
(gritos, choro, agitação, morder) pois a raiva é o afecto básico subjacente à
agressividade. Estas reacções directamente agressivas vão normalmente cessando
à medida que a criança é capaz de se exprimir pela linguagem. Recorrendo às
palavras, podemos expressar as emoções sem ter como único recurso a explosão
corporal, na forma de gritos e agitação motora, sendo estes, recursos mais
primários.
Contudo, algumas crianças continuam a manifestar-se mais
explosivas, agredindo colegas, adultos, ou partindo coisas. São crianças ditas
impulsivas que, face à mínima contrariedade, se enfurecem violentamente. Por
vezes, esta atitude é selectiva, acontecendo apenas com uma determinada pessoa,
geralmente com adultos incapazes de acolher, conter e dar significado à zanga,
tudo isto, de forma madura e adequada. Não se responde a uma birra com outra
birra. Por outro lado, este tipo de zanga que mora à flor da pele, geralmente
remete para duas situações opostas: ou frustração a mais, ou frustração a
menos. Ou seja, ou há muita falta de afecto e disponibilidade para a criança
ou, por vezes, demasiada permissividade, reforçando a omnipotência típica das
crianças pela incapacidade de se lhes colocar os "tão falados"
limites (pouca assertividade e dificuldade em dizer não) ‒ muitas vezes
já por receio de uma reacção “complicada”. É importante a existência de uma
figura de autoridade. Tradicionalmente, este papel é desempenhado pelo pai
que, simbolicamente, representa a “lei” mas, muitas vezes, pode ser a mãe capaz
de desempenhar igualmente bem a função. Ou seja, na estruturação psicológica
das crianças, terá que haver pelo menos uma figura parental que introduza e
represente as normas (com algum acordo da outra figura parental), bem como a
gradual aceitação das frustrações e contrariedades inerentes ao
viver. Percebe-se que este comportamento também se encontra com frequência
em famílias onde o entendimento entre os pais (ou figuras cuidadoras) é frágil
ou artificial.
Em escalada e não percebida, esta zanga permanente ou "também
chamada" intolerância à frustração (seja por falta ou excesso dela)
adquire, em algumas crianças, proporções inquietantes, culminando por vezes em
comportamentos de risco na chegada à adolescência: destruição de objectos,
ameaças permanentes, fugas de casa, etc.
É de realçar que do outro lado da moeda há a problemática da
inibição grave da agressividade. Quando encontramos uma criança que evita por
completo qualquer situação de carácter agressivo, não protestando e nunca se
enfurecendo, é momento de questionar. Crianças vulgarmente submissas e aparentemente
muito ajuizadas estarão provavelmente a reprimir as suas emoções mais
agressivas, o que não é facilitador de um desenvolvimento saudável e
equilibrado. Desde a leve inibição à total incapacidade em defender-se, o
“lugar da vítima” começa a definir-se cedo, podendo evoluir para modalidades de
funcionamento relacional em que aceitar tudo o que acontece sem nunca se
zangar, reclamar ou reivindicar, se torna um padrão de relação com os outros,
originando sofrimento psicológico.
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